Umha procura no buscador mais célebre do mundo de dous nomes de mulheres dá um resultado concluinte: tecleando o nome ‘Berta Cáceres’ em google, umha pessoa topa quase três milhons de entradas; se a procura é do nome ‘Greta Thunberg’, o buscador dá umha cifra de oitenta e oito milhons. A distáncia quantitativa ilustra umha diferença qualitativa. Como a mídia mais poderosa minimiza o ecologismo das classes populares, para sobredimensionar a exigência empresarial de ‘capitalismo verde’, secundada massivamente pola pequena burguesia occidental.

Berta Cáceres foi umha mulher hondurenha que ganhou merecida fama polo seu envolvimento militante desde primeiros dos anos 90, quando era apenas umha moça. A sua morte violenta a maos de sicários empresariais deu dimensom épica e trágica à figura. Nada em La Esperanza e de raiz indígena, fundou o Conselho Popular de Organizaçons Indígenas de Honduras. Ela própria era filha de activista e estudou magistério. Forjou-se no movimento estudantil e, no sucessivo, soubo dirigir com talento umha uniom muito produtiva: a dos interesses das comunidades locais, mormente nativas, ameaçadas por grandes infraestruturas industriais, e o interesse universal pola conservaçom da natureza.

Debutou em conflitos contra a tala ilegal, e fijo-o num país onde a violência parapolicial contra dissidentes é moeda comum. A militáncia legal e pacífica pode supor nom só cadeia, como no Reino de Espanha, senom também morte. O máximo êxito popular do movimento em que se implicou foi a luita contra umha mega-barragem no rio Gualcarque. As comunidades locais erguêrom-se em pé de guerra contra DESA (a companhia estatal de energia eléctrica de Honduras), que foi secundada por importantes grupos capitalistas chineses, europeus e norteamericanos. O Banco Central Americano para a Integraçom, Netherland Development ou Finance Institution fôrom alguns dos gigantes que defrontou o movimento popular, que criticava a nula consideraçom do poder económico polo ponto de vista vizinhal.

Berta Cáceres. Imagem:npr.org

A agressividade empresarial e política foi tal que motivou a alarma de instituiçons muito variadas. Desde 2009, o nome de Berta aparecera em listas negras da oligarquia, e ela própria obtivera escolta. A activista acusara políticos norteamericanos, particularmente Hillary Clinton, de estar por trás do golpe pró-imperialista de há umha década. Mesmo entidades como Amnistia Internacional suscreveram as acusaçons de Cáceres quanto a vulneraçom de direitos contra povos e ambientalistas em Honduras.

Assassinato

Berta morreu baleada em março de 2016, dando prova, tristemente, do valor das suas palavras: ‘eles temem-nos porque nom os tememos’. O mesmo sicário que a assassinou deixou gravemente ferido o ecologista mexicano Gustavo Castro Soto, que puido sobreviver fingindo que estava morto trás receber vários impactos.

Na actualidade, há até oito pessoas presas responsabilizadas pola morte da activista. Um deles é o ex-membro da inteligência militar Roberto Daniel Castillo Mejía. Fai parte dum exército que recebe formaçom e assessoramento em Fort Beginning (Georgia), de mao de mandos que som continuadores da tristemente célebre Escola das Américas, responsabilizada por sufocar o movimento popular sudamericano nas dećadas de 60 e 70. Apesar do avanço do processo contra os alegados assassinos, o Estado ainda nom chegou a apontar as mais altas reponsabilidades. O juízo fpoi paralisado pola família de Berta no passado ano por ‘irregularidades’, e reiniciou-se no passado setembro. A filha da militante, Bertha Zúñiga, manifestou que ‘os assassinos recebêrom ordes, apoio logístico e logo dinheiro de actuais e antigos gerentes de DESA e pessoal militar activo.’

Chico Mendes e a classe obreira ecologista

Berta Cáceres procede umha longa tradiçom. O militante Chico Mendes dixera na década de 80 que ‘o ecologismo que nom se preocupa com os problemas sociais é apenas jardinagem’. A sua vida testemunha esta fusom indestrutível entre interesses das trabalhadoras e a terra, tam difícil de estabelecer no mundo opulento. Mendes, na realidade chamado Francisco Alves Mendes Filho, era um seringueiro nado em Xapuri, no Brasil. Começou os seus dias extrazendo borracha dos seringueiros, a árvore que permite a fabricaçom do latex. Criou-se num ambiente de analfabetismo, tirania patronal e miséria, partilhando morada com dezasseis irmaos. Aprendeu a ler aos 18 anos decifrando facturas e curtes de imprensa. A partir de entom, obssesionou-se com o ensino e a organizaçom dos trabalhadores.

