Há menos dum ano escrevia para este mesmo portal um artigo de opiniom em relaçom à existência de partidos de extrema direita no Estado e relacionando-o com o fascismo que impregna à sociedade galega. Naquele artigo referia-me a ele como um fascismo banal que consistia numha série de atitudes e comportamentos reacionários que abrolhavam entre a populaçom galega em geral, incluso entre pessoas que se identificam com posiçons políticas de esquerdas. Este tipo de comportamentos entre a classe trabalhadora é consequência de ser criada no seio da sociedade capitalista, baixo a sua perversa lógica, o que produz que a classe trabalhadora passe a assumir como próprios os interesses da burguesia. Todos os grupos sociais, incluso os mais comprometidos, reproduzem em maior ou menor grado estas atitudes reacionárias. Todos temos visto comportamentos machistas, comentários transfóbicos e atitudes racistas, por nomear apenas três exemplos, em pessoas do nosso entorno e incluso entre a militância de diferentes organizaçons políticas da esquerda.
Isto continua a ser assim, mas desde há uns meses entrou em jogo, logo dumha enxurrada propagandística alentada desde as grandes corporaçons da comunicaçom, um novo ator político. Vox ainda nom tem representaçom parlamentaria, mas já foi colocado no centro da contenda política por todos os canais de televisom, nomeadamente por La Sexta, o canal da esquerda reformista espanhola. A priori, nom parece que seja quem de conseguir altas cotas de poder nas instituiçons, ou aguardemos, contudo o mais provável é que consiga representaçom parlamentaria devido precisamente a este fascismo banal que aboia entre a sociedade.
O seu surgimento nom semelha casual pois em poucos meses já foi quem de conseguir a centralidade do debate e ao meu entender, tem encomendadas várias funçons tremendamente úteis para o sistema. Em primeiro lugar pom sobre a mesa questons sobre as que outros partidos da direita nom se atreviam a falar por correçom política. Veja-se a proposta de deportaçom de imigrantes, a proposta de que “os espanhóis honrados” podam possuir armas para defender-se, ou a proposta de ilegalizar os “partidos políticos que nom creem na unidade de Espanha ou nom renunciam ao marxismo”. A realidade é que já foram ilegalizados numerosos partidos políticos desde a aprovaçom da chamada Lei de Partidos, mas formalmente nom se podiam ilegalizar por simples questons ideológicas o que fazia que o processo de ilegalizaçom estivesse sempre centrado em ligá-los dalgum jeito à luita armada. Agora pretendem que se podam ilegalizar apenas por motivos ideológicos.
Em segundo lugar, gera um discurso muito mais agressivo que empoleira a determinados setores minoritários da sociedade para agir com impunidade, pois agora sentem-se ideologicamente respaldados. Como consequência estamos a ver um incremento das agressons fascistas contra homossexuais, migrantes e militantes independentistas.
Em definitiva, a irrupçom de Vox escora ainda mais o cenário político cara a direita e provoca que posiçons políticas como as representadas por Ciudadanos e o PP pareçam mais moderadas, o PSOE semelhe de esquerdas e Podemos, que nom passam de ser socialdemocratas pareçam uns radicais marxistas. Deste jeito, qualquer outra opçom mais à esquerda será considerada intolerável.
Todo isto beneficia ao sistema, polo que é obvio que a apariçom de Vox é algo que o próprio sistema provocou. Em umha recente entrevista a Albert Pla em El Mundo, era questionado sobre se era normal a ascensom de Vox, ao que respostou “Eu creio que sim. Por exemplo, lendo El Mundo nom te vais volver indepe. Mais bem, volveras-te um ultradireitista”. É por isso que dizia Brecht: “de que serve dizer a verdade sobre o fascismo que se condena se nom se dize nada contra o capitalismo que o origina?”