Esta ano na greve feminista do 8 M ou Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, as fiestras e balcons lucirám lindos mandis, esse símbolo dos Cuidados como território reservado ás mulheres.
Há umha ledícia histórica no feito de nos unir as mulheres para sairmos juntas à rua a reivindicar, a lhe mostrar ao mundo a plena luz, a sombra que agocha. Ledícia de fazer aboiar todo esse tempo que escorrega polos sumidoiros da Economia Neoliberal e que nom entra nos cálculos bursáteis. Esse escuro mundo das que cuidam e mantenhem cada dia as pessoas e os lares e que nengumha estatística recolhe.
Essa economia, mascarada na família burguesa, que esse PIB com que se artelha o fétido lucro do sucesso social, jamais computa. Todo esse tempo que a maioria das mulheres e umha minoria de homens lhe dedicam ás relaçoms interpessoais autênticas, ao laborioso desenvolvimento das crianças, á atençom quotidiana das pessoas com deficiências físicas ou psíquicas, aos maiores que nom se valem, aos enfermos, dos que a nossa sociedade se desentende.
há um mundo de formosura no pendurar dos mandis nas fiestras, nos tendedeiros, como um ondear de mulheres imigrantes que vinhessem cuidar das nossas misérias e feblezas. Mulheres deslocadas dos seus territórios polo nosso bandulho consumista de mulheres empoderadas. Há mandis invisíveis, cingidoiros de homens que cuidam outros homens em negro, ás ordens dumha mulher com poder. Homens senegaleses ou galegos que cuidam com agarimo a pesar da exploraçom laboral. Som sombra e tabu que ninguém visibiliza. Porque a igualdade nom se esgota somente no género.
Há um mundo de formosura no pendurar dos mandis, como se quigéssemos ventilar a história silenciada das mulheres, mas também a do desprezado trabalho rural e artesám. Porque o mandil é parente em origem do pano de mesa e dos fogons, dos ferreiros e padeiros, do lume e da lareira… e casa bem com a alquímia, a al-khemeia ou arte negra, guardadora das essências da vida. Cozinhar nunca foi um verbo de seu até que mudou numha arte culinária em maos do lucro e entom os homens anotárom-se a fachendear de mandil preto nos concursos de teles e gourmets. Porém, só gosta competir por ter melhor mandil, exibir num concurso velocidade ou novidade. Mas a casa segue a ser território de Vimala como na novela psicológica de Tagore.
Nom é que avonde o de chamar-lhe mandis ou mandilons os homens que cozinham apondo-lhes pouca virilidade ou submissom ás mulheres, como se fazia noutros tempos, mas cozinhar, fora de o fazer como profissom, segue sem ter valor social nengum e maioritariamente, carga das mulheres. A família serve de escudo de choque ao Capital para roubar-nos o tempo de vida, o esforço do nosso trabalho. Porque esta sociedade do Progresso emandila as mulheres tal como faziam os gandeiros com os carneiros e os castrons para que cobrissem as ovelhas quando queriam conseguir a concentraçom de parideiras. Por isso eu cismo em que vai ficar dos mandis o nove de março. Visibilizar, empoderar! Escuito ao meu redor. Fazer visível, dar poder.
Eu suspeito que focar o trabalho nom remunerado de tantas mulheres nom fai tremer a tábua de valores patriarcais. Em canto a empoderar, tem umha imprecisom perigosa porque associamo-lo a luitar polo poder numha sociedade agressiva, competitiva onde todo o trabalho da reproduçom, dos cuidados e do mantimento da vida e dos territórios nom tem nengúm lugar mais que no abuso de poder na sombra do sistema. Empoderar também empoderárom as revolucionárias francesas marchando cara a Versalles a reclamar liberdade, igualdade e fraternidade. E se na Ilustraçom -onde nascérom os valores modernos de progresso burguês- a luita de classes nom contemplava a luita de género, hoje é a luita de género a que nom parece contemplar a de classes.
Embora Friedrich Engels apoiava as sufragistas naquele maravilhoso livro que é A origem da família, a propriedade privada e o Estado, toda a longa e reja luita histórica desde Corinne Browm até Clara Zetkim ou Rosa Luxemburg, desde Rosalia á Pardo Bazán, toda a longa e reja luita pola igualdade vem dar a um hoje onde certo feminismo pretende que nos contentemos com quebrar o teito de cristal para entrar a pelejar em pé de igualdade por seguir mantendo este mesmo sistema de valores patriarcais. E que passará quando consigamos quebrar esse teito?. Nom seremos como aquelas revolucionárias que o mais que atingírom foi ter sucesso social num mundo de homens, usando os seus mesmos valores abusivos?
Neste momento histórico nom podemos perder o norte. Nem as avós querem ser superheroinas com fouce desbrozadora de silvas, nem as mulheres queremos ser sempre valentes, maes luitadoras, nem pessoas pouco impresionáveis. Pois querer isto é devecer por exercer dum home patriarca xa que as mulheres empoderadas adoitam ter alguém -forçosamente nada empoderado- que lhes resolve a elas e aos seus, todos os trabalhos na sombra (cuidados, trabalho doméstico…) que esta sociedade nom valora.
Desmercantilizar a vida e os afetos é, certamente, a grande revolta feminista para mudar este sistema de valores alienante.
No em tanto a luita de género nom vaia da mao da luita de classes, penduraremos um mandil que será como a lenlha preta com a que cobríam a cabeça as mulheres que iam rezar o rosário.