Falamos com Martín Pacheco, cônsul da Venezuela na Galiza e antigo diretor de Comunicaçom de Hugo Chávez.

Pergunta. Na quarta-feira 13 de março, Erguer organizou um colóquio contigo na Faculdade de Ciências Políticas da USC, que teve de ser cancelado antes de tempo polas interrupçons e a atitude violenta dumha minoria das presentes, partidários da chamada «oposiçom venezuelana». De facto, tiveste que ser escoltado por membros da organizaçom até a estaçom de comboios. Como valoras estes factos?

Resposta. Esses som grupos minúsculos da oposiçom venezuelana, dividida e parcelada como consequência dos seus contínuos fracassos por levar à Venezuela a umha confrontaçom violenta, porque nom contam com argumentos dialéticos e jurídicos para sustentar a agenda desestabilizadora que confecionaram contra a Revoluçom Bolivariana.

P. Se aqui atuam assim, que nom farám na Venezuela?

R. Na Venezuela desenvolveram um golpe de Estado continuado desde 2002. Golpe petroleiro; sabotagem no sistema elétrico; magnicídios contra o presidente legítimo e constitucional, Nicolás Maduro; atentados contra hospitais, escolas, instalaçons militares, Tribunal Supremo de Justiça, ministérios, et cetera, violência geralizada que até o momento arrojou multimilionárias perdas à nossa economia, centos de mortos, feridos, pessoas queimadas vivas, motorotizados degolados, destroços de todo tipo, incêndios de veículos públicos e privados, e um logo et cetera. Terrorismo, fascismo, puro, delitos de ódio.

Estas atitudes violentas som reflexo do que, em forma continuada, fizeram na Venezuela. Tratam de exportar esses focos guarimbeiros da Venezuela. Som importadores de ódio, intolerância, amargura.

P. Qual é a situaçom real da Venezuela, o que nom nos conta a imprensa capitalista espanhola?

R. A Venezuela é, nestes momentos, umha naçom asediada, asfixiada por umha guerra unilateral declarada polos Estados Unidos nas áreas política, económica, financeira e mediática, co único fim de derrocar ao Governo legítimo e constitucionalmente constituido, eliminar a Revoluçom Bolivariana, para apoderar-se das imensas riquezas naturais que possui o país.

No aspecto político, o presidente Trump e o seu grupo de falcons gestaram, apoiaram, financiaram e desenvolveram a desestabilizaçom, violando elementais princípios do direito internacional público e a Carta Fundamental das Naçons Unidas, que proíbe a ingerência do Governo dum país sobre outro e establece a autodeterminaçom dos povos. Chegaram ao extremo de ordenar a um diputado dumha Assembleia Nacional em desacato a ajuramentar-se numha praça pública como «presidente interino», co fim de gerar mais violência, violar todo princípio legal, legítimo e constitucional, para provocar umha implosom social para logo ocupar eles militarmente o país como «salvadores da pátria». Essa figura —interino— nom existe na Constituiçom da República Bolivariana da Venezuela.

No plano económico, desde que se iniciou este ataque brutal contra a Venezuela, o bloqueio das suas finanzas e as sançons unilaterais contra o país, contra as suas instituiçons e contra os seus principais dirigentes, deixaram-se de perceber 148.000 milhons de dólares, quantidade que supera estimaçons que superariam a crise do país polo menos durante os próximos dez anos.

No aspecto financeiro, as sançons aplicadas nom permitem que a Venezuela realice operaçons desde ou cara ao país, proíbe ao sistema financeiro internacional participar em qualquer operaçom de compra, venda, negociaçom ou renegociaçom de déveda soberana, assim como qualquer operaçom relacionada com PDVSA ou as suas filiais, encarregadas da produçom, exploraçom e comercializaçom do petróleo, primeira fonte de ingresos do país. Tampouco podem repatriar dividendos ou utilidades cara ao Estado venezuelano pola venda do petróleo.

