Em dias passados fizo-se pública a notícia de que o concelho de Ourense, seguindo na sua linha de desmantelamento de serviços públicos dedicados a cobrir casos de mulheres acolhidas a protocolos oficiais contra a violência de género, deixava de fazer parte do sistema VioGén, serviço do Ministério que atendia na cidade das Burgas 30 mulheres. Díaz Jácome é o síntoma, agora institucional, de umha contrapolítica fascista de longo alcanço.

Como precedente, um concelho governado em coaliçom PP-VOX ( El Ejido) expresou publicamente seu desejo de abandonar também tal protocolo, com a excusa da falta de efectivos policiais ou de baixas laborais. Finalmente a medida arrombou-se e fará-se um futuro estudo da situaçom. Algo que fica na “intentona” nom deixa de ser preocupante e de alertar sobre a toma por parte do fascismo e do discurso contra o que denominam “ideologia de género” das instituiçons.

Díaz Jácome oferece argumentos semelhantes e embora tenha rectificado a última hora, para o movimento feminista nom é suficiente: a falta de recursos é evidente e remonta-se ao mandato do anterior governo do PP. O movimento feminista ourensano assegura que Jácome está apenas levando avante o programa do ex-regidor do PP, que no seu dia retirou do consistório a concelharia de igualdade. Para além disto o desmantelamento do serviço de atençom e protecçom das mulheres contou no seu dia com 5 efectivos municipais. Jácome, na sua marcha atrás, apenas vai garantir umha vaga. Denunciam a falta de pessoal e precariedade do Centro de Informaçom Municipal das Mulheres e convocam umha concentraçom na Praça Maior ourensana para denunciar e protestar pola devandita situaçom.

Privatizaçom da democracia, ascenso fascista

A feminista Jule Goikoetxea, desde umha ótica marxista, assegura que o aumento do fascismo está alicerçado sobre dous eixos: umha mercantilizaçom extrema da populaçom, despossuindo-a, precarizando-a, privantizando serviços ou apropriando-se de recursos naturais e umha luita discursiva e de marcos de pensamento. Os dous elementos estám presentes na “polémica Jácome”.

As mulheres, no contexto de privatizaçom que vivemos e que re-viviremos quotidianamente de nom mudar a sociedade do capital, som expulsadas da democracia que se está a desenhar apenas para umha classe privilegiada e dirigente (masculina). Todo colectivo “ non gratto” para o poder e a empresa capitalista de acumulaçom fica desprotegido por umhas instituiçons que deixam de ser públicas para funcionar ao serviço das elites. É o proletariado variopinto de hoje que se trazia à tona no livro A hidra de muitas cabeças de Rediker e Linebaugh: chusma em geral e párias do sistema onde sempre na linha do tempo vam estar incluídas as mulheres. Assi de diáfano o deixou escrito em um tweet um simpatizante-militante de VOX: separatistas, menas, okupas, feminazis. Onte como hoje, aí está parte do catálogo da Inquisiçom.

Perante o avanço do feminismo: a contra organizada

Também nos lembra Jule Goikoetxea que perante os avanços do feminismo, sempre surge umha cumplicidade masculina, umha contra que pretende frear tais avanços. Essa cumplicidade tem à sua disposiçom os meios de comunicaçom do regime, que ajudam a recolocar os marcos de pensamento e fazer propaganda barata e intoxicadora contra o feminismo organizado. VOX e os seus corifeios som, neste momento, a principal baça do capital e da sua acumulaçom primitiva permanente ( em palavras e imagens da Federicci) para poder fazer passar a manipulaçom por verdade absoluta, o absurdo pola máxima claridade e a opressom de género e o machismo por umha casualidade ou capricho de um dia.

A principal estratégia do fascismo ( que é a máscara mais violenta e acorde com os tempos que usa o capital) contra o feminismo organizado é a sua separaçom absoluta do sentido comum. Estám por umha lado as feminazis e está o tam apelado “sentido comum” por outro : o caos e a razom. Nestes termos foi Ortega Smith, de VOX, o primeiro que utilizou a palavra feminazi nos meios de comunicaçom por parte de um actor político ao pedir em umha carta aos reis magos umhas bonecas Monster High para luitar contra as feminazis e o seu clube.

O político espanhol o único que estava fazendo com esta provocaçom em tempos crispados era seguir a máxima do programa político da extrema-direita. Por palavras do seu líder Santiago Abascal som “un partido de hombres hartos entre otras cosas del feminismo, que dice lo que los españoles dicen en su WhatsApp”. O partido que curiosamente utiliza o verde em tempos de capitalismo ambientalista emergente, conta com um 60% de eleitorado masculino, umha posta em cena e linguagem misóginas e ainda com todo reclama-se “feminista”. Rocío Monasterio, umha das suas escasas faces públicas femininas, diz estar mui contenta em VOX ao ser valorada polos seus próprios méritos: “En Vox estoy encantada porque allí todo el mundo trabaja por el principio de mérito y el esfuerzo”. O feminismo ultra-liberal e paternalista nega que vivamos em umha sociedade machista e apela à livre concorrência, ao existirem, nos seus mundos imaginários, igualdade de oportunidades. Assi se trata às mulheres, aos migrantes e a toda a “chusma” que molesta na sua alegada democracia supremacista.

