Ontem no jantar, apenas dous dias depois das eleiçons estatais, PSOE e Unidos-Podemos encenavam um acordo de governo. Se calhar, quem seguisse a telenovela de acordos e trasacordos que desenvolvérom este verao poda surprender-se da celeridade do pacto. Porém, quem ache que a repetiçom se produziu para que o piar suave do regime espanhol tentasse esquivar a atadura aos votos indepentistas para formar governo, nom tanto. Afinal, nom dérom.

Na mesma tarde do acordo, a CUP anunciou que nom o vai apoiar e assinalou claramente o seu significado: estamos diante da segunda Transición. Enquanto as fronteiras co Estado francês se cortam em Catalunha e Euska Herria, Sánchez e Iglesias apertam-se como Suárez e Carrillo naquela reuniom de Pozuelo de Alarcón. A resistência guerrilheira dos quarenta e o 15-M imolados no altar da unidade de Espanha para reformar e continuar a legitimidade nada co golpe de 1936. A “esquerda espanhola” ainda mais oxímoro e a Catalunha ingovernável que acelera os “milagres”. Qualquer análise séria conclui que aquilo, como dizemos no Úmia, nom fica assim que incha e que Espanha vai ter que sentar a falar.

A suba explosiva de VOX papando Ciudadanos obedece precisamente a esse cenário. Cumpria-lhes um contrapeso à hora de confrontar umha negociaçom, um póli mau, um terror que coarte. O discurso do medo ao fascismo foi assumido por todo o abano da esquerda estatal e soberanista. Contodo, só se trata dumha radicalizaçom do discurso da direita espanhola tradicional amparada por umha operaçom mediática do statu quo do regime. Ciudadanos já cumpriu o seu papel de conter a subida de Podemos no seu momento com aquela renovaçom neoliberal nacionalista, agora toca espanholismo fascista frente a Catalunha. Nom é novo, levam-no predicando Jiménez Losantos e César Vidal anos e anos, mas sempre se aglutinou no PP. Agora exprime-se no Instagram e a versom tecno do Cara el sol é do mais escuitado no Spotify. Já ora que desde umha cuidada campanha suja de marketing calcada da de Trump. Abofé que isto nom quer dizer que deixemos de combater o envalentonamento fascista nas ruas. Todo o contrário, porém, cumpre sermos conscientes de que serve ao propósito de situar o PSOE na centralidade, no razoável. Procura legitimá-lo para renovar o regime borbónico frente à ameaça soberanista. De facto, se olharmos os dados do voto na “direita” no seu conjunto, certificamos que mesmo padece um retrocesso quantitativo. De 10,8 milhons de votos em 2011 passa a 10,2 milhons em Novembro de 2019. Mália todo, a expansom do discurso fascista entre a mocidade, embora sob objectivos eleitoralistas, deve preocupar-nos e fazer-nos cavilar nas nossas próprias carências e virtudes. Virtudes, sim, ao cabo, Galiza segue a ser um dos territórios sem representaçom de VOX. Se quadra, fora léria eleitoralista, mais polo caracter “galeguista” da direita espanhola aqui que pola habelência da dirigência nacionalista institucional. Mas assim foi e assim serve para arrufar-nos a identidade, que falha fai.

A volta do BNG ao parlamento espanhol constitui umha boa nova quanto a visibilidade da questom nacional galega na nossa própria sociedade e no cenário estatal. Porém, com En Marea e Anova desfeitas e ainda empregando o medo à entrada de Vox pola Corunha, ficou a 60 mil votos dos que obtivera em 2011. Imediatamente depois de se conhecer os resultados, a campanha para visualizar um tripartido autonómico intensificou-se. Pérez Lema nom se cansava de apontar essa possibilidade no próprio programa eleitoral da TVG. Compromiso por Galicia, agora sócio do Bloco, apropriava-se ao dia seguinte da representaçom nacionalista atribuindo-lha sem rubor ao “efecto compromiso”. O discurso “independentista” que o BNG empregou depois de Ámio contra os seus rivais de Anova e Marea seica tem as horas contadas. Coa transposiçom dos resultados das gerais às autonómicas, Feijoo esboroa-se e o recendo a conselharias e direçons gerais arricha apparátchiks, autonomistas e trepas outsiders. No rebúmbio, também Luis Villares se somou ao espetáculo arrogando-se parte dos votos nacionalistas de Néstor Rego, quiçá coa esperança dumha aliança futura que o situe nessa Xunta sociata. Parece que a operaçom de moderaçom e construçom dum polo galeguista mol nucleado polo BNG está em andamento.

Para além da nossa visom rupturista e independentista, objectivamente, a nível estratégico, para o BNG isso constitui um suicídio. Todo pacto em inferioridade co PSOE acabou erodindo e até varrendo o Bloco. O bipartido consta como o exemplo mais visível, mas amoream-se a dúcias os casos municipais das últimas duas décadas. Se da primeira ainda nom se repugérom, ir na procura da segunda a cara descoberta nom se enxerga como o mais inteligente. Por riba, a situaçom de maior debilidade está assegurada. Governando em Madrid a coaligaçom PSOE-Unidos Podemos com todo o seu cortejo mediático, subsumir-se na sua delegaçom autonómica como anédota regionalista é inequivocamente desaconselhável. Aliás, deixaria-lhe o campo à direita “galeguista” do PP para explorar a oposiçom em chave regionalista ao governo de Madrid. Todo isto no panorama de segunda Transición que apontávamos ao começo em que o novo governo estatal vai representar a centralidade do regime frente a Catalunha.

Acordo eleitoral entre Compromiso por Galicia e o BNG para as passadas eleiçons estatais

Que seria o desejável desde umha óptica soberanista na tesitura que se aproxima daquela? Pois umha regaleguizaçom do discurso de ruptura impulsada por umha plataforma eleitoral amplísima co BNG como celme. Um espaço institucional que permitisse fazer oposiçom ao regime e reunisse todos os folgos possíveis para o iminente cenário de recomposiçom no Estado. E sim, pode-se apoiar um governo alternativo ao PP na Xunta sem entrar nele, avonda com votá-lo. Porém, resulta mui duvidoso que umha organizaçom escorada polo peso do funcionariado cinquentom e dos liberados dependentes resista a tentaçom de Fausto. Endebém, a fábula do escorpiom de Esopo fai profetizar a repetiçom da história como farsa. Por isso urge mais que nunca e edificaçom de espaços havitáveis para um independentismo renovado que, com maturidade e contundência, contrabalance sorrindo, no discurso e nas ruas, o provável devalo autonomista. Entramos em aceleraçom histórica, estejamos à altura.