Há uns anos que eu, fiel seguidor de La Tuerka, abraiei ao comprovar o extraordinário estoupido nos meios comerciais espanhóis da figura de Pablo Iglesias. O sorpressivo impacto pretendia-se justificar apelando à qualidade da tertúlia que ele apresentava e à sua capacidade de gerar audiência em cada intervençom. Nascia, aparentemente de seu, um auténtico fenómeno de massas que reproduzia a sua figura crística desde os ecrás da ultradireita até La Sexta, novo vozeiro oficioso dos rescaldos do 15M. “As empresas da comunicaçom som empresas e vivem da audiência, por isso o levam, porque lhes dá benefícios.” Velaí o razoamento simples que pretendia aplicar toscamente a máxima marxista de que o sistema cria as armas da sua própria destruiçom. Como se La Sexta nom pertencesse a Atresmedia e nom houvesse interesses políticos para além das audiências no grande monopólio da comunicaçom do Estado espanhol. Endebém, os sudres do caso Villarejo, ainda nos descobrírom recentemente que toda aquela corda para o nascimento de Podemos fora planificada dentro da luita partidista coa intençom de erodir e fragmentar o voto PSOE. Contodo, cumpre reconhecermos a capacidade da dirigência podemita inicial, o núcleo complutense, para dar todo um recital de comunicaçom política e aproveitamento do chance.
Essa mesma dependência mediática desde a que se quijo reaproveitar o 15M para constituir umha alternativa exclusivamente eleitoral foi a tomba do projeto. Espalhado como um fenómeno fan no nosso país, no canto de quadros, a estrutura orgánica do novo partido compunham-na repetidores de palavras de ordem e até de gestos e cadências das estrelas televisivas. Sem sindicatos de seu nem estruturas culturais, mediáticas e movimentárias que acompanhassem quando menos o institucional, sem corpo, proliferavam como clubes de trekkies sabichons salferidos polas vilas e cidades. No momento em que os vozeiros mídia do regime o decidírom, freárom o processo apresentando a Ciudadanos como reforma sistémica mais aceitável e pulando contra qualquer possibilidade de governo PSOE-Podemos. Era quando Pablo Iglesias sinalava a Jogo de Tronos como modelo da política real, onde só importava a conquista do poder por cima dos valores e das ideias em si mesmas. Hoje Podemos só tem 3 concelheiros em toda Galiza.
Porém, as temporadas de GOT continuárom e evidenciárom a equivocaçom das teorias de Laclau podemitas paralelamente à sua queda vertiginosa. As legitimidades e as identidades nom se construíam da nada, pesava a tonelagem da profecia do príncipe prometido na série televisiva como pesam os arquétipos de Gustav Jung e o monomito de Joseph Campbell na construiçom política real. Como pesa a memória das luitas nas comunidades e a materialidade das discriminaçons e opressons na construiçom das identidades. De facto, nom resulta difícil identificar os arrepios da voda vermelha cos que nos produz a traiçom de Robert Bruce em Braveheart, a de Efialtes em 300, a de Saruman no Senhor dos Anéis, a de Judas a Jesus… a de Podemos ao Procés de ruptura co regime em Catalunha. É a traiçom aos bons que se repete nas principais sagas épicas da humanidade.
Durante a maior parte do nosso percurso como espécie, educamos mediante histórias. Histórias que para Jung apresentam estruturas comuns a todas as culturas humanas e que Campbell reduz à viagem do herói. Milán Kundera contrapunha o “sinto, logo existo” ao “penso, logo existo” cartesiano. Nos últimos dez anos, neurocientíficos como Antonio Damasio confirmam-no. Os humanos primeiro sentimos e depois racionalizamos esses sentimentos em opinions. As narraçons que nos educam tenhem a capacidade de fixar em nós pautas de conduta e valores através das emoçons que nos produzem. Alexandre Bóveda ou Bobby Sands aceitando o seu martírio nom deixam de ser reproduçons do modelo cristao em que fomos educados direta ou indiretamente. O herói atraiçoado, imola-se pola salvaçom coletiva e ressuscita nos continuadores da sua luita. A narrativa construída por umha parte do independentismo catalám arredor de Puigdemont ou Junqueras oferece um exemplo mais próximo. Porque velaí o principal efeito dos arquétipos que cingem o nosso marco cognitivo, tendemos a identificar-nos individual e coletivamente neles para materializá-los. No capítulo final de Jogo de Tronos (Alerta Spoiler), Tyrion propom a Bran como monarca porque ele possui umha “grande história” detrás para identificar-se e continuar. O eivado Rei Pescador do ciclo arturiano ou o Odin/Woden varado e chosco, cos seus corvos mensageiros, também respiravam baixo aquela imagem da HBO.
