No mês de Julho passado a organizaçom ambientalista Greenpeace lançou-se a organizar o Dia Mundial sem carne. Paralelamente, tempo depois o governo da Alemanha anunciou que gravaria o IVA dos produtos cárnicos desde o 7% actual a quase o 20%, com o pano de fundo de certo consenso político a respeito da medida e impulsada por várias tendências de opiniom: desde o veganismo, passando pola preocupaçom polo clima ou a protecçom aos animais. Umha nova vaga de falso ambientalismo parece estar a cozinhar-se nas instituiçons. Vamos tentar analisar como, desde a Galiza, o Dia Mundial sem Carne responde mais a questons de classe, a centros urbanos e a esse falso ambientalismo de salom construido com palavras de orde.
Discursos de máximos com médias verdades
Como acontece sempre, os discursos que se elaboram para tentar criar tendências de opiniom acodem a questons que som reais, ou quando menos relatam parte da verdade. Dizer que o consumo de carne é prejudicial para a saúde ou que comer carne eleva os gases de efeito invernadoiro pode ser certo em parte ou segundo para quê pessoas ou quê tipo de produçom, mas todo deve ser matizado, tomado na sua medida e contextualizado. Se apanhamos qualquer dos textos de Greenpeace a respeito do consumo de carne remataremos por pensar que a responsabilidade deste consumo é exclusivamente individual ou que somos responsáveis da possível catástrofre que se avizinha. De igual maneira que está a ser artelhado o discurso de Greta Thunderberg e as sextas de greve contra a mudança climática, esquecem-se (por casualidade) de mencionar que todo isto está a passar porque hai um sistema capitalista que fai águas. Tal e como advertiu Daniel Bernabé em um artigo de esta semana, detrás do fenómeno Greta Thunderberg estarám mui possivelmente lobbies do capital tentando introduzir a nível social a necessidade de umha adaptaçom económica, mas sem mencionar a responsabilidade directa do capital e dos seus gestores. Neste contexto, comenta, manter as taxas de benefício significa que quem vai pagar a diferença, mais umha vez, vai ser a classe operária. Precisamente aquela que, tal e como nos advertia em artigo Anjo Cortiço para este portal nom pode partilhar culpabilidade com a burguesia.
Daniel Bernabé engade que o discurso da Thunderberg está desestruturado, é emocional, nom pom acentos nas grandes corporaçons e fomenta a ideia de que a “ classe política” é a única responsável do que acontece… Todos estes elementos estám na campanha de Greenpeace contra o consumo de carne e, também, no discurso de umha pseudo-esquerda de novo cunho “ambiental-amável-hippie-vegana” que vazia de conteúdo, e sobretodo de acçom real, a política.
Consumo e produçom de carne na Galiza: onde tem o gabinete a producçom de ideias de Greenpeace?
Polos vistos a gadaria é responsável pola emisom do 14% aproximadamente dos gases de efeito invernadoiro. Ao falar de concentraçom de gases da gadaria possívelmente nos venham à cabeça as imagens de grandes superfícies cheias de gado ( principalmente vacas) em extensivo. Os gases produzidos polo gado têm a ver com o seu número, pois estes estám relacionados com a digestom do animal. Assi que a exploraçom média e familiar da Galiza está mui longe de produzir esses temidos gases de efeito invernadoiro. E ainda se tomássemos como referência o global de gases produzidos pola gadaria, ainda estám mui por trás dos gases produzidos polo sector energético (30%) ou o transporte (15%). Assi que estamos a falar de gases produzidos mui possivelmente por grandes exploraçons propriedade de grandes corporaçons. É um detalhe que Greenpeace se esquece de nos relatar…
Também se refere por parte de Greenpeace que para produzir um kilo de carne fam falta 15 000 litros de águas. As contas nom lhe saem a David González Igrexas, autor de um artigo para o portal Campo Galego. O consumo de água dos animais vê-se matizado, pois devolvem parte da água ao entorno em forma de ourinhos ou leite, estabelecendo um ciclo completo de eficiência. César Resh Zafra, investigador no Centro de Investigaçons agrárias de Mabegondo, assegura que os dados esgrimidos pola Greenpeace e adatados à Galiza som falsos, pois tenhem estudado que no caso da nossa gadaria precisariamos entre 3-5 litros de água para produzir um litro de leite. No caso da carne, tendo em conta o modelo de pastoreo de nosso, seria algo mais. A diferença, assegura, está na água que se usa para regar (tal e como acontece nos macrocultivos que alimentam macro-granxas). Na Galiza as vacas produtoras de carne pastam ao ar livre e o consumo de água nom é tam desorbitado. Destarte também colidimos com outra das afirmaçons da campanha do pseudoambientalismo: a gadaria utiliza demasiada terra cultivável. No caso da Galiza a maior parte do consumo de pasto do gado tem lugar na proximidade das granxas e deve ser até celebrado em um País quase devorado pola maleça e os terrenos vazios. Aliás, grande parte do alimento que consome o gado nom é aproveitável para outras cousas. A isto há que somar o trabalho de desbroce que muitos animais estám a realizar em áreas onde a falta de atençom remata por deixar todo a monte.
Preocupaçom pola saúde ou como individualizar o “ problema”
“Dieta sana: planeta sano” é umha das principais palavras de orde da campanha da corporaçom ambientalista. O culto ao corpo e ao indivíduo é umha das enfermidades inoculadas polo capitalismo e a sua publicidade nas pessoas. E sempre se focaliza no individual, sem chegarmos a reflectir sobre a possibilidade fanada de viver saudavelmente em um mundo e sociedade que nom som saudáveis em nengum aspecto: nem a nível económico, nem social, nem mental. Assi que, eliminado o detalhe (outra vez) de que o sistema em que vivemos é o principal gerador de infelicidade e contextos de insalubridade, como gerar saúde em um sistema insalubre? Nom é de extranhar o aumento na jeira em que vivemos de todo tipo de saídas em falso que procuram através de um constante teste de milagros algo assi como a imortalidade ou o milagre dentro do eterno oscuro. A própria evoluiçom do conceito de saúde dá-nos a chave. Se bem na primeira metade do século XX a palavra estava apenas ligada à ausência de enfermidade, hoje a própria ONU estabelece que a isso hai que somar a procura de estados de bem-estar, por ende, de felicidade. Eis em grande parte as razons que movem o pseudo-ambientalismo: egoísmo perante um futuro incerto. Predicar o salve-se quem puder roça o ecofascismo, individualizar o problema e esquecer que o capitalismo e os seus gestores som os principais responsáveis da crise é vaziar de conteúdo e sentido a realidade e, também, colocar nas costas da classe trabalhadora os ajustes necessários para que nada mude constitui a próxima armadilha que devemos evitar.