Amiúde se tem falado da Galiza como umha regiom atlántica, com particularidades geográficas e antropológicas partilhadas no marco do eixo Atlántico com outros lugares como o norte da França ou as Ilhas Británicas. Também se tem falado de umha suposta personalidade atlántica e mesmo vinhos da Galiza som publicitados aludindo ao seu carácter atlántico. Mas que hai da outra Galiza, a cantábrica ? Ou melhor, que hai da Galiza que pode ter a possibilidade de ser atlántica e cantábrica à vez ? Conhecemos um lugar dos Ancares onde na margem direita as suas águas vertem ao Cantábrico e na margem esquerda ao Atlántico. O alto do Lago e a estrada que nos leva a ele som umha divisória de águas.

Umha linha divisória de águas nom significa só que as águas de um lado vam para um mar ou océano e as do outro para outro diferente. Amiúde as divisórias de águas fôrom utilizadas como critérios geopolíticos e de divisom administrativa. Em terrenos montanhosos estas linhas passam habitualmente polas cristas. É o caso que nos ocupa hoje. A serra do Lago é umha das muitas formaçons montanhosas da comarca dos Ancares. Pertence ao concelho de Becerreá e os vilegos deste concelho conhecem esta zona do lugar popularmente como «  A Serra ». A estrada que vai desde O Cereixal a Louxas tem umha importante paragem no alto do Lago ( 1011 metros). Para além de existir um vértice geodésico na Pena Quente que nos oferece essa altura, a estrada que parte em dous ao povo passa justo pola crista da montanha que fai de divisória de águas. Olhamos à margem direita e estám Os Ancares nevados e o Návia ( vertente Cantábrica) e olhamos à margem esquerda e podemos ver de noite as luzes da cidade de Lugo e mais perto povinhos pequenos de Baralha e outros concelhos cercanos. Por esta banda está o Neira e vertem ao Atlántico. Em cousa de metros podemos ser atlánticas ou cantábricas. Estamos em um lugar, quando menos, curioso.

Toponímia referente à água

O próprio lugar do Lago dá-nos conta de que no passado houvo umha lacuna. Hai habitantes de Sarceada (aldeia cercana) que lembram escuitar na casa que a água da lacuna do Lago foi levada polos mouros desde o castro de Cantiz, que se pode ver desde o Lago embaixo. Na zona da lacuna as pessoas da zona iam recolher barro para fazer as casas e os fornos, pois é um terreno arxiloso. Também antes do Lago estám os povos de Foncova e Caldoval. O blogue Patrimonio dos Ancares oferece-nos dados sobre esta toponímia. No caso de Foncova, o nome derivaria do latim e faria referência a umha fonte e umha cova. Caldoval, por sua vez, poderia ter relaçom com umha canle de água. Mas é que a própria paróquia à que pertencem estes povinhos está relacionada com a água. Fontaróm, lembra-nos o colectivo, poderia derivar de « Fonte Airom », o deus do inframundo que habitava poços e lacunas. Este núcleo paroquial está hoje por hoje muito afectado polo despovoamento que vazia o interior da montanha lucense, mas algumha das suas paroquianas lembra quando nele viviam mais de sesenta pessoas. Fontarom contava com posto da Garda Civil na posguerra e também na sua escola ( fechada hai décadas) exerceu como mestra a guerrilheira anti-franquista Enriqueta Otero. Precisamente alguns vizinhos da Caldoval lembram umha ocasiom em que o seu carro avariou na estrada Cereixal-Louxas que referenciamos. Um labrego da zona estava trabalhado na sua eira quando Enriqueta Otero lhe berrou ao longe : «  Campesino, ayúdeme ».

Na ligaçom a seguir podem ver-se desde o alto do lago Os Ancares lucenses. Se nos fixamos também a antiga lacuna referenciada, que em época de neve e choiva serve de fonte para o gado da zona.


Uns outros limites geográficos

A confederaçom hidrográfica do Minho-Sil inclui territórios galegos sob administraçom leonesa e asturiana. O rio Neira é o último pola direita desta confederaçom. As suas fontes estám na Serra da Portela, no lugar da Fontaneira, concelho de Baleira. A este concelho podemos chegar pola estrada Cereixal- Louxas antes referenciada. As primeiras águas da nossa divisória pola margem esquerda vam parar a regatinhos e fontes que se encaminham ao Neira e depois ao Minho. Um deles é o rio do Carvalhal de Fontarom, que começa a formar-se a escassos metros do alto do Lago. O rio Neira é um rio de apenas 56 kilómetros, mas tem umha riqueza muito grande e grande sona por ser um rio de muita abundância de truita. O Neira desemboca no Minho, e desde o lugar de Ponte de Neira ( no Páramo) até a desembocadura propriamente, formam um espaço protegido. Nom hai mais que subir ao alto do Lago para enxergar a enorme diferença paisagística que nos oferece esta divisória de águas. O Neira, mais curto que o Návia, baixa por terras mais chairas. O Návia, que nasce em Pedrafita e que já trai algum percurso através das montanhas lucenses, ainda lhe restra umha longa kilometragem montanhosa até a costa administrativamente de lado asturiano.

No caso da Galiza oriental o caso paradigmático se tomamos em consideraçom a imposiçom de limites geográficos é o rio Eo. Considera-se a « fronteira natural » com Asturies, mas o arredismo leva décadas a reivindicar como fronteira genuina com a administraçom asturiana o rio Frexulfe, caudal que desemboca a 5 kilómetros de Návia em umha praia que está declarada monumento natural e zona de especial protecçom. Tem um sistema dunar bastante bem conservado e, apesar de estar considerada como umha praia semi-urbana, abundante flora e fauna ameaçada.

As divisórias de águas em contexto

e Para enterdermos a importáncia de umha divisória de águas temos que tomar mao, nem que seja rapidamente e só a nível informativo da geografia e da geologia. Umha linha divisória forma parte de umha vazia hidrográfica como principal componente. Fundos de vale, nascentes e sub-vazias som outros dos seus componentes. As vazias hidrográficas som amiúde espaços muito ricos a nível paisagístico e cultural. As vazias de muitos rios fôrom berce de civilizaçons, tal é o caso da vazia do Nilo para os egipcios ou a vazia do Indo e o Ganges para os Indús. No caso que nos ocupa nom há dúvida de que o aproveitamento dos rios e das suas vazias foi muito importante. O rio Návia é um caso paradigmático de rio com muitos muinhos e azenhas, questom que marcará de maneira notável a economia e cultura das zonas por onde discorre. Acontece algo semlhante com o Neira e a sua grande tradiçom pesqueira.