George Lakoff, desde a ideia de que estruturamos o conhecimento a partir de metáforas que nos turram das emoçons, realizou umha grande descoberta sobre a democracia ianque nos anos sessenta. O modelo de família do patriarcado capitalista, os seus roles, era invocado como marco cognitivo de referência nas narrativas políticas do seu regime turnista. Os conservadores correspondiam-se co pai autoritário que punha ordem e salvava a economia familiar com restriçons e repressom frente a uns democratas consentidores, flexíveis e sentimentais, identificados coa nai do patriarcado capitalista. Tywin Lannister frente a Catelyn Stark. O recurso emocional a esses arquétipos resulta tam evidente como a aplicaçom ao nosso contexto político estatal, imitador da democracia liberal.
A narrativa do Regime do 78 apresentava uns marcos cognitivos sólidos que garantiam a sua perdurabilidade. A sua hegemonia entendida como Gramsci, o consenso pasivo das classes e povos dirigidos. A crise económica contribuiu a umha crise de regime que provocou a recomposiçom e atual estabilizaçom co governo presente do PSOE. Neste processo, o nacionalismo e o soberanismo galegos sofrérom um golpe sem precedentes nas últimas décadas. A narrativa oficial espanhola assumia a existência de movimentos nacionalistas folclorizando-os e feminizando-os no sentido que tem sinalado Helena Miguélez. De facto, contribuíam a legitimar o seu autonomismo do café para todos e multiculturalismo liberal. Porém, coa imagem de filhos desagradecidos que se emperrenchavam cos seus particularismos condenava qualquer pretensom real de soberania. Contodo, o catalanismo soubo canalizar a crise de regime cara umha nova narrativa de ruptura soberanista e provocou o problema mais grave para a II Restauraçom Bourbónica desde a sua apariçom. Entrementes, coa cisom de Ámio e o Novo Projeto Comum, Beiras, numha linha semelhante, prometia galeguizar o 15M que o BNG rejeitava. Um chance extraordinário que o oportunismo eleitoral do catedrático esfarelou coa proposta de criaçom de AGE. Mais grave que a ressurreiçom institucional dos zumbis de IU, sobrealimentados até daquela polos salários amarelos de CCOO, foi a mudança da narrativa que isto impulsou. O marco cognitivo do país agredido polos poderes foráneos, a imagem emotiva da defesa da comunidade própria, era a contraposiçom narrativa que lançara historicamente o nacionalismo galego contra a caricaturizaçom folclórica oficial. Agora, um dos principais propagadores desse relato condenava-o nos mesmos termos do discurso hegemónico evocando a uniom dos dispares frente ao inimigo maior. Este inimigo maior que justificava os acordos eleitoralistas mudou de rosto segundo a ocasiom, do fascismo económico do Banco Central Europeu acabou no espantalho do medo a VOX que axotou o regime para coroar de novo o PSOE. E de aí à atual desfeita eleitoral das mareas em que o beirismo ficou com cara de parvo após reforçar os marcos cognitivos hegemónicos e carregando coa mesma responsabilidade histórica que a casa Frey do Tridente. Sim, os “independentistas radicais” e “comunistas” da Posiçom Soto também tenhem muito dos Bolton em todos os aspeitos dos personagens.
Manuel Castells, um dos referentes teóricos na comunicaçom do núcleo irradiador podemita, identifica três emoçons fundamentais na construiçom de discurso político efectivo. A principal e mais poderosa é o medo, trás ela, com possibilidades de superarem-na em combinaçom, a raiva e a esperança. Qualquer discurso político, ainda expondo o melhor programa do mundo, que nom acirre essas emoçons há fracassar. E a adaptaçom, como dizia Sun Tzi, é a chave de toda estratégia vitoriosa. Que lho perguntem a Varys ou a Ho Chi Min.
Nas últimas eleiçons municipais, contra o que se diga e puder parecer, o BNG obtivo menos votos que nas de 2015, 187.901 frente a 189.465. Também menos concelheiros, 457 frente a 468. A perda do apóio das Mareas desfeitas nom se traduz em apóio ao BNG. Como bem sinala David Rodríguez no seu artigo: “Há um problema objetivo de penetraçom do Bloco na Galiza urbana, que é como dizer no 70% de Galiza. Desse problema sacou partido Podemos no seu momento e o PSdG agora.” Cumpre um debate aberto que permita elaborarmos umha nova narrativa soberanista, um novo discurso de país que unifique estratégias além de unidades orgánicas e eleitorais. Causa Galiza demonstrou compreendê-lo quando pediu o voto no BNG para as estatais. Nom vai ficar independentismo se a presença do discurso nacional segue o atual devalo. Pola mesma, a possibilidade dum segundo bipartido na Xunta com um BNG ainda mais debilitado que o do primeiro, duvido que seja desejável a meio praço para o nacionalismo institucional. Precisamos umha nova estrategia comum para evitar o império da Khalessi Pedro Sánchez se queremos um Norte livre. Sim, cumpre umha posiçom Sansa Stark.