A mentalidade de fronteira domina o pensamento de milhares de galegos e galegas, incluídas aquelas com consciência nacional. É por isso que o esforço dos voluntários que trabalham pola língua no leste nom sempre recebe a atençom merecida. Às portas dumhas eleiçons que suscitam chuvas de promessas, nom está de mais lembrar tantos galegofalantes que carecem de direitos, nem sequer formais. No ámbito berciano, Fala Ceive protagoniza as demandas populares.

Para os velhos galeguistas o Berzo era parte da ‘Galiza irredenta’; o independentismo moderno preferiu incluí-lo no termo ‘Galiza oriental’ (pois irredenta é a Galiza inteira); os autonomistas bercianos, por seu turno, reclamam-se exclusivamente do ‘Bierzo’, e pretendem-se alheios a Galiza e Castela. Além das controvérsias políticas, reclamam também direitos para as línguas galega e leonesa, que subsistem nesta comarca tam senlheira ante umha enorme pressom. Fala Ceive, com décadas de vida, vem sostendo em solitário e com meritória persistente esta luita que adoitamos esquecer aquém dos Ancares.

A ‘cruzeira’, um dos símbolos fortes da identidade berciana

O galego ou galega média associará de imediato o Berzo com a bandeira que flamea com a Cruz de Penalva no escudo, a chamada ‘cruzeira’, muito popularizada em todo tipo de eventos desde 2001. Quiçá saiba que é terra tremendamente fértil, umha chaira hortícola rodeada polas serras do Courel, Ancares, Aquilianos e Fistedo. Menos conhecido -por efeito do silenciamento da historiografia académica- é o seu vencelho imemorial com a Galiza, da que historicamente fai parte sem atisbo de dúvida: foi extensom oriental da cultura galaico-castreja, e um nó de comunicaçom central da Gallaecia romana (centro da rede Braga-Asturica-Lucus Augusti). Floresceu graças ao caminho de Santiago, e jurisdiçons como Molinaseca ou Cacabelos pertenciam a senhores da Galiza occidental (Sobrado dos Monges e Compostela, respectivamente). Trás a dissoluçom dos templários, os Condes de Lemos dominárom a zona. Sofrêrom a justa ira dos Irmandinhos e logo houvérom de aturar a campanha de expansom castelhana de Isabel I. O refraneiro castelhano é claro: ‘Galicia es la huerta, Ponferrada la puerta’.

Aldeia da Galiza oriental, morfológica e etnograficamente idêntica à de outros núcleos incluídos na CAG

Galego vivo, falantes sem direitos

Segundo estimaçons de Henrique Costas, professor da Universidade de Vigo, há 30000 galegofalantes no Berço, concentrados nas comarcas occidentais. Um terzo da populaçom é galegofalante, e desde inícios deste século, perto dum milhar de alunos e alunas de secundária estudam o nosso idioma. Existe também a possibilidade de cursar galego na Escola Oficial de Idiomas de Ponferrada.

Conta-se com umha relativamente importante -sem deixar de ser escassa- apoiatura legal para o galego no Berço. Em 2001, as conselharias de educaçom das autonomias da Galiza e Castela Leom assinaram um acordo para dar um novo pulo à língua; o artigo 5.3. do estatuto castelhano-leonês reconhece a necessidade de protecçom de todas as falas da bisbarra; e mais recentemente, a Lei 17/10 da autonomia vizinha constituía o Conselho Comarcal do Berço, que contempla entre a defesa da língua entre as suas funçons.

Porém, e como denuncia Fala Ceive em reiteradas ocasions, a realidade é muito outra. O galego nom figura reconhecido na toponínima, está ausente dos usos dos políticos, e apenas é ofertado em alguns dos centros educativos da zona. Aliás, e segundo reconhecia um estudante berciano em artigo de opiniom na imprensa nacionalista,os obstáculos colocados ao alunado pró-galego som muitos, por vezes incorrendo na ilegalidade. No campo popular, as propostas e exigências sucedem-se, ante o maioritário silêncio do Estado.

Mesmo forças aparentemente opositoras como Podemos afiançam o retrocesso do galego. Fala Ceive aproveitou o seu blogue para denunciar no passado setembro a apresentaçom por parte de Podemos dumha Proposiçom Nom de Lei em Castela ‘para a protecçom do leonês’, que deliberadamente ignorava o galego do Berzo.

Activismo nom descansa. Imagem: obierzoceibe.blogspot.com

Fala Ceive insiste

Com motivo das passadas eleiçons espanholas de maio, Fala Ceive elevava a todos os partidos concorrentes um bloco de medidas de urgência para a promoçom do galego, e por extensom do leonês, nas terras entre Valcarce e o Mançanal. Desde que o bloqueio institucional impediu tomar medida nenhuma, as exigências colocadas no documento mantenhem pleno sentido. A entidade insiste em que todos os governos até o de agora ignoraram a Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias, e o artigo do estatuto castelhano-leonês alusivo ao galego. Pedem a definitiva assunçom do bilinguísmo nas instituiçons, a criaçom dum serviço linguístico dentro do Conselho do Berzo, e a inserçom do idioma no processo de recuperaçom das pedanias, genuinas instituiçons de auto-governo paroquial.

Estratégias materiais e virtuais

Numha recente reflexom postada no blogue de Fala Ceive vincava-se o forte regionalismo berciano, o que impede, segundo o autor ‘a aceitaçom de propostas chegadas de além de Pedrafita’. Para o activista, apenas um esforço autocentrado na regiom pode permitir o avanço do galego; outras posiçons apontam, sem embargo, que só um importante contributo das áreas onde a língua é mais forte, no território da CAG, pode afortalar os mais limitados recursos bercianos.

Seja como for, as estratégias das línguas ameaçadas no Berzo submeterám-se a discussom no próximo ‘Encontro sobre as línguas’ a celebrar em Ponferrada, e ao que Fala Ceive apresentou várias propostas. Todas as pessoas interessadas em seguir e apoiar a luita polo galego berciano podem-no fazer nos espaços virtuais que os activistas habilitam, tais como @obierzoxa ou obierzoceibe.blogspot.com, muito activos e permanentemente actualizados.