O partido que curiosamente utiliza o verde em tempos de capitalismo verde emergente, conta com um 60% de eleitorado masculino, umha posta em cena e linguagem misóginas e ainda com todo reclama-se “feminista”.

Apropiar-se das palavras, conceitos e feitos históricos, cozinhá-los nas suas empresas de criaçom de ideias e propaganda e lançá-las falseadas é parate da estrategia histórica do fascismo que se abre passo nas instituiçons. O poder, tal e como nos lembra Nerea Barjola em Microfísica sexista del poder evocando a Foucault, tem duas funçons principais através das que se reproduz e funciona: oculta e produz verdade. Através da apropriaçom dos conceitos feministas que nomeam e significam o mundo e da ocultaçom do terrorismo machista, o fascismo está produzindo a sua verdade que deixa de ser sua nos meios de comunicaçom para converter-se na verdade com maiúsculas. A cumplicidade e o perigo da associaçom necessária de meios e fascismo é máxima. Por isso nos cumpre desvendá-la e combatê-la.

Através da apropriaçom dos conceitos feministas que nomeam e significam o mundo e da ocultaçom do terrorismo machista, o fascismo está produzindo a sua verdade que deixa de ser sua meios de comunicaçom para converter-se na verdade com maiúsculas.

Um programa político contra as mulheres acompanhado de verborreia misógina

A aposta de VOX em matéria de género fai-na apelando à igualdade entre homens e mulheres, à supresom de organismos radicais feministas subvencionados e a persecuçom de denúncias falsas. A igualdade à que apelam é sinteticamente a supremacia do homem. Asseguram-no sem problema ao declarar que a sua intençom é devolver as mulheres às tarefas domésticas das que nunca devérom sair: “Ampliamos a 180 días la baja de maternidad para intentar levantar el drama demográfico de este país. Y lo hacemos a la mujer porque hay roles biológicos, antes que sociales, que queremos respetar”, em palavras de Alicia Rubio, vice-secretária de mobilizaçom de VOX.

Igualdade é umha das palavras que VOX mais utiliza nas suas intervençons públicas e nos seus programas políticos. Igualdade de oportunidades, igualdade entre espanhóis, igualdade entre homens e mulheres. Alicia Rubio defende-se do feminismo assi: “Somos mujeres que amamos a los hombres que están en nuestras vidas y no queremos tener más privilegios sobre ellos”. Com estas declaraçons colocam o feminismo do lado do ódio, do radicalismo e tencionam achegar-se a umha opiniom pública de maneira simplória e cercana. A manipulaçom, desinformaçom e propaganda nom podia ser mais rebuscada.

Com estas declaraçons colocam o feminismo do lado do ódio, do radicalismo e tencionam achegar-se a umha opiniom pública de maneira simplória e cercana. A manipulaçom, desinformaçom e propaganda nom podia ser mais rebuscada.

Feministas feas, feministas rançosas

Rocío Monasterio assegura que há liberdade para ficar na casa. Sendo arquitecta e empresária até é possível. Para ela o movimento feminista é rançoso, tristom e puritano. Seguindo umha linguagem psicologizante e de corte terapéutico ( tam na moda na actualidade), oferece-lhe várias receitas às feministas: deixar de utilizar um discurso de inimigos para construir um outro ilusionante. Mas a recomendaçom máxima que lhes fai, capacete em cabeça, é que se ponham a trabalhar. Em um chimpo-malabar mais da verborreia e simbologia falseante e farsante coloca-se de lado da classe trabalhadora. Ociosas e tristes também.As feministas som tristes porque colidem com os interesses de classe e económicos destas elites liberais, de profissom e de ideias.

Rocío Monasterio assegura que há liberdade para ficar na casa. Sendo arquitecta e empresária até é possível. Para ela o movimento feminista é rançoso, tristom e puritano.

A viragem mais grosseira na simplificaçom das categorias políticas veu da asseveraçom de Jorge Buxadé, advogado do comité executivo de VOX, ao chamar às feministas de feias e compará-las com as irmás que maltratavam Cinsenta. Nom é casualidade a escolha do conto. O relato na sua versom mais popularizada por Perrault situa-nos num mundo em transiçom, onde a desputa entre a sociedade estamentária e umha outra por nascer liberal estava na tona. A Cinsenta, nobre e privilegiada, luita polo ascenso social através da submisom feminina e da beleza. Hoje Cinsenta representaria umha emprendedora, precarizada e maltratada polo poder, mas que opta por obviar a realidade política e que opta pola pugna no mercado laboral até conseguir em base a méritos e covadaços um espaço de respeito. Nom se rebela e aguarda a ser escolhida polo homem correcto. O mundo dos bons e dos maus, dos vencedores e dos vencidos é o que nos oferece como receita o fascismo. Para as mulheres, nom só para as feminazis que os combatem, o papel e funçom que querem é esta: desarmadas, objectualizadas e sem direitos. O mesmo que procuram para toda a “chusma” variopinta que lhes molesta nas suas ánsias de acumulaçom de dinheiro e poder. É umha luita de classes onde as mulheres temos todo por dizer.

O conto de Perrault na sua versom mais popularizada situa-nos num mundo em transiçom, onde a desputa entre a sociedade estamentária e umha outra por nascer liberal estava na tona. A Cinsenta, nobre e privilegiada, luita polo ascenso social através da submisom feminina e da beleza.