Defende acertadamente Nerea Barjola no seu imprescindível livro Microfísica sexista del poder que a cada avanço social e político do feminismo se respondeu desde o poder com umha contra encarnizada, pilotada desde os meios de comunicaçom. Ela centra-se e analisa o caso de Alcásser, acontecido nos anos 90, conhecido por todas por deixar umha fonda pegada no imaginário colectivo. O discurso mediático da altura tencionava o que se tenciona sempre, e que tam bem Silvia Federicci desbroçou em Calibám e a bruxa: disciplinar o corpo das mulheres. Várias adolescentes, fazendo auto-stop, indo de festa… Centos de casos assi acontecérom e acontecem, porém o caso das três raparigas de Alcásser foi escolhido pola imprensa para fazer a moralina pertinente.
Passárom duas décadas e hoje podemos abrir os jornais e veremos que nos enfrentamos ao mesmo discurso do terror sexual com a mesma intençom de disciplinamento e moralina: as mulheres nom tenhem que sair das suas casas, porque o perigo que hai ai fora é muito grande. A casa, o privado continua sendo o seu espaço.
“La Manada” ou “La Jauria” som os nomes escolhidos agora para adjectivar e levar para o terreno do salvagem o novo símbolo ou paradigma para a moralina: as violaçons múltiples. Nom som açarosas as palavras que se escolhem, como tampouco os discursos e o momento em que aparecem. Definindo como “La Manada” ou “La Jauria” os grupos de homens que se sintem no direito de acceder aos corpos das mulheres o poder pretende estabelecer isto como umha excepcionalidade ou questom de pessoas “fora de si”. Deixando de parte todo o discurso de classe que se deriva desta adjectivaçom e que excede com muito o espaço presente, cumpre-nos como mulheres e movimento feminista remarcar que o patriarcado e as suas agressons nom som excepcionais nem pontuais. Som estruturais e nom som manadas nem jaurias, som raparigos perfeitamente “normais”.
Com este tipo de relato falso e disciplinador pretende-se, ao mesmo tempo, colocar o foco da culpabilidade social nas mulheres. Por isso o juízo da Manada foi em contra da violada e nom dos violadores, por isso as raparigas de Alcásser na imprensa da época fôram umhas atrevidas por fazer auto-stop e, pola mesma, muitas violaçons saem judicial e socialmente de balde. Porém, algo está a mudar. O movimento feminista e as mulheres em toda parte do mundo estám a movilizar-se pola autoafirmaçom do discurso feminista: eu si te creio. E como sempre as palavras, o relato som fundamentais porque construem a realidade.
Estamos em um momento importante para as mulheres, para o feminismo. Porque se trava umha luita de poder, de legitimidade de discurso, de identidade… É um momento histórico. Denunciar a moralina mediática e social vai da mao da autoafirmaçom do nosso discurso: nom som questons pontuais, é um marco estrutural de violência. No ano 1992, como nos lembra Barjola, o discurso feminista nom conseguiu penetrar na sociedade e oferecer umha contraverdade. Hoje estamos em disposiçom de poder fazê-lo. Assi que adiante: nom som manadas, nom som tolos alcolizados, é umha estrutura, é um sistema de dominaçom que temos que derrubar e vamos fazê-lo juntas.