“Yo soy una burra. Yo no sé hablar”. A mestra punha este cartaz à meninha de Angrois que falava galego. Antes malhara nos seus dedos até os fazer sangrar. Luz Fandinho ficou impactada por esta liçom de ódio. A escola franquista acossou com implacável sadismo as crianças galegofalantes. Na emigraçom Luz Fandinho escreve o seu primeiro poema onde dá voz a esta amiguinha maltratada. “Eu nom era consciente da dor que levava”, reconhece a poeta octogenária.
O fascismo espanhol cometeu toda classe de crimes para acelerar a rutura da transmissom linguística familiar. Normalizou a matança, a tortura, a impunidade. Os vínculos sociais tanto formais como informais ficárom danados. Apesar das leis aprovadas em prol do galego, hoje o contexto traumatizante continua. Herdamos a catástrofe. Explica-o Aniceto Pinilha da Semente Corunha: “Todo esse sentimento soterrado que existe nos adultos e que nom sai fora por vergonha ou porque, como todo o resto é diferente, nom tem essa oportunidade ou esse lugar para abrir-se ao mundo. Talvez a Semente, através dos próprios filhos e filhas, seja uma boa maneira de dar saída a todo esse sentimento ou afeto galego que está latente mas nom patente”.
Com certeza existe umha coerçom patente da nossa identidade linguística e nacional. Umha coerçom por vezes subtil e outras brutal. Esmagado pola falta de liberdade, o idioma sobrevive de maneira clandestina. Os filhos e filhas fornecem umha oportunidade para elaborar esta experiência traumática. O psiquismo é o social subjetivado. Os silêncios na trama familiar e comunitária transmitem-se à seguinte geraçom. Cada novo nascimento obriga a resituar-nos, a reconciliar-nos, a redefinir-nos. Nom é um capricho nem umha mania. A língua emerge como um desejo íntimo de justiça, como umha necessidade profunda da personalidade. A sua resistência e resiliência abraiam. Ante os nossos olhos a ferida linguística sutura. Recompom-se o corpo social.
O fevereiro passado assistim em Samede a um entruido tradicional recuperado pola vizinhança. Ali o meu filho achegou-se a dous mocinhos duns oito ou nove anos para brincar um bocado. Trocárom algumhas palavras e um deles espetou-lhe: “Tu eres gallego”. O meu filho respondeu: “Si, som galego”. Ao ver a sua cara de contrariedade acheguei-me para amortecer a acusaçom. Interpelei o primeiro meninho: “Ti de onde és?”. “De Velouzás”, respondeu. “E ti és galego?”, perguntei com curiosidade. Ele rotundo asseverou: “Nom”. A outra criança morava em Ombre. Quando lhe perguntei se era galego, respondeu: “Se lo tengo que preguntar a mi madre”.
Nom é a primeira vez que me acontece umha anedota semelhante. Estes dous meninhos (um dumha aldeia de Betanços, o outro dumha de Pontedeume) nom se identificam como galegos. Antes ou depois ham de descobrir o Pais que pisam e que por todos os meios lhes tentam arrebatar. Koldo Tellitu, o presidente da Confederaçom de Ikastolas, salienta que nesta rede de escolas populares ocupa um lugar central a adquisiçom da “euskal kontzientzia”, da “consciência basca”. Dificilmente o idioma pode manter-se sem consciência nacional, sem referentes próprios, sem currículo próprio.
Aludir à dicotomia público/privado para questionar a Semente roça o absurdo. No fundo despreza as 110 ikastolas abertas nas cinco províncias de Euskal Herria e ignora a infinidade de centros de ensino fundados no primeiro terço do S.XX polo povo trabalhador galego. Alguns deles mesmo exemplos pioneiros de galeguizaçom, como a escola “Devesana” de Ortigueira regida por Rafael Fernández Casas ou a escola “Aurora do Porvir” de Tominho dirigida por Antom Alonso Rios. Esta crítica também óbvia que umha quarta parte do território galego nom é público nem privado, mas umha propriedade comunal, indivisível, inalienável, imprescritível, inembargável e cujos lucros tenhem de se reinvestir na própria comunidade. Os montes vizinhais existem desde tempo imemorial. Talvez devíamos aspirar a administrar em mao comum mais algumha cousa. É hora de avançar.
Ao levarmos as crianças a Semente, renovamos cada manhá o compromisso com o galego. Um referendo diário onde a comunidade linguística está a reconstruir-se. Exercermos como galegas torna-se revolucionário. Preservar a nossa diversidade desafia o atual regime. Cada Semente conforma um ecossistema extremadamente vulnerável e de extraordinário valor. Um espaço seguro onde a língua respira e o sentimento galego aflora sem vergonha depois de décadas de violência física, psicológica e simbólica. A geraçom das mil primaveras restitui umha afetividade negada e oferece um horizonte de esperança para toda a Galiza. Língua, consciência e compromisso. Assim o ciclo de regeneraçom comunitária.