Justo de la Cueva, contam as pessoas que assistírom às múltiplas palestras que ministrou na Galiza, falava com grande intensidade e paixom. Podia estar sem quase interrupçom algumha durante cinco horas debulhando um tema. Explicava as cousas com grande franqueza e acompanhava-se de um feixe de livros. O sociólogo e comunista basco, visionário em muitas das suas obras sobre a trajectória do capitalismo, deixou um enorme arquivo em forma de livros e múltiple documentaçom que agora estám a resgatar e organizar de jeito voluntário dezenas de pessoas.

Umha personalidade intensa e particular: breve percurso biográfico

A vida de Justo de La Cueva nom se entende sem a figura de Margari Ayestarám. Ambos formárom um par que elaborou centos de estudos e análises de campo a nível sociológico. Conhecérom-se no ano 57 e recém encetada a década dos 60 estavam já a colaborar em trabalhos de campo na secçom de estudos de Cáritas. Um ano depois casavam em Madrid, na igreja da cidade universitária. O reitor proibiu a celebraçom do almoço na cantina da faculdade de direito, onde Justo de la Cueva estudava desde os 16 anos. Assi se inicia o casal na vida conjunta.

Imagem do comunista basco em um dos seminários que habitualmente realizava

Tampouco se entende a biografia de Justo sem a sua exclusom voluntária da sociedade espanhola. Madrileno de nascimento, desertou conscientemente da sociedade espanhola em Setembro de 1980 quando decide, junto com Margari, deixar o andar que tinham em Madrid e estabelecer-se definitivamente em Euskal Herria. Em umha das suas análises publicadas em RED VASCA ROJA explicava parcialmente os motivos que o levárom a tal decisom: “la sociedad española, la formación social española, está enferma. Envilecida, encanallada, alienada. Lo escribo con tristeza. Nací en esa sociedad en 1937 y formé parte de la misma hasta que en 1980 me borré de ella y pasé voluntariamente a formar parte de la sociedad vasca”.

Com o pano de fundo da violência do tardo-fascismo fazendo acto de presença a cada pouco, Justo avança na sua formaçom ao tempo que publica o seu primeiro livro: El plan CCB . Também elabora um plam de desenvolvimento para umha comarca dos Andes, encarregado polo Ministério da Agricultura do Perú. O ano 1967 é importante na biografia de Margari e Justo porque ambas se estabelecem profissionalmente como sociólogas. A partir de entom as suas análises e trabalhos nom deixarám de aparecer em semanários ou revistas: medicina, sociologia eleitoral, trabalho de campo na Catalunha…

Galiza também será objecto de estudo e análise por parte do par de sociólogas. Destarte, aparece no ano 1974 o que se considera a primeira investigaçom sociológica realizada com mostras aleatórias sobre o conflito linguistico no nosso País. Nesse mesmo ano realizam um estudo que utiliza como mostra 600 entrevistas realizadas na contorna geográfica da comarca de Arousa sobre emigraçom e consumo de massas. É o início de umha fructífera relaçom com a Galiza que mantivo até a sua morte. Segundo a sua filha, Zuriñe de la Cueva, Justo tinha três amores: Euskal Herria, Catalunha e Galiza.

Do PSOE à esquerda abertzale

No ano 1978 Justo de la Cueva abandona as filas do PSOE. Dous anos antes ele e Margari assináram umha ponência sobre nacionalidades históricas aprovadas polos órgaos internos do partido. O nosso homem causa baixa no PSOE fazendo umha denúncia recolhida em vários meios de comunicaçom que hoje adjectivariamos de viral. Acusava Felipe Gonçalez de incumprir os acordos do XXVII Congreso do PSOE e de atraiçoar a República. A prosa incisiva do comunista alongou-se no tempo. Funcionários da polícia procedérom a sequestrar um exemplar da ‘Revista Punto y hora‘ onde Justo publicara um artigo ( ‘Desfile de cretinos’) onde acusava o presidente de dar cobertura e apoio a torturadores. Estamos a falar do ano 1983. Nesta altura Justo de la Cueva já figurava como militante de HB. A sua producçom teórica e militante nom se interromperá com a esquerda abertzale e também com diferentes organizaçons políticas revolucionárias do Estado espanhol ( entre elas as da Galiza) até o ano 2009. Desde esse ponto o comunista realiza em 2010 o curso 180 anos de luita de classes em Euskal Herria na casa da cultura de Etxarri-Aranatz, que ele próprio considerou como o seu testamento político. Um ano depois, Margari Ayestarám falece.

A morte de Margari Ayestarán

Justo de la Cueva encontrava-se no 2011 elaborando umha proposta de catalogaçom do seu enorme arquivo pessoal quando a morte da sua companheira o surprende. Entra numha profunda depressom e deixa de lado este trabalho. Ele falece no ano 2017. Ao acto de despedida assistem por volta de 200 pessoas e alá começa a gestar-se a ideia de recuperar o seu arquivo e colocá-lo a livre disposiçom do público leitor.

Guiom realizado por Justo para a despedida de Margari Ayestarán

Com esta intençom modificam as pessoas encarregadas da primigénia associaçom que faria esta tarefa e começam com o ingente trabalho: catalogar e classificar entre mais de 4000 livros e arquivo pessoal ( cartazes, revistas…). Da sua colecçom Justo contava com 800 volumes de livros sobre Galiza e a Catalunha e outros 800 de literatura universal que deixou em herança à sua neta.

Nesta

Imagem do arquivo de Justo de la Cueva no início da sua classificaçom

Com esta importante lacuna, pesquisárom na classificaçom das bibliotecas da URSS e encontrárom que aquele sistema (BBK) está liquidado nas bibliotecas russas. O colectivo continuou na sua pesquisa e decidiu pôr-se em contacto com um bibliotólogo marxista, Felipe Meneses, que aconselhou e ofereceu algumha pauta para umha classificaçom acorde com a figura e desejos de Justo de la Cueva e também do próprio colectivo promotor.

Depois da ordenaçom, catalogaçom, digitalizaçom e demais tarefas ligadas ao arquivo o colectivo promotor quere ponher todo a disposiçom do público leitor e doá-lo a umha instituiçom que se poda fazer cárrego do seu mantenimento e difusom. No cronograma da sua memória anual tenhem pensado poder ter a totalidade do arquivo digitalizado em Novembro do 2021. Quase um lustro de trabalho a reo para resgatar o importante e imprescindível legado académico do comunista basco.

Outra das imagens do arquivo catalogado

Justo de la Cueva e Galiza

Já fizemos referência ao interessante estudo que Justo e Margari realizárom sobre o conflito linguistico na Galiza. Tal trabalho, tal e como assinalou Maurício Castro em um artigo na memória do nosso homem, está considerado como pioneiro no campo dedicado aos usos do nosso idioma nos últimos anos do franquismo.

Mas nem só o compromisso e ligaçom de Justo com a Galiza foi académico. Este alargou-se no tempo até conformar umha fructífera colaboraçom militante. Neste mesmo sentido o lembra o próprio Mauricio Castro, que traduziu artigos e trabalhos para a secçom galego-portuguesa da web Basque Red Net, promovida por de la Cueva. Desde primeiros do século que andamos, o sociólogo estreitou laços com organizaçons independentistas galegas, nomeadamente o partido Primeira Linha. Os seus seminários formativos para a juventude e as suas palestras sobre o futuro do capitalismo, muito influenciados polos trabalhos de Wallerstein, fórom frequentes no país na década passada.