(Imagem: José González, dono de Luckia, apostou por promocionar o Desportivo da Corunha).

No passado domingo, moços e moças manifestavam-se polo centro de compostela em oposiçom frontal às casas de apostas. O acto representava a oposiçom militante dumha sensibilidade social que medra, contrária ao jogo de azar, e muito consciente das adiçons que generam. Incómoda pola impopularidade, a patronal do jogo reage. Alguns dos seus homens som conhecidos empresários galego-espanhóis, historicamente relacionados com o poder; agora exigem à Junta que ‘nom os abafe’.

A sensibilidade contra os efeitos do jogo de azar e as apostas procede especialmente da esquerda, mas mesmo partidos da direita como PSOE ou Ciudadanos fixérom-se eco do problema. Antes da sua proclamaçom gorada como presidente, Pedro Sánchez manifestou a vontade de ‘frear a ludopatia com umha lei valente’, e trabalhava no rascunho dumha lei que haveria de limitar o jogo on line. Desde que a concessom de licenças físicas e instalaçom de máquinas depende das comunidades autónomas, agora a grande preocupaçom dos capitalistas do sector é pressionar os chanços mais baixos da administraçom estatal.

Interior dum local de Codere. Espaços sempre sem janelas, sem relógios e com bar, as casas de apostas estám desenhadas para o usuário perder a noçom do tempo

Madrid como sonho empresarial

No território do Reino de Espanha, três autonomias carecem de regulaçom sobre o sector: trata-se de Madrid, Extremadura e Astúrias. Na primeira delas, e ante este baleiro legal, as casas de apostas medrárom um 140% desde 2014. O fenómeno é de tal magnitude que a Direcçom Geral de Ordenaçom do Jogo se viu na obriga de realizar um estudo exaustivo que revelasse quem é o publico alvo, e a vítima, deste novo capitalismo do lazer. Os dados som concluintes: os devotados às apostas som num 93% homens, tenhem entre 18 e 43 anos, um nível de ingressos e estudos baixo, e necessidade de dinheiro. A falta de limitaçom de horários de abertura, o anúncio televisivo de casas de jogo mesmo em horário infantil, e a promoçom da actividade por parte de desportistas afamados, intensifica a expansom.

Junta prepara lavado de cara

Ciente dumha impopularidade que pode acarretar certo custe eleitoral, um PP temeroso de desgaste prepara umha Lei do Jogo timidamente reguladora. Por enquanto é um rascunho que actualiza um velho texto, com trinta anos de vida, redigido quando nom se socializaram internet nem as apostas desportivas. Pretende consolidar o que já existe, e introduz algumhas restriçons, com a possibilidade de as casas de apostas promocionarem equipas; de se aprovar o anteprojecto sem novidade, estabeleceria a permanência de 118 salons e 41 casas de apostas no país. Para a Associaçom Galega de Empresas de Operadores (AGEO), ‘a lei sobrepassa todas as linhas vermelhas e condena à morte do sector.’ Serafim Portas, o seu vozeiro, manifestou que a pretensom de obrigar a um mando a distáncia nos locais para activar ‘tragaperras’ e máquinas de apostas (entendido como forma de controlo) supom um sério retrocesso para o seu negócio. Representantes de empresas como Luckia comunicárom a sua vontade de que a Galiza tenha o mesmo rátio de casas de apostas por habitante ‘que Madrid ou País Basco’, pois a nossa terra ainda está muito longe das zonas mais industrializadas do Estado.

Codere e as redes do PP

Se alguém tiver ainda algumha dúvida sobre as ligaçons políticas deste subsector do capitalismo, especialmente inescrupuloso e alheio a qualquer consideraçom da saúde pública, alguns nomes podem esclarecê-las. Codere, o grande gigante do jogo no Reino de Espanha, tivo entre os seus accionistas ao ex-político do PP Pío Cabanillas. Desde 2005 a 2011, o advogado Rafael Català fora secretário de administraçom da empresa. Deixou-na para fazer umha breve incursom na política direitista como ministro de justiça de Rajoy, e de novo voltou no passado ano. Agora é ‘colaborador externo e assessor global de relaçons institucionais de Codere.’ A empresa, em maos dum ‘hedge fund’ global, é nominalmente espanhola, mas na realidade segue os desígnios de Abrams Capital e Silver Point.

Rafael Catalá, o homem do PP em Codere. Imagem: facua.org

Galego-espanhóis ao mando: Comar e Luckia

Codere procurou alianças autóctones para se instalar mais comodamente na Galiza. Aqui desembarcou de Comar. Inversiones y Dirección de Empresas, um holding dedicado ao jogo, a construçom e os carvurantes. Ao mando, o capitalista José Collazo Mato, que figura no posto número 14 no ranking de empresários mais poderosos da Galiza. Possui oito casinos em todo o território espanhol, entre eles o Casino Atlántico da Corunha.

O sector do jogo está sempre imbricado com o imobiliário e hosteleiro, pois procura instalar-se em grandes infraestruturas de lazer. Acontece assim nos bingos em zonas turísticas, frequentemente participados por companhias hoteleiras, ou em grandes centros comerciais. Collazo Mato está de feito por trás dumha das mais grandes operaçons especulativas da Galiza recente: a construçom de Marineda City, na que tenhem a sua sede Marineda Bussiness Centre e StarcoInvest.

Luckia é outro dos emblemas do sector, e também tem relaçom com a Galiza. Deriva de Egasa (Eléctrica de Galicia); por palavras do seu dono, ‘nasceu com vocaçom comunitária , mas agora tem ambiçom global’. Por isso mudou de nome, transformando-se em Luckia, e espalhou-se pola América, esquecendo qualquer alusom às suas origens galegas na língua ou na propaganda empresarial. Dirige-a José González Fuentes, um vizinho de Gesteda (Cerceda) que começou introduzindo ‘tragaperras’ nos bares de Ordes. Popularizou-nas logo nas grandes cidades do país e deu o salto ao sector da construçom. Com olfato empresarial, deixou o tijolo em 2006, ventando a crise das finanças, e em troca desembarcou com as suas empresas de jogo na América Latina. Hoje, este empresário galardoado e celebrado pola imprensa do regime (recebeu o ‘Prémio Liderança Empresarial’ da Confederaçom de Empresários da Corunha em 2018) é dos que adverte à Junta ‘contra qualquer legislaçom restritiva.’

González Fuentes (à esquerda) acompanhado polo presidente da patronal corunhesa. O empresário de Cerceda enriqueceu-se fomentando o jogo aditivo. Imagem: elcorreogallego.es

Cirsa e a lavagem de dinheiro

A propaganda independentista e rupturista contra as casas de apostas é visível em muitas ruas do país. A crítica das adiçons fomentadas polo poder foi sempre um dos motivos fortes da esquerda. No ámbito jornalístico, há quinze anos, foi o próprio independentismo galego o que começou a deitar luz sobre o andaço das ‘tragaperras’ e as escuras ligaçons deste negócio. Numha reportagem de investigaçom publicada em 2004, o jornal Novas da Galiza diseccionava a empresa Cirsa, dona do casino da Toja e do hotel de Samil, em Vigo. Lucrada com a instalaçom massiva de máquinas de azar nos bares, o juiz Baltasar Garzón chegou a instruir umha causa contra o seu proprietário, Manuel Lao Hernández, por possível lavado de dinheiro procedente do narcotráfico.