A naturalizaçom das dominaçons resulta fundamental para a sua perdurabilidade. As narrativas hegemónicas estabelecem que os submetidos som-no porque estám predispostos para a subalternizaçom por raça, género ou classe. Isto exculpa o dominador, já que a sua opressom se apresenta tam inevitável como a predaçom dum herbívoro por um carnívoro. Aliás, fai-lhe aceitar a sua minorizaçom e exploraçom ao dominado, o consentimento do dirigido que indicava Gramsci.
Porém, Nelson Maldonado nos seus estudos sobre a ontologia dos colonizados assinala a dobre cara desta inferiorizaçom. Por umha banda “feminiza-se” o escravo negro ou o indígena, fazendo-o dócil de seu, emocional e servil. Aplica-se-lhe o cliché da mulher na sociedade capitalista, que tam bem lhe estava a funcionar a este sistema-mundo prévio extermínio das bruxas. Assim, a mulher e o colonizado som submissos e emocionais por natureza, incapazes de se regerem por si mesmos. De aí a sua necessidade congénita de que o homem branco capitalista os domine. Mas por outra banda, esta infantilizaçom do/da Outro/Outra agacha os medos que os dominadores sentem nessa relaçom e que tam bem descrevem Fanon e Sílvia Federici. O negro Tio Tom camufla o pânico ao cimarrom violento e rebelde, a esposa monógama e perfeita ama de casa burguesa oculta o terror cara à bruxa livre e castradora.
Helena Miguélez abrangeu esta questom aplicada ao caso galego com impagável acerto no seu Galiza povo sentimental. A construçom da imagem do povo galego como submisso, emocional e “feminizado” foi o contraponto dos celtas selvagens e livres da narrativa galeguista do XIX. O paralelismo coa dialética em que se ergue a identidade irlandesa moderna é clara neste caso. De violentos, bêbados e lúrpias nos séculos XVI, XVII e XVIII frente aos civilizados ingleses e castelhanos, acabamo-nos transformando em choromiqueiros e saudosos entranháveis no romântico e colonialista XIX. De facto, no levantamento irlandês da Páscoa de 1916, os jornais assinalárom aquilo como umha manobra alemá (lembremos que estavam em plena I Guerra Mundial), já que os coitados irlandeses eram incapazes de se rebelar contra o Império Británico por natura. Na imprensa londinense proliferárom as bulras para a rebeliom dos pailáns quando se soubo a verdade. Contodo, aginha o tempo fijo que, nas mesmas páginas, a imagem mudasse de novo para a do selvagem terrorífico mercé à luita do IRA de Michael Collins. Pola mesma, os jornais inscrevérom a morte de Moncho Reboiras na atividade de ETA, pois resultava inconcevível a violência defensiva dos coitados galegos na frente militar da UPG. Igualmente, quando o EGPGC estourou o chalé de Fraga em Perbes, a sua mulher proclamou na imprensa que aquilo nom o puderam fazer galegos.
Estas duas facianas da narrativa colonial manifestárom-se com claridade esta semana a raiz das detençons da “Operaçom Lusista”. Os autores fôrom dous galegos que bem poderiam ilustrar apéndices do Retrato do colonizado de Albert Memmi ou da imagem do negro do paço e o negro da leira de Malcolm X.
No papel do cronista dos conquistadores contra os seus selvagens paisanos, como um Vasco da Ponte moderno, Javier Romero. Desde a infame La Voz de Galicia, sustida com fundos públicos, apresenta o EGPGC e a resistência galega como responsáveis de centos de mortes canda ETA e o GRAPO. Numha delirante narraçom ateigada doutras muitas falsidades, pinta os galegos cimarrons vivendo na “madriguera” onde estavam “acorralados tras 13 años escapados”. A animalizaçom resulta evidente. Fala de “columna vertebral” da terrível organizaçom armada referindo-se a Causa Galiza, umha força política. Introduz o mal absoluto da potência inimiga criada polos próprios mídia: “abandonar Europa en busca del calor de Venezuela y de la complicidad que allí encontraron con otros socios de la lucha armada en España.” Porém, os sanguinários bravus nom contavam coa fina sofisticaçom dos civilizadores: “Pensaban, erróneamente, que esquivaban a la Guardia Civil. Subestimaron la paciencia y la invisibilidad de los Servicios de Información del instituto armado en Galicia.” Assim, a Guardia Civil aparece como triunfadora única na extinçom de ETA e os GRAPO, tal que os sucessores de Cortés, Pizarro ou Mudarra. Coma eles, podem empregar o direito de guerra: “se intervinieron decenas de teléfonos, ya fuesen móviles, de línea fija o públicos. Lo mismo ocurre con otras conexiones a la Red en edificios de uso abierto (…) Un gran hermano judicializado que se justifica en cada memoria anual sobre terrorismo del Ministerio del Interior.” Todo para que os rebeldes embrutecidos com “mas (sic) voluntad que cabeza” nom dessem aturado “el aliento de la Guardia Civil en sus nucas.” O sétimo de cavalaría contra os lakotas.
No rol de colonizado bufom dos metropolitanos, o negro simpático dos filmes de Tarzan, David Broncano. Galego acidental nado em Compostela mas criado em Jaén que apela à sua galeguidade com um sotaque espanholíssimo para caricaturizar-nos mediante a cadência italiana. Este humorista da progressia mesetária critica o discurso policial da “Operaçom Lusista” mas invocando o cliché colonial. Como imos as galegas praticar a luita armada se estamos incapacitadas para tomar decisons e somos submissas de forma inata? Que mais tem que as maos agrárias e armadas de nossas tataravós fossem as primeiras em derrotar o invencível exército napoleónico? Que importa que a guerrilha galega fosse a que mais tempo resistiu o fascismo na Europa? Quem pode lembrar que a Galiza está na cabeça das mobilizaçons do Estado espanhol apenas superada pola Catalunha do Procés? Ao cabo, para eles somos tam coitados como os irlandeses que pintava a imprensa británica em 1916. A “esquerda” mediática espanhola defende-nos como quem protege um filho parvo, reforçando a ideia da nossa inferioridade natural.
O ponto comum das duas óticas é a irracionalidade, o sentimentalismo, que se nos atribui para justificar a dominaçom desde a sua suposta imparcial racionalidade. Frente a essa sua narrativa infantilizante, cumpre erguermos e socializarmos um discurso integral e libertador que a descubra. Mas sobre todo, umha nova narrativa que nos empodere e nos encha de esperança desde os dados e a nossa própria razom. Em palavras de Foucault: “Cumpre nom somente defender-nos, também afirmar-nos e afirmar-nos nom somente enquanto identidades, senom como força criativa.” Ah, e LIBERDADE PATRIOTAS GALEGAS!