Na última década, o supremacismo espanhol deu um pulo às suas pretensons de inferiorizar o galego até condená-lo à agonia. Com umha sinceridade que faltava aos seus predecessores, adoito disfarçados de defensores regionalistas do idioma, a extrema direita tem formado na Galiza um bloco de pressom para fazer recuar o já de por si mirrado estatuto legal da nossa língua. Em passados dias, a plataforma Queremos galego alertava da derogaçom, por parte do Tribunal Supremo, da Ordenança de Normalizaçom Linguística do concelho de Lugo, que estipulava a plena oficialidade da língua.

O abandono de todo verniz democrático caracteriza a trajectória da extrema direita, nas suas distintas expressons, em tempos recentes. Assim como esta tem apostado pola ‘soluçom’ autoritária em matéria de direitos e liberdades, ou polo imparável curte de direitos sociais e laborais, também no que diz respeito às línguas e culturas nom espanholas, a ideologia dominante sonha com umha aposta definitiva contra a sua dissidência. Um poderoso conglomerado formado por plataformas cidadás inchadas mediaticamente (Galicia Bilingue ou Hablemos español), grupos de pressom empresarial e partidos políticos tenta com tesom abafar a nossa língua.

Primeiro, o ensino

Perfeitamente sabedores do papel estratégico da juventude na restauraçom do idioma, os estrategas do Estado iniciárom a sua ofensiva no mundo educativo. Esta começou em 2009, com a aplicaçom do conhecido Decreto 79/2010 ; formulado baixo a declaraçom hipócrita de ‘equilibrar as línguas’ e introduzir o inglês na infáncia e adolescência, a nova legislaçom reventava os acordos institucionais do Plano Geral de Normalizaçom Linguística, aprovado por unanimidade no parlamentinho. Entre outras medidas antigalegas, a este decreto corresponde a proibiçom explícita de se ministrarem na nossa língua disciplinas como Matemáticas, Física, Química e Tecnologia. A aprovaçom da LOMCE uns anos depois ainda deu umha volta de porca à situaçom : nos liceus da Galiza, o nosso idioma goza -teoricamente- de 18 a 21 horas de docência, enquanto o espanhol desfruta de mais de 30. Na realidade, a situaçom é mais dramática : ‘Estimamos que nem o 15 % do ensino do nosso país se ministra em galego’, declarava um representante da CIG ensino há quatro anos. Segundo as estatísticas do IGE, em 2015, apenas um de cada três galegos e galegas entre 15 e 29 anos falavam galego ; se descermos à faixa de idade de menores de 15, os utentes de galego som apenas um de cada quatro.

Agora, nos concelhos

Baixo domínio espanhol, nem os nossos municípios tenhem a potestade de garantir o uso normalizado da língua. Assim o vem a demonstrar o caso do concelho de Lugo, que declarava a plena oficialidade do galego em 2012, e que está agora na obriga de assumir a jurisdiçom do Tribunal Supremo. Este, no que a plataforma Queremos galego ! considera umha ‘decisom ideológica’ vem de abrir a possibilidade da espanholizaçom da administraçom municipal : isto, é do recuar galego no trato com as pessoas administradas, na expressom pública dos cargos eleitos, ou nas empresas que trabalham para a instituiçom. A interpretaçom judicial emitida em Espanha fai-se extensiva a todas as instituiçons galegas, e portanto pom em perigo o estatus da nossa língua na totalidade dos concelhos. Umha interpretaçom extensiva do falho poderia abrir as portas ao espanhol (e portanto à sua hegemonia definitiva) em universidades, Junta ou cámara autonómica. Todo aponta a que se trata dum primeiro passo, nos propósitos do supremacismo, que tem também como um dos seus objectivos explícitos a nom obrigatoriedade do conhecimento do galego nas vagas de funçom pública. A sua gravidade é tal que levou à convocatória dumha concentraçom na Praça Maior de Lugo convocada por Queremos galego ! O rechaço ao falho será umha das ideias força das mobilizaçons que a entidade argalha para o vindouro 17 de Maio.

Supremacismo, umha velha ideologia

O supremacismo espanhol é umha velha ideologia, tam velha como a própria ocupaçom da nossa terra, castelhana primeiro, logo espanhola. O imaginário das elites mesetárias -logo extendida também nas classes populares- foi desde os primórdios da Idade Moderna desprezativo com as gentes, idioma e paisagem galegas, como qualquer leitor da poesia do ‘siglo de oro’ pode comprovar. Há margem dos alinhamentos contemporáneos entre direita e esquerda existe umha quase institiva rejeiçom espanhola por ‘marcas étnicas’ associadas com o que chamam atraso, isolamento ou particularismo. Este ódio, larvado ou explícito, intensificou-se na contemporaneidade com a apariçom dos nacionalismos : o imperialismo espanhol, agudamente, identificou o nosso idioma como um dos elementos mais poderosos na conservaçom da memória galega e na afirmaçom da vontade nacional, daí a sua luita denodada por fazê-lo desaparecer ou retroceder até espaços testemunhais.

Fraquezas e forças nacionais

Ainda, numha análise da ofensiva contra a nossa identidade nom pode faltar a valoraçom daqueles elementos que fortalecem ou enfraquecem a comunidade nacional. Por umha parte, os sucessos mobilizadores das manifestaçons anuais pola língua, além de fenómenos sociais e mediáticos como os protagonizados pola música pontesa Sabela, patenteiam a existência dumha ampla base social favorável ao galego.

Por outra parte, e com a salvidade do independentismo, a imensa maioria das forças político sociais identificadas com a língua aceitárom há décadas na sua prática diária o plantejamento autonomista do ‘bilinguismo’ : o problema do galego, diz-nos o discurso nacionalista institucional, é que ‘nom conta com o mesmo amparo legal que o espanhol’. A ingenuidade da análise é tal que desconsidera que, precisamente baixo um regime bilingue, com instituiçons de auto-governo e com meios de comunicaçom públicos em galego, o idioma vive o retrocesso mais acelerado da sua história milenária. Fora do movimento dos centros sociais ou do projecto autogerido das Sementes, já poucos se atrevem a mentar, e a socializar na rua, o ideário galeguista mais clássico, que demonstra, com apoiatura teórica de calado, que o bilinguismo nom é mais do que a forma mais subtil e insidiosa de rematar com o idioma minorizado em contextos coloniais ; o fantasiso ‘convívio linguístico’, como a chamada normalidade democrática, instala-nos num processo de morte doce e indolora que nos fai insensível aos abusos mais sangrantes. Mesmo autores politicamente moderados, como o silenciado Carvalho Calero, denunciavam na década de 80, a assimilaçom conduzida polas teses bilinguistas.

‘Na Galiza só em galego’, afirmava a consigna histórica do nacionalismo : a mesma que popularizavam as dúzias de independentistas que, há agora justo dez anos, respostavam com contundência nas ruas de Compostela à marcha supremacista de Galicia Bilingue e a sua escolta de uniformados violentos.