Durante estes dias o nosso país soma-se à onda mobilizadora mundial em defesa do meio ambiente ante a denominada “crise climática”. O Movimento Galego polo Clima, que reune dúzias de associaçons ambientalistas, de defesa do território, organizaçons labregas ou entidades sociais mui variadas, realiza a convocatória de mobilizaçons em diversos pontos da geografia nacional. Parece umha boa oportunidade para expor umhas breves reflexons sobre a questom ambiental, a luita contra a crise ecológica acelerada que sofremos e a relaçom destas duas questons com a luita anticapitalista.

Indo ao grao, e seguindo para o desenvolvimento desta reflexom o manifesto feito público polo Movimento Galego polo Clima (plataforma em que convivem entidades de mui diversa natureza), o primeiro que chama a atençom é a falta de rotundidade à hora de definir quem é o responsável pola ameaçadora crise ambiental. Fala-se-nos do “modelo de produçom e consumo impulsionado por determinadas práticas do sistema capitalista atual”, que tenhem o objetivo de “manter a acumulaçom de riqueza e o modelo produtivo baseado no crescimento contínuo”. Infelizmente esse matiz, que salva o sistema ao insinuar que pode haver um outro capitalismo capaz de evitar essas “determinadas práticas” negativas, fana a potencialidade crítica deste movimento mundial.

E é que, ante a evidência dumha ruptura do “equilíbrio climático e natural do nosso planeta” que pom já ante os olhos das geraçons atuais a possibilidade da catástrofe, as meias tintas nom valem. Quiçá em nengumha outra frente da crise geral em que nos encontramos é tam evidente a urgência dumha alternativa superadora do capitalismo do que na “frente ambiental”. A conta atrás para a nossa espécie (e para outras), ou um grande e abrupto retrocesso civilizacional, só podem ser evitadas ou mitigadas se dermos conquistado um modelo de sociedade em que a vida digna e o mantimento do equilíbrio na natureza estejam no centro; e isto é incompatível com o capitalismo em si, cujo único e cego objetivo é a sua reproduçom ampliada.

Tam claro como que nom pode existir um capitalismo sem exploraçom e imperialismo o é que este sistema é incompatível com a preservaçom da natureza e do território porque é umha máquina insaciável de devorar os recursos presentes nestes. Nom se pode atingir a quadratura do círculo harmonizando sustentabilidade com crescimento, equilíbrio com desenvolvimento.

Aproveitando a ocasiom, também se fai necessária umha reflexom sobre certas visons ou formas de expressom erradas que se difundem de maneira habitual na imprensa e em setores do próprio movimento ecologista e que, de maneira consciente ou nom, evitam ir à raiz do problema. E é que nom é a humanidade no seu conjunto quem está a pôr em perigo os ecossistemas, nem é o nosso planeta o que temos que salvar. A Terra é um corpo celeste que seguirá onde está até que o Sol a engolir, independentemente do que fagamos os seres humanos. A humanidade trabalhadora, que maioritariamente nem sequer chegou a cheirar a efémera “idade de ouro” do capitalismo e que nom formou parte das elites que impugêrom o caminho a seguir a ferro e lume, nom pode partilhar culpas com essas mesmas elites depredadoras, encarnaçons do Capital. É a burguesia quem tem interesse em que falemos de “salvar o planeta” e em que sejamos nós próprios/as quem nos culpemos da situaçom, em lugar de apontarmos a ela e ao seu sistema.

Somos nós, os povos do mundo, quem corremos perigo e quem nos devemos salvar a nós mesmos/as, superando o sistema que nos leva ao caos e compreendendo que os limites naturais nom podem ser ultrapassados. Nom podemos cair na sua armadilha, nem aceitar o seu capitalismo verde incapaz de resolver a questom nem, ainda pior, o caminho cara a justificaçom do ecofascismo num mundo de recursos minguantes.

Porém, nom podemos mais que saudar esta iniciativa mobilizadora, que assinala um incremento da consciência social e que tem a virtude de expressar qual pode ser a visom geral do ecologismo galego, por cima das luitas concretas que existem por toda a Galiza. E parece positivo que semelhem ultrapassadas conceptualizaçons trampulheiras como a de “desenvolvimento sustentável” e que se abram passo críticas mais profundas à própria ideia de crescimento, desenvolvimento ou progresso, a consciência da fim dos recursos energéticos que som a base do capitalismo, assi como o facto de que o que afrontamos é a possibilidade dum colapso geral.