Desde 2017, Trump assinou quatro decretos leis que penalizam ou castigam as atividades económicas venezuelanas, outras duas foram adoptadas polo presidente Obama. Com estes instrumentos, o Governo estado-unidense legalizou a sua política de intervençom direta na soberania e nos assuntos internos do nosso país, e profundou na persecuçom contra o Governo e a economia venezuela. Trata-se de medidas coercitivas, flagrantes, unilaterais, contra um Estado soberano em evidente violaçom do direito internacional. Estamos no mesmo esquema ingerencista aplicado com especial intensidade contra Cuba (desde 1962), o Chile (entre 1970 e 1973), a Nicarágua (a partir de 1979), o Irão e o Iraque (desde os anos 80), contra vários países de África (ao longo de várias épocas) e, mais recentemente, contra a Síria, a Líbia e a República Popular Democrática da Coreia, entre outras naçons.

Em fim, estas medidas procuram establecer um cerco económico, producir um cerco social no país, favorecer o caminho para a remoçom do poder de Governos nom dóceis a Washington e a sua substituiçom por setores alineados aos interesses estado-unidenses. No caso da Venezuela, tal e como afirmaram e confesaram as mais altas autoridades dos Estados Unidos, trata-se de negar-lhe os recursos económicos, perturbar as suas atividades financeiras e impedir o livre desenvolvimento da atividade comercial, incluindo o acesso a alimentos, medicinas e bens básicos até provocar um caos de natureza humanitária.

Comentário especial merece a salvagem guerra mediática. Os grandes centros de poder mediáticos do mundo som cúmplices e sostedores de toda esta agressom contra a Venezuela. As novas falsas, a tergiversaçom, o sesgo informativo, a manipulaçom, em fim, as mentiras que as 24 horas do dia transmitem rádios e televisons, diários e revistas sobre a situaçom venezuelana, leva-nos à conviçom de que existe umha espécie de obsessom contra o país bolivariano. Mas que procura, ademais da desinformaçom, sustentá-las perante o mundo para coparticipar no reparto do botim composto por petróleo, oro, gás, ferro, coltan, bauxita, alumínio, diamantes e outras múltiples riquezas naturais coas que conta o país de Bolívar e de Chávez. Esse é o objetivo do imperialismo: apoderar-se de toda a nossa riqueza, sem importar-lhe as consequências: mortos, feridos, destruçom, desaparecidos, horror, dolor que geraria umha ocupaçom militar por parte da primeira potência do mundo, pola única razom de que o povo venezuelano decidiu ser livre, soberano, democrático, pacífico, sem ajoelhar-se ao imperialismo ianque. Agora só lhes queda em agenda a possibilidade certa dumha invasom militar.

P. Que erros cometeu até agora a Revoluçom Bolivariana?

R. Como toda revoluçom, o trânsito do capitalismo cara umha sociedade justa nom é fácil. Requer umha grande vontade e muitas transformaçons radicais que a Venezuela nom pôde cumprir porque, entre outras cousas, os dous elementos principais que se propôs o comandante Chávez, como som transformar a economia rentista numha economia produtiva, nom se lograram. Seguimos a depender do petróleo como ferramenta principal da nossa economia. A corrupçom também é um fator que afeta à capa social do país e, até agora, mália o esforço do comandante Chávez e do presidente Maduro, nom se pôde erradicar. Essa é umha dívida pendente. A expansom da agricultura e da cria, é dizer, voltar ao campo, é urgente e preciso, e se requer também umha luta frontal contra a impunidade.

P. Há quem acusa à Revoluçom Bolivariana e ao Governo venezuelano de ser demasiado permissivo coa chamada «oposiçom». Também levanta críticas o facto de que a Venezuela siga a ser um país capitalista, que nom se lute pola criaçom dum Estado socialista. Que lhes dirias?