Mural em recordo de Chico Mendes. Imagem: cifor.org

Exerceu de docente na comunidade, formou a Uniom de Trabalhadores Rurais e a Uniom de Siringueiros de Xapuri. Os siringueiros eram dos estratos mais baixos do proletariado do Brasil, e os latifundiários do gado livravam batalha por botá-los das terras. Mendes defendeu os direitos da siringa mas, ao mesmo tempo, comprendeu que o futuro do trabalho rural no Brasil passava pola plurifuncionalidade, e teorizou, com companheiras e companheiros, a necessidade de combinar a exploraçom de borrachas com a froita, o azeite ou as nozes.

A trajectória de Mendes tem certos paralelismos com a de Cáceres, e também o seu final violento. Foi tiroteado mortalmente em 1998 por Darci Alves, o filho do terratenente Daryl Alves, que defendiam o direito a usufrutuarem em exclusiva a terra para o gado.

Cáceres e Mendes som dous nomes que virárom símbolos, encarnando os centos de pessoas que, ao cabo dos anos, pagam com a vida a sua coerência em favor de formas de vida que encaixam nos ciclos naturais. Apenas no ano 2017, 57 ambientalistas fôrom assassinados no Brasil e 24 na Colómbia. Vários países americanos engrossam também a estatística sinistra, que na imprensa europeia merece muitos cabeçalhos.

A Galiza, muito além de Greta Thunberg

Há meses resgatávamos neste portal um dos antecessores do nosso ecologismo: o crego Moncho Valcarce. Graças ao seu contributo, e ao de muitos outros, estabeleceu-se umha importante ligaçom galega entre defesa das comunidades rurais, e entre ambas cousas e nacionalismo. As luitas contra a minaria extractivista, as centrais nucleares ou o saqueio de areais comunitários levam a sua assinatura. Como os seus homólogos americanos, Valcarce houvo de enfrentar ameaças e violência, prisom e coacçom. Também um trato entre manipulador e displicente da imprensa comercial.

Lembrança popular de Moncho Valcarce. Imagem: ovaral.blogspot.com

O interesse por promover movimentos sem raízes e sem memória é constante na mídia de grande tiragem, e por isso mobilizaçons polo clima como as que vimos de viver recentemente nom aludem aos honrosos precedentes de luita ambientalista na nossa Terra. Vendem, em troca, umha imagem formateada que nos remite a umha mobilizaçom universalista, totalmente novidosa, e ‘além das ideologias’. Mas vejamos o que há por trás.

Engenharia social em andamento

O primeiro cabeçalho em dar publicidade a Greta Thunberg foi Aftonbladet, o jornal mais lido do país. Graças e ele, as suecas fôrom as primeiras em decatar-se de que existia umha mocinha muito inteligente e sensível, criada num ambiente do mundo artístico progressista, que irrompia com força para frear a destruçom do planeta.

A apariçom de Greta foi quase simultánea no tempo com a irrupçom nas redes sociais da empresa ‘We don’t have time’, do milhonário Ingmar Rentzhog. A companhia fundara-se em 2016 com o objectivo confesso de criar umha rede social de mais de 100 milhons de pessoas ‘para influir nos capitalistas e homens mais poderosos do mundo’. Como accionistas da empresa figuram a família Persson, da dinastia capitalista Sven Olof Persson, magnate do automóbel, e a própria família Rentzhog.

Greta Thunberg, imagem dum movimento mui afastado do ecologismo popular

Na realidade, é umha grande rede a que promociona o novo ecologismo sistémico, e Greta Thunberg é apenas a cara visível destinada à sua promoçom. Rentzhog é também presidente e director executivo do grupo de expertos Global Utmaning, que promociona o chamado ‘desenvolvimento sostível’, e está directamente vencelhada à social-democracia sueca. Junto com a rede Global Shapers, fundada polo Foro Económico Mundial em 2011, almejam umha ‘mudança de paradigma’ que poria o ecologismo em maos de técnicos, afastando-o das classes populares e dos movimentos sociais em defesa do território.