Mas, que se passa se olhamos a cousa do outro lado? Está a nossa esquerda anticapitalista à altura das circunstáncias nesta questom ou como noutras só se dedica a criticar as limitaçons e os supostos erros de movimentos que em demasiadas ocasions só olha de fora? E é que numha parte da esquerda, em nome do justo combate à fragmentaçom das luitas, parece estar na moda o tratamento entre displicente e agressivo perante quem se preocupa e mobiliza em relaçom com questons centrais no nosso tempo, adoptando umha posiçom pouco construtiva e por vezes soberba.

Para alguns, os mais burdos, porque todo o que nos desviar da luita de classes é um atranco no caminho e melhor fariam as ativistas ambientalistas (e feministas, e LGTBI…) em deixar-se de histórias e centrar-se em que o proletariado tome o poder, que já logo veremos. Para outros, parece que a forma de dar a batalha das ideias é desqualificar os movimentos sociais por nom serem ainda como eles gostariam, sem aportar grande cousa aos mesmos.

Mas a questom ambiental e de defesa do território é algo que a esquerda anticapitalista tem que tomar mui a sério, deve formara parte do seu ADN. É o principal repto do nosso tempo e nada nos assegura que numha sociedade socialista esta crise vaia ser solucionada per se. A experiência dos processos de construçom socialista ensaiados desde o século passado nom nos permitem manter essa posiçom. Nem abandonárom a lógica e o imaginário capitalistas de crescimento e desenvolvimento a toda costa nem se caracterizárom pola preocupaçom ambiental. É certo que cumpre ter em conta que as consequências da agressom continuada à natureza nom eram tam evidentes no passado, mas também o é que no pensamento de Marx já havia bases para desenvolver umha reflexom ecologista que acompanhasse o movimento socialista.

Por outra parte, tampouco o movimento obreiro atual parece (na sua maioria) dar grande importáncia aos reptos que se nos apresentam nem sair-se da glorificaçom do crescimento económico como soluçom a todos os problemas sociais, para além da retórica verde politicamente correta e insulsa. Por nom falarmos já do facto de que, em geral, podemo-lo considerar tam manipulado e integrado na lógica do sistema como qualquer outro movimento de contestaçom.

A modo de simples anedota que pode ilustrar esta atitude mais ou menos presente na esquerda anticapitalista, lembro como no caminho de volta a Ponte Vedra desde Louriçám após umha das últimas marchas contra ENCE nos esperava umha faixa crítica com a nossa mobilizaçom. Suponho que aquela faixa anónima, decorada com umha fouce e um martelo cruzados, queria pôr-nos no nosso sítio às pessoas que, mobilizando-nos em contra da continuidade de Ence e do que representa na Galiza, estávamos, polo que se vê, a prejudicar os sagrados interesses do proletariado.

Em fim, parece que nom é doada umha síntese entre a tradiçom do movimento operário e a exigência atual de salvaguardar o entorno que permite a nossa vida. Por umha parte, só superando o capitalismo podemos imaginar umha sociedade em que sejam as necessidades reais da humanidade e o respeito aos limites naturais e aos direitos das geraçons futuras os que marquem até onde podemos chegar na nossa interaçom com a natureza. Por outra, nom temos todo o tempo do mundo para evitarmos o desastre; ou quiçá já só nos podamos contentar com paliá-lo. A nossa incapacidade para dar umha resposta ajeitada deixa-nos mais perto dumha situaçom de caos incontrolável ou de soluçons autoritárias que permitiriam a uns poucos roubar e acaparar recursos durante um tempo mais em base a um genocídio de tamanho mundial. Aliás, se nom somos quem de encontrar a alternativa, pode ser a própria classe operária ocidental a que apoie as fórmulas ecofascistas que se lhe oferecerám (as tendências dos últimos anos apontam essa possibilidade).

Nom tenho eu umha resposta a este dilema mas, seguindo a Carlos Taibo, quiçá umha alternativa de luita pola emancipaçom humana à altura das circunstáncias deva começar a conjugar verbos como decrescer, desurbanizar, descomplexizar, destecnologizar, despatriarcalizar ou descolonizar. E melhor faríamos em nom esquecer que um dos motores do soberanismo galego moderno foi a luita em defesa do território e do meio ambiente.