Ao procurar em google centro penitenciário de Teixeiro, na visom geral aparece:
ligar, direçons, guardar, website. Sae o endereço com link para o maps. e um relógio que marca “aberto 24 horas” Província: Corunha. Planear a visita: As pessoas costumam passar entre 45 min e 2,5 horas aqui.
As pessoas costumam passar anos. E nom está aberto as 24 horas. Está fechado. está fechado. Está fechado com muros e portas electricas e arames.
–
o vis do 6/5/19
Quando cheguei na porta havia uma criança jogando com uma mulher à bola.
Quando marchei começou a chover e havia electricidade no ambiente, era o fortíssimo recendo da tormenta.
Teto nom está preso. Nom estava preso o outro dia no vis a vis
um vis a vis é um oásis.
brindamos ali com ar que sabia a licorcafé
comemos gominolas, coraçons reboçados de açúcar com os dentes
Teto tem a perspectiva da alegria no olhar atlántico a luz das cies
num encerro em Paléncia
a prisom apaga as cores, apaga os sabores
mas um vis a vis é um oásis.
falamos tanto e abraçamos-nos tam forte e rimos com tantas ganas e fomos conscientes do privilégio
som um tipo com bastante sorte, di ele
condenado a mais de 14 anos
por defender as carvalheiras a vida a fruta fresca a língua das velhas nas bocas das crianças
por colocar-se na digna raiva frente um muro e um cárcere que já havia antes deste encerro
isso é umha posiçom política
um rotulista de vigo
organizado para que todas todo
o filho de Otilia
falando de Marx num campo de futebol
livre antes e depois de 2001
livre antes e depois de 2011
a polícia puxo-lhe um gps na bicicleta,
para controlar o seu trajeto
polas ruas da cidade
polo monte
pola peirao
pedalando
dando-lhe essa alegria ao vento
antes de 2011 já me falara de “Pedro y el capitán” de Benedetti,
também me confessou que adorava essa cançom tam triste feita do poema de Bernardino Granha, penso que foi umha noite que saíramos pendurar faixas das pontes por cima da autoestrada. Nom lembro que ponhiam as faixas.
agora, no talego
di que tem bastante sorte
ainda com a sensaçom de que lhe roubam o tempo
que já lhe roubaram 7 anos
“tenho a sensaçom de ter ficado em 2011
mas contodo, som um homem branco, ocidental, saudável, com papéis
somos a parte privilegiada do mundo, nom?”
Também somos isso.
E senti o privilégio. Senti o meu corpo moreno e saudável a minha pele de comer fruta e ter trinta anos e caminhar entre carvalhos. Senti que tinha um carro no que fazer 1000 quilómetros num dia. O dinheiro para encher o depósito. Um telefone com o que seguir as indicaçons de googlemaps. A despreocupaçom de pedir café sem saber-lhe o preço.
Eu sou branca. E tenho umha tribo que me quere e quero e o mar e o lume nosso e um país com digna raiva, e um abraço permanente com um herói que nom quer esse nome.
Sorrimos, as golosinas do economato na mesa. sanduíches de queijo e marmelo.
(É muito close-up esta foto.)
Se ampliarmos sairiam as torturas, os arames, as drogas, os ficheiros de internos de especial seguimento, o bunker, o módulo dos presos diagnosticados com problemas de saúde mental. o módulo de ingressos. o módulo de mulheres. o módulo de primeiro grau. o bunker. o bunker que nom sai em ningumha foto. Existe. E a gente encerrada nele existe e lateja a sua pele. a falta de atençom médica, as mortes baixo custódia. Se ampliar o enquadre sairiam as restricçons, as comunicaçons intervidas. O sorriso dos presos de ETA. Os livros na cela dum preso antifascista. umha condena política umha condena política umha condena política.
O chabolo é pequeno mas este preso independentista ainda tem 26 cartas para respostar. Ainda a gente a enviar cartas. Ainda um serviço de correios a fazer chegar envelopes com abraços de amigas e desconhecidas. As fendas do império e o poliamor anónimo, como o das doantes de sangue. Como as que luitam e só com luitar já nom se perde.
Nem na risa, esquecemos, nem perdoamos, Spain.
Vós a Teto, nom o dades prendido.