Resgatamos artigo da autoria de José Manuel Barbosa para aprofundarmos na história desconhecida da nossa língua e ajudar a comemorar um 17 de Maio mais consciente e combativo, necessidade hoje especialmente importante. Imposiçom do castelhano tem um alcanço secular que devemos entender e analisar para entender o ponto em que nos encontramos hoje.
Ao quebrar-se a unidade política galego-portuguesa de época medieval, as modificaçons e deturpaçons linguísticas acentuam-se na Galiza deslocando-se o centro de gravidade político do Norte para o Centro-Sul em Portugal e para Castela no que diz respeita da Galiza. As duas polas da mesma árvore afastam-se, umha sob a influência substrática moçarábiga e a outra sob a pressom do castelhano. Enquanto a variante lusitânica, enriquecendo-se com as profundas renovaçons léxicas do Renascimento e do Humanismo que a fornecem dum vocabulário culto adequado do mesmo jeito do que as outras línguas romances; a variante galega fica ruralizada e reduzida a fala coloquial e familiar na que a única literatura existente que há é de tipo popular e oral. O castelhano passa-se a ser agora a língua de cultura dos galegos, assim como da administraçom, agindo de superestrato sobre a fala do país gerando umha situaçom de diglossia que leva a umha série de mudanças na língua dos galegos que ao lado das variaçons expontâneas da própria fala vai afastar o galego-português da Galiza do medieval.
Ao faltar-lhe o modelo escrito, já que o modelo português fica afastado por razons políticas, a fala dialectaliza-se e castelhaniza-se ao ser utilizado o castelhano como modelo formal.
Assim, no léxico só se vai conservar em bom uso o pertencente ao âmbito rústico, rural e marinheiro, mas todo o léxico da administraçom e do mundo espriritual e/ou intelectual nom fica desenvolvido suficientemente, desaparece o existente ou é substituído polo castelhano.
Na Fonética vam-se produzir fundas transformaçons; umhas como consequência da própria evoluiçom da língua e outras condicionadas polo espanhol mas todas elas vam determinar a feiçom da língua da época e daí em adiante, mas também na grafia acabam por esquecer-se as formas medievais excepto algumhas honrosas excepçons; assim, quando se escreve em galego, fai-se com a ortografia do espanhol que mesmo se decalca das mudanças que a língua de Castela leva a cabo no século XVIII.
Formas gráficas como o uso do B e do V, também do Ç e do Z à forma galego-portuguesa histórica que até a altura coincidiam com os usos em espanhol deixam de ser usadas quando a RAE (Real Academia Espanhola da Língua) decide mudar os seus usos no castelhano para a forma actual no ano 1726 ao publicar o “Diccionario de Autoridades”. Grafias como o “Que” “Qui” em palavras como “frequente” “aquifero” som deixadas polo uso do “cue” “cui” (frecuente, acuífero) quando a própria ERA modifica a ortografia do espanhol no ano 1815. Mesmo os usos do acento som decalques das formas como a RAE preceitua para o espanhol esquecendo os que adaptam para a língua da Galiza a difente abertura das vogais na língua do país e afastando os usos escritos do resto da lusofonia.
Da mesma forma do que a maioria das línguas da Europa ficam fixadas por gramáticas, os estudiosos, linguístas e escritores que vam passar à história, na Galiza a nossa língua nom vai acompanhar essas preocupaçons. A imprensa, recém descoberta, nom vai trabalhar para a língua dos galegos na Galiza e só contamos com um pobre Vocabulário do Bachaler Olea no 1536 para além de achegas dos professores da Universidade de Salamanca Fernán Nunez e Gonzalo Correas.
A maior parte dos textos redigidos na Galiza som editados em latim ou castelhano enquanto a fala do país, aliterária e acultural fica ágrafa e dialectalizada pretensamente inútil para a ciência, a arte, a cultura e a religiom, em favor do castelhano. Isto é a consequência das leis das Cortes de Toledo do 1480 que ordenavam o conhecimento obrigatório do castelhano para obter o título de escrivao, o que vai fazer quase desaparecer a língua dos galegos dos documentos oficiais. Isto, junto com outros condicionantes políticos e económicos faz com que o galego-português da Galiza esmoreça pouco a pouco do ponto de vista da escrita, mas nom no oral do povo que o mantém como língua de uso normal e habitual. Só umha minoria próxima ao poder político usa e mantém o castelhano como a sua língua embora nom possa substrair-se à língua do país na que estám inseridos.
É no 1768 quando a Real Cédula de Aranjuez obriga a que no ensino se use o castelhano em toda a Coroa, o qual atinge também à Galiza, mas com muitos obstáculos para se impor porque a maioria da populaçom galega está longe do ensino pola sua condiçom económica camponesa, marinheira e em qualquer caso popular e nom de condiçom nobre quem sim, -os nobres- também já castelhanizados de antes podem aceder à instruçom.
O galego-português desta época é maioritariamente falado embora exista algum texto escrito, sobretudo no periódo Barroco, como breves poesias ou obras de teatro como o “Entremês famoso sobre a pesca do rio Minho” de Gabriel Feijó de Araujo, ou os cantos natalícios, cantigas de cego, de berço, contos, cantos de trabalho, entruidos, regueifas, etc. A castelhanizaçom lexical, ortográfica, morfológicosintáctica e de estilo começa a fazer a sua apariçom, mas é durante o século XVIII quando a ilustraçom começa também a fazer o seu trabalho de crítica e reivindicaçom. Som os Padres Ilustrados os que contestam a situaçom sócio-económica, social, cultural e linguística do país, a situaçom de marginaçom e marginalidade da língua. O Padre Feijó, O Padre Sobreira, O Cura de Friume e o Padre Sarmento som os que empregam os seus esforços em reconhecerem a unidade linguística galego-portuguesa e aliás levam a cabo um trabalho de recolha lexical e de criaçom poética e reivindicaçom dum ensino na língua do país, mas nom se pense com isto que é a igreja a que trabalha em prol da cultura e da língua do país, mas ao contrário, é esta instituiçom a que contribui com mais força no uso e introduçom do castelhano entre o povo e na documentaçom, mesmo até o incumprimento do Concílio de Trento do 1562 no que se tivera acordado a utilizaçom das chamadas línguas vernáculas no seu labor pastoral com o objectivo de que se pudesse entender melhor a mensagem cristã que até essa altura se vinha fazendo em latim. A igreja galega desatende isso até introduzir graves castelhanismos na fala popular como “iglésia”, “pueblo”, “Dios”, etc…