Juan Varela Blanco, dos cárceres de Franco à presidência da câmara municipal de Vilarmaior

Nas eleiçons municipais de 2019 Vilarmaior vai ser o único concelho da Galiza onde só se apresente umha candidatura, a do Partido Popular. Porém, na comarca do Eume as aparências som enganosas e o substrato antifascista nutre todas as freguesias.

Em 1949 abriu as suas portas o Cine Rádio na popular Feira do Três. Funcionava sábados e domingos à tarde. Empregava um Ossa VI, um dos melhores projetores do mercado. Os dias de feira, três e dezanove de cada mês, havia sessom continua. De Vilarmaior saiam carros de leite para A Corunha e voltavam carregados com as bobinas dos filmes. O seu fundador: Juan Varela Blanco.

Durante a Segunda República, num período de expansom territorial do nacionalismo, Juan Varela impulsou a agrupaçom local do Partido Galeguista. Integravam a “entusiasta e trabalhadora” diretiva os seguintes irmaos: Ricardo Varela, presidente; Germám Rodriguez, vice-presidente; Juan Varela, secretário; Emílio Doural, vice-secretário; José Infante, contador; Antom Vilarinho, Tesoureiro; José Rubianes, bibliotecário; e, por último, Antom Gomez, Andrés Escariz, José Varela e Antom Infante, vocais.

O jornal “El Pueblo Gallego” de Vigo recolhe o meeting que organizam na Feira do Três o domingo 3 de novembro de 1935. Juan Varela tinha vinte e cinco anos. Encarrega-se das apresentaçons dos oradores: Genaro Ruano, da Mocidade Galeguista; Plácido R. Castro, presidente do Partido Galeguista da Corunha; e os ex-deputados Ramom Suarez Picalho e Antom Vilar Ponte. Os ilustres nacionalistas forom acolhidos com entusiasmo por “legions de moços aldeans” que acudiram das comarcas próximas. Também havia muitas mulheres e velhos camponeses.

“Considerárom absurdo o apoio na Galiza a partidos centralistas que defendem interesses opostos aos nossos, como a CEDA ou o agrário de Martinez Velasco, fazendo ver aos lavradores que com a uniom de todos e mediante o estabelecimento da Autonomia e o cooperativismo o Pais galego poderá converte-se, de manso e escravo, num pais próspero, modelo de civilidade e de decência republicana”.

Em maio de 1936 Juan Varela fai parte do derradeiro governo republicano. Foi nomeado vereador de instruiçom pública e sanidade. Em junho desse mesmo ano tivo lugar um novo meeting em prol do Estatuto. O secretario do Partido Galeguista de Vilarmaior, Juan Varela, exerce de mestre de cerimónias. Intervenhem Júlio Wonemburger, republicano independente; Ramom Vilar Ponte, nacionalista; Arturo Sábio, do Partido Comunista; e Eduardo Fernández Berger, de Uniom Republicana.

A pesar da gigantesca matança perpetrada polo fascismo espanhol, as convicçons democráticas de Juan Varela ficam inabaláveis. Foge ao monte entre 1936 e 1941. Daquela reincorpora-se à vida normal e colabora com o movimento guerrilheiro. Entre outras atividades: recebia mensagens do exterior, distribuía “Mundo Obrero”, fornecia comida, subministrava muniçom da Fábrica de Armas corunhesa e facilitava informaçom sobre assassinos fascistas.

Enquanto cortava nos pinheiros, Juan Varela estudou radiotecnia por correspondência. Depois abre um obradoiro onde primeiro monta e vende rádios de galena e mais tarde televisores. Graças à Pirenaica, Vilarmaior conhece a marcha imparável do Exército Vermelho e celebra a derrota de Hitler.

Bernardo Maiz lembra que na entrada da sua casa tinha penduradas as estampas de “Galiza mártir” e “Atila em Galiza” de Castelao. O historiador do Seixo transcreveu algumhas das suas vivências como enlace da resistência: “Eu fum recolher à praia de Minho um fuzil metralhador, que deixara umha balsa de goma dum submarino inglês. Foi no quarenta e três”. “Se eu lia no periódico um anúncio de que se vendia papel velho em tal sítio, já sabia que havia folhas para repartir. Se outro enlace levava ao futebol um chapéu em vez de boina, era que havia um ferido… E muitas mais que nom digo, que igual fam falta outra vez”. “Houvo umha mudança que bem se notou. Andávamos com os Aliados, mas já diziam que a libertaçom tinha que ser cousa nossa”.

Em março de 1952 foi julgado num conselho de guerra sumaríssimo junto com o mugardês Andrés Fernández Dopico e o minhense Juan Diaz Blanco. Este último era curmao de Juan Varela Blanco. Nascera em Calhobre e à volta de Buenos Aires simpatizava com o comunismo. No bairro de Esteiro regia a taberna Casa Diaz situada mesmo na porta da Bazán. Esta ubicaçom facilitou-lhe o labor de rearticulaçom do Partido Comunista de Ferrol. Assim ficárom distribuídas as responsabilidades do comité local em 1942: Juan Diaz Blanco, secretaria política; Antonio Ares Abelleira, agitaçom e propaganda; e Benigno Fraga Pita, organizaçom.

Juan Varela estivera detido junto com o seu irmao Francisco Varela em 1949. A pesar das selvagens torturas, nom conseguiram provar a colaboraçom com “as partidas de bandoleros”. Mas em 1952 a Guarda Civil eliminou numerosas bases de apoio e multiplicou as rusgas. O sumário desta nova causa recolhe um dado arrepiante: Juan Varela, achando-se detido, tentou suicidar-se com a fivela do cinto. Infringira-se vários cortes no pulso esquerdo. O fiscal solicitou umha pena de quinze anos de reclusom. Consegue reduzir a condena realizando trabalhos de cozinheiro e de eletricista. Na prisom provincial da Corunha foi testemunha da execuçom mediante garrote vil de Benigno Andrade “Foucelhas”. Amparo Rivera, neta de Juan Varela, conserva com especial carinho umha fotografia: Ela e um lote de crianças no pátio do cárcere da Corunha. Essa foto é a primeira lembrança do seu avó.

Após a Segunda Restauraçom Boubónica, cria umha candidatura de esquerdas em Vilarmaior. Quebra a dinámica caciquil e em 1979 sai eleito presidente da câmara municipal. Como autodidata assume umha prioridade: Construir um colégio nos terrenos municipais da Feira do Três. Quando tinha avançado o projeto, no pleno botárom-lho abaixo. Voltou tam desgostado à casa que ao pouco lhe deu um enfarte cerebral que lhe paralisa o braço. Acabarám fazendo o centro de ensino fora do concelho, em Campolongo. Meses depois sofreu um novo enfarte ainda mais forte que o retira da vida política. Contudo, sempre mantivo contacto com velhos e novos camaradas tanto do PC como do BNG: Paco Balón, Xosé Luis Picallo Allegue ou Xosé Maria Rivera Arnoso.

A encruzilhada da Feira do Três constitui um lugar central na vida comunitária. Do mesmo jeito, os caminhos da liberdade de Vilarmaior, tanto os públicos como os clandestinos, desembocam em Juan Varela Blanco. Ao longo da sua vida empreendeu múltiplos projetos para expandir os progressos técnicos e democráticos. Era um dos bons e generosos por isso foi perseguido, encarcerado e torturado. Quase ninguém o lembra. Hoje ali já nom há cinema nem loja de ferragens nem cantina. Mas o seu exemplo continua a iluminar-nos.