O liberalismo impregna toda a nossa vida. A sua lógica rege as nossas relaçons, desde as laborais até as sexuais. Converteu-se na normalidade. Se bem agora esta ideologia está afiançada, o sistema necessitou décadas de propaganda para consegui-lo. E umha das ferramentas que se empregou de jeito habitual foi um discurso do medo. Este discurso baseava-se em atemorizar a populaçom falando-lhes das “ameaças” do comunismo. Mas resulta que todas as ameaças que se lhe atribuíam no seu momento ao comunismo, hoje fam-se realidade baixo o sistema capitalista. Hoje, quem lhes rouba as vivendas às famílias som as entidades bancárias.

A ameaça comunista

A ameaça comunista nom atingia unicamente à propriedade das vivendas. Diziam, e dim, que um governo comunista controlaria todos os âmbitos das nossas vidas furtando-nos qualquer ápice de liberdade. Controlaria a propriedade das vivendas obrigando-nos a compartir a vivenda com famílias desconhecidas, obrigar-nos-ia a compartir os automóveis, obrigar-nos-ia a trabalhar em determinados postos de trabalho, incluso contra a nossa vontade, e como nom, toda a nossa informaçom, desde os nossos dados pessoais até as nossas preferências políticas seriam monitorizados polo governo.

Estas ameaças estavam a descrever um futuro que resultou nom ser tam distante, mas erravam no regime político que nos levaria a ele. Agora, quando estamos afundidas na precariedade vemo-nos obrigadas economicamente a acudir ao mercado para compartir o mais essencial. É o que venhem em chamar eufemisticamente economia colaborativa. Para isto, o sistema proporciona-nos úteis aplicaçons nos nossos telemóveis para poder partilhar com gente desconhecida o automóvel nas nossas viagens (Blablacar), a motocicleta (eCooltra), a nossa vivenda (Airbnb), a nossa horta ou jardim (Gamping), umha praza de estacionamento infrautilizada (Parkfy) ou qualquer outro objeto que podas imaginar (Rent4Me). Mesmo podemos chegar a compartir, se assim o decidimos, a comida: em concreto, a aplicaçom ResQTeam permite comer as sobras de restaurantes de prestigio. Sobra dizer que com cada repartiçom a empresa responsável da aplicaçom leva umha comissom, em definitiva, há um lucro empresarial.

Diziam que se os comunistas chegassem ao poder estaríamos vigiados dia e noite. E agora nom só partilhamos vivenda ou veículo, também compartimos voluntariamente os nossos dados e a nossa privacidade com as grandes corporaçons de internet (Facebook, Google, Apple,…) quem à sua vez vendem oss dados a quem lhos compre, bem seja a outras empresas com umha finalidade mercantil, bem seja a um governo. Compre lembrar o caso de Cambrigde Analytica, quem supostamente violaria a intimidade de 50 milhons de pessoas para utilizar os seus dados na última campanha eleitoral norte-americana.

Independência individual?

Estas práticas de economia colaborativa nom deixam de ser relaçons mercantís e além do mais reforçam o discurso neoliberal da liberdade individual.

Quando a lógica mercantil coloniza muitos âmbitos das nossas vidas chega a afetar à própria subjetividade, e percebemos as relaçons como simples intercâmbios mercantis, que se caracterizam por reger-se pola lógica da preferencia e do beneficio. Segundo este discurso, os compromissos e os vínculos pessoais, ao nom reger-se pola lógica da preferencia, som umha rémora que nos impede prosperar, que nos impede alcançar os nossos objetivos vitais e o nosso bem-estar pessoal. Quantos menos vínculos, mais liberdade. Todo isto é falso mas nom importa. Já nom é necessário ter algumha amizade que me empreste um carro, ou quem me deixe passar um par de noites na sua casa. Agora já dispomos de aplicaçons que me evitam ter que cuidar das relaçons pessoais. Os vínculos já nom som necessários.

O certo é que o capitalismo tem a surpreendente capacidade de vender-nos o pior dos males envolto com um bonito papel de regalo.