Tendo cumprido minha previsom de 2012 sobre Morena e o PRD: Finalmente, duas concepçons da política, onde predizia o futuro desaparecimento do PRD, continuarei a reflexom iniciada há seis anos, hoje mais atual que nunca.

Com W. Benjamin, desejo abordar o estranho tema do messianismo que obstinadamente o trágico filósofo alemám levantou, a partir de seu diálogo ao longo de sua vida com G. Scholem, tam incompreendido por outros membros da Escola de Frankfurt (e a esquerda em geral, e especialmente a marxista ortodoxa, ainda nos nossos dias no México).

O tema da liderança foi uma questom perigosa para a esquerda tradicional pola possibilidade de cair num populismo de direita (como o nazismo que Benjamin tanto criticou e sofreu, um certo bonapartismo), ou um carismatismo (superficialmente tratado por M. Weber). Ainda menos considerado sob o rótulo do messianismo (caricaturado como um teologúmeno superficial) nomeado por outros como um messianismo tropical. No entanto, na contracorrente e autorizando-me Benjamin, desejo tratar este tema de grande profundidade política, no contexto deste momento crucial do México em 2018.

Trata-se de meditar sobre atores políticos situados em três níveis que se determinam mutuamente. Em primeiro lugar, o próprio povo como totalidade, que é o ator coletivo político, última instância da soberania, que se expressa na participaçom pública (institucional ou espontânea). Em segundo lugar, um setor ou grupo de tal povo (que G. Agamben, a partir de Paulo de Tarso, recorda como o resto) que luita contra vento e maré, nas boas e más, em favor de tal povo. Em terceiro lugar, uma pessoa ou muito poucas que padecem o suportar em sua própria corporalidade o sofrimento do povo oprimido (que na tradiçom semita de W. Benjamin se denominava o servo sofredor, questom tratada na minha obra “El humanismo semita”, apêndice), denominado pelo filósofo alemám como o meshiakh (em hebraico: o ungido pelo povo). Benjamin, na sua obra Sobre o conceito da história (GS, I, 2, pp. 691 ss), trata repetidamente, nas 18 teses, o tema do messianismo a partir de um marco teórico marxista e materialista histórico (Tese I), que será o que adotaremos nesta contribuiçom.

Michael Löwy, o conhecido filósofo judeu, trotskista e ateu, diz-nos: A redençom messiânica e revolucionária é uma missom que as geraçons passadas nos atribuem. Nom há Messias enviado do céu: nós mesmos somos o Messias (em Aviso del incendio, FCE, México, 2002, p. 50); pensemos “no lugar que tiveram no imaginário revolucionário, dos últimos 30 anos, as figuras de José Martí, Emiliano Zapata, Augusto Sandino, Farabundo Martí e mais recentemente Ernesto Che Guevara […]”.

Em último termo, o messias é uma pessoa que encarna para o povo, pola sua fidelidade, compromisso, honestidade, coragem, prudência prático-sapiencial, os valores que nom se encontram nos líderes corruptos da sociedade dominante. Por isso, cresce o seu significado até que o povo o descobre como uma possível soluçom para seus males. É assim que tal povo o consagra em funçom do serviço ao próprio povo (funçom messiânica que recebe do ator coletivo: o próprio povo). O messias é uma luz nas trevas que o povo acende, e uma vez acesa incendeia ao próprio povo, exigindo-lhe, agora, tornar-se responsável pola história. É uma dialética entre povo e liderança. Nom vos vou atraiçoar! Cumprirei com o mandato!, expressa ao povo o consagrado polo povo. Sabem quem é a última instância da soberania.

Tratei o tema de forma mais ampla numha publicaçom de La Jornada Ediciones [Carta a los indignados, México, 2011, pp. 27-85), texto que recomendo a quem desejar aprofundar o tema.

Por todo isso, o dia primeiro de julho de 2018 foi um acontecimento messiânico (como segundo acontecimento libertador, em relaçom ao primeiro acontecimento exposto por A. Badiou), mas como diz o sentir popular: nom se deve dormir sobre os loureiros! É agora o tempo da participaçom ativa de todo o povo e dos militantes mais responsáveis que despertaram na efervescência, ainda que desprezada por alguns situados na extrema esquerda, criticando-a como uma jornada eleitoral vazia e sem conteúdo. E nom é assim, aqui a forma (uma eleiçom) tem conteúdo (é uma transformaçom real política).

A funçom messiânica agora já nom necessita da legitimidade conquistada graças ao voto, agora, necessita da práxis participativa de todo o povo, cada um em sua trincheira. A funçom messiânica necessita da diária correçom da crítica fraterna e responsável. Já nom é o tempo para aplaudir, mas, sim, para atuar multiplicando a liderança em todos os níveis.