Depois de estar praticamente ausente durante toda a luita contra a ditadura, o PSOE reemergeu na Reforma política com enormes soportes económicos internacionais, um programa remoçado -do que desaparecêrom o marxismo e o direito de autodeterminaçom- e novas caras que prometiam o futuro progressista para Espanha. Duas tendências contraditórias elevárom ao sucesso a este produto da engenharia política da democracia liberal.
Primeiro, umha arreigada consciência de esquerdas que, atrofiada por corenta anos de ditadura e fortes campanhas de marketing, fijo associar o novo felipismo com as ideias socialistas; e segundo, umha massa enorme de arribistas que sabiam que a democracia era um fenomenal negócio, sempre que se soubesse jogar habilmente às palavras equívocas e ao ocultamento de intençons. Pedro Sánchez, cara mais actual do nacionalismo espanhol, continua esta tradiçom.
Razom de Estado ao mando
Como continuador que é da lógica da I Restauraçom, o PSOE sabe que os planos oligárquicos desenvolvem-se com maior soltura num bipartidismo estável. O PSOE continua assi a tradiçom ‘progressista’ dos liberais de Sagasta, que fingiam duro enfrentamento com os conservadores de Cánovas quando na realidade tinham acoutado o terreno de jogo e as suas regras trampulheiras: caciquismo, sucessom pactada e combate à esquerda real. Por outras palavras, o PSOE sabe-se peça fulcral do Reino de Espanha.
Nas décadas de 80 e 90, a razom de Estado exigia a desertizaçom industrial de várias zonas do Estado, entre elas as comarcas galegas de Trasancos ou Vigo. O PSOE aplicou com ferocidade o plano, levando a cabo umhas políticas que, de serem aplicadas pola direita explícita, motivariam enorme resposta popular. Na mesma época histórica, o Estado exigia o fim da ambiguidade francesa ante as reivindicaçons bascas: o terrorismo parapolicial, camuflado como GAL, foi a via perfeita para forçar a implicaçom francesa na luita contra ETA.
Em 2019, e se umha mudança eleitoral nom inverte os planos, ao PSOE toca-lhe fazer frente ao reto mais grande que enfrenta o Reino nos últimos 40 anos: o independentismo catalám. As medidas coercitivas aplicadas, que em nada se diferenciam das apregoadas polo PP, e nom incluem só as formas mais aparatosas de castigo físico. A ministra Carmen Calvo declarava hoje mesmo que pretendia blocar as possibilidades de a Generalitat declarar umha República catalá no mundo virtual.
A coaçom acompanha-se de marketing, dum plano de branqueamento da imagem de Espanha no exterior, seriamente danada pola brutalidade policial. Na semana passada, transcendeu que o embaixador do Estado nos USA, Santiago Cabanas Ansorena, pagara 13400 euros por umha campanha de lavado de cara à empresa Glover Park Group para dar legitimidade ao projecto espanhol a olhos dos estadounidenses.
O necessário apoio da esquerda social
Resulta porém suprendente que a efectivaçom destes planos se faga possível com o apoio dumha parte da esquerda sociológica espanhola. Agitando o medo à ultradireita de Vox nos seus meios afins, o PSOE é quem de mitigar temporalmente o desprestígio de toda a casta política tradicional para mobilizar eleitorado. O medo ao neofranquismo agitou-se machaconamente nos meios para favorecer esta tendência que deu um triunfo, embora insuficiente, ao Pedro Sánchez das eleiçons espanholas do passado maio.
Fazer o impossível: contentar a todos
Realizando um aparente impossível, os desenhadores de campanha do PSOE ainda tentam um exercício mais difícil: à vez que lançam mensagens sociais ‘de esquerda’, ou quanto menos nom abertamente neoliberais, pretendem aproveitar a histéria nacionalista dos últimos tempos para somar o maior número de apoios possíveis do patrioteirismo espanhol. No seu discurso de convocatória eleitoral, Pedro Sánchez agitou a palavra Espanha 46 vezes; o histórico dirigente do PSOE, Paco Vázquez, convocou umha mirrada tropa de unionistas na Corunha na passada semana, proferindo proclamas indistinguíveis do fascismo clássico. Como recordava o professor de Antropologia da Universidade de Barcelona Manuel Delgado em Vilaweb, ‘o PSOE é herdeiro histórico da Falange. Pensar que o nacionalismo espanhol mais desmessurado, fanático, radical, era o do PP ou Ciudadanos, nom é verdade.’
A própria imprensa internacional observa com preocupaçom esta tendência ‘socialista’, o Foreign Police afirmava na passada semana que os réditos eleitorais que procura Sánchez com a mao dura na Catalunha podiam ajudar a ganhar-lhe as eleiçons, mas nom “a que Espanha se sentisse mais unida”.
Esperança reformista
Umha outra das baças jogadas polo PSOE está no mundo das diversas esquerdas reformistas, nomeadamente aquelas que de partida assumem impossível alcançar o poder político com as suas próprias forças. Umha vez que o chamado ‘espaço rupturista’ se revelou como umha proposta para tirar as luitas da rua e conduzi-las ao espectáculo institucional, o pacto com o PSOE figura como máximo horizonte utópico da nova geraçom de políticos institucionais. ‘Temos que dar um empurrom ao PSOE para conseguirmos um governo de progresso’, manifestou há uns dias a dirigente de Más País Rita Maestre. Idêntica perspectiva mantenhem os seus ex-companheiros de Unidas Podemos.
Na Galiza, o nacionalismo institucional opera com idêntica lógica. Fora dos discursos mais ou menos rituais em favor da soberania, adiada sine die sem maiores concreçons, a esperança de ‘governos progressistas’ contra o PP é a mais grande motivaçom real na Junta ou em Espanha. A ilusom de pressionar o PSOE com um punhado de deputados e deputadas a prol dum Estado federal nasceu há décadas. Hoje revela-se quase como um objectivo utópico, desde que a tendência estatal, e do próprio PSOE, é para a recentralizaçom.
O jogo do trileiro
A direita extrema espanhola é um inimigo formidável pola sua negativa a qualquer diálogo e o seu gosto pola utilizaçom da força e a censura; a estes traços, a direita liberal soma outros igualmente ameaçantes: a capacidade de dizer umha cousa e a contrária, a sua habilidade para seduzir nacionalistas espanhóis e nacionalistas galegos a um tempo, e sua perversom do sentido das palavras, e o seu uso do marketing mais retorcido. A causa galega enfrenta neofranquistas e trileiros.