Poucas pessoas representavam com tanta valentia, limpeza e orgulho os ideais antifascistas. Desde o seu exílio na ilha de Ré, em França, Chelo relatou com grande detalhe a vida que levava antes do alçamento na sua aldeia natal, Soulecim, e os acontecimentos que a levárom primeiro a participar do Serviço de Informaçom Republicano e depois ao monte. Celebrarmos a figura desta mulher é celebrar muitas cousas relevantes para todas nós. Porque era mulher num mundo de homens, porque era galega, porque era humilde, do povo.

Filha de labregos com certa consciência política, quase toda a sua família foi liquidada polo franquismo. Assassinárom aos pais na casa familiar, a raíz de um enfrentamento armado entre forças da orde e um dos irmaos da família. Passou em várias ocasions antes se integrar na guerrilha polas prisons do Barco, Ponferrada e Leom. Como consequência do irrespirável ambiente que as forças armadas do franquismo submetiam a contorna em que viviam e às duas irmás no concreto ( ela com a sua irmá Antónia desenvolviam tarefas de enlaces da guerrilha) subírom à cidade da Selva, onde permanecérom até a sua fugida a França. Consuelo logrou fugir depois de estar vivindo clandestinamente na cidade de Madrid.

A sociedade daquel tempo nom nos entendia”

Um dos argumentos que o franquismo utilizava para desacreditar a militância e valia de todas aquelas bravas mulheres que militárom contra o alçamento era assinalá-las publicamente como as “putas dos roxos”. Relata-o Consuelo para o necessário e imprescindível livro de Aurora Marco Mulheres na guerrilha antifranquista galega: “Naquele tempo às mulheres que andavamos com guerrilheiros chamavam-nos putas. Eram os fascistas e a Garda Civil. (…) É algo que nom admito. As guerrilheiras éramos como todas as mulheres e nada tínhamos a ver com a imagem que tinham de nós. (…) Eu era dona dos meus actos e nom tinha que dar explicaçons a ninguém”.

É habitual que o poder estabelecido e a imprensa que fai de alto-falante desacredite o trabalho das mulheres militantes. E é umha realidade que chega aos nossos dias. Lembremos como a militante do EGPGC Josefa Rodrígues fora alcumada na imprensa depois da sua caida tendenciosamente como “ a Porca”. As mulheres envolvidas em política sempre sofrérom silenciamento ou injúrias por parte da orde patriarcal. Consuelo Rodríguez foi muito visionária denunciando aqueles feitos tantos anos há.

A guerrilha da chaira, fundamental para a luita contra Franco

O guerrilheiro berciano Francisco Martinez Quico, tem reconhecido em várias ocasions que sem as mulheres, que cumpriam fundamentalmente tarefas de enlace, informaçom e aprovisionamento, a guerrilha nom poderia ter resistido tanto tempo. Eram precisamente as mulheres as que integravam principalmente a guerrilha da chaira. Ficavam nas suas casas e dedicavam-se a tarefas de apoio da guerrilha. Por isso mesmo também estavam mais expostas à repressom, às torturas e às loucuras em geral das forças franquistas. Em muitos casos os seus tormentos eram feitos públicos para moralizar e deixar bem sentado que as mulheres nom se dedicavam a tarefas políticas.

Deixa-nos umha mulher que tivo umha vida dura e extraordinária, mas que entendeu que só luitando era o jeito de poder suportá-la: “ Daquela etapa só tenho bos recordos. Era umha vida perigosa, dura mas preciosa. Foi a etapa mais bonita da minha vida. Eu estava luitando por um ideal ao lado da pessoa que mais queria. Para mim foi um orgulho participar daquela luita e nunca renego do meu passado nem me nego a falar daquilo”. Até sempre, Chelo. Que a Terra che seja leve.