Depois dos últimos acontecimentos políticos gostava de fazer algumhas observaçons.

Primeiro. O célebre aforismo de Bertolt Brecht cobrou o domingo mais sentido. Se olhamos os resultados dos três partidos da direita espanhola nestas últimas eleiçons vemos que o PP aumentou quatro pontos (do 17 passou ao 21 %), Vox subiu cinco pontos (passou do 10 % a um 15 %) e Ciudadanos perdeu os nove pontos que ganhárom os outros dous (caiu do 16 a um 7 %). Os votos que ganhou Vox, quase um milhom, até alcançar a cifra de 3,6 milhons, procedem maioritariamente de Ciudadanos, pois é o único partido que perdeu tal quantidade de apoio. Ciudadanos é um partido que se define a si mesmo como “liberal progressista, democrata, aconfessional e constitucionalista”. É um partido europeísta que, segundo se nos queria vender, tinha um programa moderado, cabal e sensato. Era, diziam, o partido espanhol que melhor representava o laissez-faire económico e que melhor geriria as finanças do Estado. Sendo assim, impressiona ver como um milhom de liberais se transformam da noite para a manha em filofascistas.

Os liberais pequeno-burgueses som pessoas assustadiças, que tenhem medo a perder os seus privilégios. Tenhem medo a perder o seu bem-estar e as suas vantagens em favor de outra classe, quem passa a ser automaticamente o inimigo. Mas também tenhem medo a qualquer cousa que questione o sistema de valores no que se sustenta a sua seguridade. Aqui é onde entra o fascismo, que está versado em criar inimigos contra os que personalizar todos os males da sociedade. Na conjuntura atual, os principais inimigos contra os que há que luitar som os migrantes e os independentistas que ameaçam a economia e a essência da naçom espanhola. Os liberais assustados facilmente se transformam em filofascistas porquanto o medo irracional que padecem provoca que tornem violentos e autoritários.

Segundo. Vi dous tipos de reaçons mui diferentes ante os resultados eleitorais. Por um lado havia umha parte que reagia com alegria e mesmo com euforia porque o nacionalismo galego recuperava representaçom no Congresso espanhol e porque Vox non obtinha nenhum representante por Galiza. A entrada no Bloque no Parlamento é sem dúvida, umha boa nova, sobre todo valorando que conseguiu 120 mil votos enquanto o aparato mediático ignorava deliberadamente o nacionalismo galego. É positivo porque, além de que permitirá visibilizar o País e a sua problemática, também poderia facilitar o avanço social de posiçons abertamente independentistas. Mas nom há que sobre-estimar a capacidade de um único representante num parlamento alheio.

Outro motivo da euforia era que VOX nom conseguira representante na Galiza, feito que só aconteceu também em Euskal Herria e em La Rioja. A este feito, as pessoas que tinham a atitude contrária, extremadamente alarmista e catastrófica, argumentavam que a suba da ultradireita também afetou a Galiza, e que o único que provocou que nom conseguissem assento no nosso País é o arraigo que tem aqui o PP. Argumentavam que o povo galego é de direitas. Isto último é um mito que se nos tem asignado, mas é falso porquanto se contabilizamos os apoios dos três partidos da direita em cada regiom (e no caso de havé-los, dos partidos de dereita próprios dessa regiom), Galiza tem umha percentagem relativamente baixa. Nestas eleiçons foi do 44 %, percentagem que é superada em praticamente toda a geografia espanhola, ficando apenas Euskal Herria e Catalunya com percentagens inferiores.

Terceiro. E mais importante. Nom há que perder a perspectiva, pois o fascismo nunca abandonou Espanha, nunca deixou de estar nas próprias entranhas do Estado. Lembremos que foi o partido socialista quem criou a maior infâmia do regime do 78, os GAL. Foi também com um governo socialista, e com um juiz progressista como protagonista, que se ilegalizárom partidos e organizaçons políticas, se encarcerárom dirigentes políticos e se clausurarom jornais por questons ideológicas na década de 90. É agora, com o PSOE outra vez no poder, e com Marlaska como ministro de Interior, quando se condenou aos líderes cataláns a 100 anos de prisom por organizar um referendo. E foi com este governo, quando solicitárom para doze militantes independentistas de Causa Galiza e Ceivar umhas penas que somam 102 anos de prisom, além de multas económicas e a petiçom da legalizaçom de ambas as organizaçons.