R. A Revoluçom venezuelana é muito jovem, a transformaçom da sociedade requer, simultáneamente, educaçom profunda e severa aplicaçom da justiça. Num Estado irrevocávelmente livre e independente, que apregoa a liberdade, a soberania, a imunidade, a integraçom territorial, a autodeterminaçom —como estabelece o artigo 1 da Constituiçom—, e igualmente democrático e social de direito e de justiça, que tem como valores fundamentais a vida, a liberdade, a justiça, a igualdade, a solidariedade, a democracia, a responsabilidade social e, em geral, a preeminência dos direitos humanos, da ética e do pluralismo político —como plasma o artigo 2—, é a justiça a encarregada da aplicaçom das penas e das sançons para todos aqueles que delinquem.

E a oposiçom venezuelana, na sua grande maioria, o que fez até agora foi chamar à desobediência civil, à rebeliom, à sediçom, é dizer, conspirar contra o Estado, gerar violência para desestabilizar ao Governo bolivariano, sempre apoiada e financiada polo Governo dos Estados Unidos. Mas a justiça chegará. Num Estado democrático que respeita a divisom de poderes, a justiça tem a palavra. O povo demanda que nom haja mais impunidade.

Enquanto à transformaçom dum Estado capitalista numha sociedade socialista, requer a semente de muita consciência e estamos a desenvolver um projeto político —o socialismo do século XXI— que aspira a essa transformaçom, baseada nos princípios de defensa e desenvolvemento da pessoa, o respeito à sua dignidade, o exercício democrático da vontade popular, a construçom dumha sociedade justa e amante da paz, a promoçom da prosperidade e do bem-estar do povo, a integridade territorial, a cooperaçom, a solidariedade, a soberania, é dizer, dar-lhe cada dia mais poder ao povo para que, através dos Conselhos Comunais e das comunas, possa construir e desenvolver a democracia participativa e protagónica no marco da Constituiçom de 1999.

P. Houve algumha mudança no funcionamento do Consulado após o reconhecimento, por parte do Governo espanhol, de Juan Guaidó?

R. Absolutamente nenhum, tanto a Embaixada como todos os Consulados em Espanha estamos a trabalhar com absoluta normalidade. Na jurisdiçom da Galiza e de Asturies, que é a que nos corresponde a nós, atendemos a um promédio de 80 pessoas diárias para todo tipo de trêmites e temos mui claro que esse senhor que se autoproclamou é um títere imposto polo Governo estado-unidense violando a legalidade, a Constituiçom e, em consequência, é absolutamente ilegítimo e todos os seus atos e decisons, segundo sentenças do Tribunal Supremo de Justiça, carecem de efeitos jurídicos porque, como parlamentário dumha Assembleia Nacional em desacato, som singelamente atos nulos, inexistentes e írritos.

P. A dia de hoje, quam provável é umha intervençom militar estrangeira na Venezuela?

R. Essa é a única opçom que lhe queda ao imperialismo, o qual esgotou o libreto que desenvolveram no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, na Síria, no Chile, na República Dominicana, em Granada, no Panamá e em outra dezena de naçons do mundo; mas na Venezuela nom lhes vai resultar fácil. Umha diabólica decisom de invadir o nosso território vai-se atopar cum povo e cumha força armada unida para defender a pátria, em funçom do compromisso que temos cos nossos libertadores: Simón Bolívar, Francisco de Mirando, Antonio José de Sucre, et cetera; co comandante Hugo Chávez, que foi o artífice desta unidade cívico militar, e co presidente, Nicolás Maduro, quem está em batalha permanente em defensa da nossa soberania e da nossa dignidade. Aliás, a Venezuela nom está sozinha no mundo. Somos sócios estratégicos da China, da Rússia, do Irão, da Turquia, de Cuba, da Nicarágua, das ilhas do Caribe e muitíssimos mais países no mundo.

P. Algo que adicionar?

R. O povo venezuelano, ademais de nobre, é rebelde, cimarrom, revolucionário e nom está disposto a entregar a Revoluçom sob nenhuma circunstância, co aval dumha força armada bolivariana, nacionalista, revolucionária, anti-imperialista e profundamente chavista, preparada e lista para defender a nossa soberania contra todo aquele que ouse colocar a sua bota imperial em qualquer ponto da nossa geografia.