Em vésperas do referendo de autodeterminaçom da Catalunha, várias vilas espanholas despediam os contingentes deslocados ao principado com o berro de ‘a por eles’. Nestes dias de revolta, os discursos nas redes sociais tenhem um tom predominantemente exaltado e por vezes violento: ‘estamos em zona de guerra’, diz um agente da polícia de choque em Barcelona; ‘o Quijote volta a cabalgar, e Espanha ao seu lado’, diz umha jornalista ultra em alusom a um conhecido líder extremista; ‘começam as detençons de independentistas; agora venhem os prantos’, adverte um mando policial. O nacionalismo espanhol quer ganhar espaço, e pretende fazê-lo de maneira violenta.
Impossível falar
Desde que nasce com a perda das colónias, o nacionalismo espanhol carrega com um lastro importante de complexo; sentimento de inferioridade face a Europa tecnologicamente avançada e sem graves problemas nacionais, e sentimento de inferioridade face algumhas das periférias, particularmente a catalá. O povo que primeiro emendava a soberania espanhola era umha naçom mais industrial, mais culta, mais cívica e mais dinámica que o centro político. Do complexo é fácil esvarar à frustraçom, e da frustraçom à violência.
Desde que nasce com a perda das colónias, o nacionalismo espanhol carrega com um lastro importante de complexo; sentimento de inferioridade face a Europa tecnologicamente avançada e sem graves problemas nacionais, e sentimento de inferioridade face algumhas das periférias, particularmente a catalá.
Para todo o nacionalismo espanhol -à direita e à esquerda- na causa catalá há sempre algo de maquiavelismo e engano. Azaña, renegando da sua aceitaçom inicial do catalanismo, e refugando mesmo a via autonómica, dizia: ‘um instinto de rapacidade egoísta sublevou-se, apanhando o que tinha a mao (…) provincianismo fátuo, ignoráncia, frivolidade da mente espanhola, sem excluir nalguns casos doblez, cobiça, deslealdade, covarde altaneria diante do Estado inerme, inconsciência, traiçom’. Oitenta anos mais tarde, o diário de interesses coloniais La Voz de Galicia repete, por boca dum dos seus vozeiros, o mesmo argumentário: ‘nom serve o diálogo. Falando entende-se a gente quando quem o fam se comunicam entre si, quando do diálogo pode nascer um espaço comum para o acordo. Questons ambas que nom se dam’. Portanto, nom é possível oferta política nenhuma: ‘o grau de centralizaçom da Catalunha é tam extraordinário que pouco cabe conceder-lhe que nom tenha transferido’.
Entusiasmo nacionalista e coerçom
Se o diálogo vira impossível, a ninguém se escapa qual é a receita estatal: coerçom. Que a forma seja a violência física, através da polícia de choque, ou o bloqueio institucional-judicial, através da apisonadora das leis, pouco importa. Com danos ao corpo ou sem eles, a intençom é impossibilitar o exercício dum projecto político.
Segundo Rafael Núñez Huesca, assessor da presidenta da comunidade de Madrid, um primeiro passo está dado. Nem se planteja o diálogo, porque a identidade espanhola está forte, exultante, eufórica. ‘Até o presidente Pedro Sánchez utilizou a palavra ‘Espanha’ 46 vezes no seu anúncio de campanha eleitoral’, afirma Núñez. E nuns tempos nos que a própria esquerda equidistante de Íñigo Errejón chamou a agitar a bandeira monárquica como ‘emblema progressista’. O momento é bom, segundo os nacionalistas, porque o Estado por fim conseguiu ‘superar a incapacidade para normalizar os seus símbolos e desdobrar um relato nacional que actuara como coluna do Estado’. Fijo-o a partir do movimento arredista catalám, que dá, segundo Núñez Huesca, ‘novo prestígio à ideia de Espanha’. Recuperando a ideia falangista joseantoniana, o PP socializa já o seguinte lema: ‘Direita? Esquerda? Espanha!’ nuns tempos nos que a própria esquerda equidistante de Íñigo Errejón chamou a agitar a bandeira monárquica como ‘emblema progressista’.
Som uns tempos nos que a própria esquerda equidistante de Íñigo Errejón chamou a agitar a bandeira monárquica como ‘emblema progressista’
Um dos intelectuais mais servis do panorama autonómico, Barreiro Rivas, congratulou-se de que existia um último e definitivo ponto de apoio para o Estado: a guarda civil. Ante o que chama ‘demissom do Estado’ e ‘incapacidade dos políticos’, a polícia militar ‘representa o primeiro freo efectivo a umha inércia impulsionada polo independentismo, tolerada polo Estado, e exercida com evidente desprezo (…) cujo objectivo era pôr de manifesto a ausência do Estado dos territórios governados polo nacionalismo. Entendemos a volta à guarda civil como o símbolo da unidade e a fortaleza que quigérom destruir.’
‘Alimanhas’ e ‘tripas’: o ódio à vista
Nas colunas de grande tiragem está o discurso comedido e elegante dos intelectuais. Mais abaixo, no espaço da tropa, aparece a verdadeira intençom deste nacionalismo. ‘Marlaska dera o visto bom a que 300 guardas civis se incorporaram em Barcelona a combater as alimanhas’, diz umha rede social policial, em alusom às multitudes catalás em revolta. E poucas semanas antes de estoupar a rebeliom, dous guardas civis orgulhavam-se no digital ‘El Español’ da sua trajectória no combate ao independentismo, neste caso o basco. Confessavam-se responsáveis da execuçom extra-judicial dos militantes Iñaki Ormaetxea, Patxi Itziar e Jokin Leunda. Faziam-no com estas palavras: ‘tivem o prazer de cuspir às tripas dos etarras. Esses nunca os vai levar Pedro Sánchez à sua morada. Nom vam ter nem vermes. Fôrom vilmente baleados’.
Tais discursos nom som nunca judicializados nem considerados incitaçom à violência. Tenhem, porém, um efeito social, pois normalizam o discurso da perseguiçom e da guerra.
Alerta na Galiza
Na passada semana, um bombeiro galego foi agredido em Madrid por ultras da direita. Caminhava polas ruas da cidade portando a estreleira, ao vir dumha reivindicaçom laboral. Trata-se dum pequeno exemplo do que poderia virar norma se nom há decisom de combate firme.
Ante a crise catalá, o nacionalismo institucional galego decidiu pôr-se de perfil, na sua tradiçom histórica de inibiçom nos momentos históricos chave. Concentrado no cálculo de votos, recunca no discurso regionalista anacrónico de ‘mais atençom para a Galiza’ em forma de infraestruturas e orçamentos, e minimizando todo o possível a questom da soberania. Ante a sua parálise mobilizadora, várias iniciativas de base estám a ferver para plantar cara ao rearme nacionalista espanhol. Nesta quinta e sexta feira, as Coordinadoras Antifascistas de Vigo e Corunha sairám à rua contra a ultradireita e pola Catalunha. Em Ourense, umha assembleia aberta terá lugar na quinta a prol do direito a decidir e em solidariedade com o povo catalám.