Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura,
famintos histéricos nus,
se arrastando na aurora pelas ruas do bairro negro na fissura de um pico,
(…)
Allen Ginsberg

Narcos e Farinha forom duas séries de entretimento que tiverom gram sucesso entre a populaçom galega nos últimos meses, especialmente a segunda, que foi filmada nas Rias Baixas baseada no livro homónimo de Nacho Carretero. Logo vê-las, a imagem dos narcotraficantes que nos fica na cabeça é a de umha sorte de homens afoitos, umha espécie de heróis modernos, que estavam em luita contra um inimigo desprezível e injusto e que tinham como finalidade a defesa dumha causa nobre. Homens com poder, dinheiro e mulheres a prazer e que ademais eram admirados polos seus vizinhos.


A raiz da emissom de Farinha, nos bares e tabernas das Rias Baixas é frequente escutar gente que presume de andar na descarga de tabaco, e nom só, de serem protagonistas das emocionantes cenas noturnas de planeadoras a navegarem a toda velocidade entre as bateias e mesmo de terem certa relaçom com os grandes narcos. E fora deste âmbito, em qualquer vila de Galiza, pode ver-se pola rua a gente vestida com roupa com desenhos que fam alusom a Sito MInhancos ou Pablo Escobar, os protagonistas das séries de televisom, mas que na realidade eram nojentos senhores da droga.


Um tráfico que nom cessa
A série galega também nos deixa a impressom de que a época dourada do narcotráfico é cousa do passado, mas a realidade é bem distinta. A droga nom deixa de entrar em grandes quantidades no nosso País, feito que gerou um aumento na oferta e provocou que o prezo da cocaína descende-se notavelmente nos últimos anos. Segundo informaçom da Udyco, o quilogramo desta sustância, com um 70 % de pureza, passou de custar 34.000 euros a 26.000 euros durante o ano 2018.


No que vai de ano, já se realizou a apreensom de três grandes estoques de droga vinculados aos narcos galegos. Umha das operaçons policiais interviu 400 quilogramas de cocaína em Sam Cibrao das Vinhas, logo de entrar a Galiza através do porto de Leixões. Outra foi no porto de Marim, onde se interceptou torta de palmiste suficiente para elaborar mais de três toneladas de cocaína, o que seria um indício de que agora as máfias galegas também elaboram a droga e nom só a distribuem. Umha terceira operaçom foi feita diante das costas portuguesas onde foi apressado um carregamento de cocaína de 3.300 quilogramas procedente de América do Sul e que tinha como destino as costas galegas. Estas cifras som altíssimas se temos em conta que em todo o ano 2018 se apreenderom em toda a Uniom Europeia um total 70 toneladas de cocaína.


Farinha também nos deixa umha imagem dos narcos galegos de serem pouco perigosos em comparaçom aos narcos sul-americanos, mas vários acontecimentos apontam a que também recorrem ao assassinato se o consideram necessário. Como exemplo, o cadáver que apareceu há poucos anos na ria de Arousa atado de pés e maos e envolto num saco, que resultou ser um narco catalám.


Consumo em aumento
O consumo de cocaína entre a populaçom galega aumentou drasticamente logo de que na década dos 90 houvesse um ligeiro descenso. Passou-se de que consumisse cocaína (umha vez nos últimos 12 meses) o 1,2 % da populaçom no ano 1998 ao 4,4 % no ano 2007. A cifra é muito superior à media estatal, que era no mesmo período do 3,0 %, e que supera também a média de qualquer pais da Uniom Europeia. Os dados som tirados do estudo “El consumo de drogas en Galicia” realizado por EDIS, por encargo do Plano de Galiza sobre Drogas, do Plano de Transtornos Aditivos de Galicia 2011-2016 e do Informe europeu sobre drogas.


Segundo os dados de Projeto Home, a sustância principal e patrom de consumo polo que se solicita a demanda de tratamento em Projeto Home é a cocaína, representando o 32,1 % do total dos ingressos.
O movimento independentista contra as drogas
Som numerosos os movimentos independentistas que abrirom frontes de luita contra as máfias do narcotráfico. No ano 1980 foi o Movimento Basco de Liberaçom Nacional o que começou esta luita e no ano 1984 Terra Lliure. Também o movimento republicano irlandês faria o próprio.


Na Galiza foi o Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive quem iniciou a princípios dos anos 90 umha série de ataques contra os interesses dos narcos. Em fevereiro de 1990 desativarom um artefato explosivo em Automóviles Louzao, que era utilizado para branquear dinheiro. Na madrugada do dia 11 de outubro atentavam simultaneamente contra vários estabelecimentos propriedade de conhecidos narcos, entre eles a discoteca Clangor, em Compostela, onde o artefato explorou prematuramente e provocaria a morte das duas guerrilheiras que o estavam a colocar e dumha estudante.


Os movimentos de liberaçom nacional interpretavam, tal e como explicava o médico Oriol Martí, que as drogas forom e som de forma crescente umha arma de domínio e de controlo social sobre os povos e classes oprimidas, que mostrou umha enorme eficácia na destruiçom das identidades coletivas de muitos povos do planeta, polo que é moi difícil pensar no exercício do livre direito de autodeterminaçom quando as condiçons sociais dum povo forom presas das patologias da dependência nas suas diversas manifestaçons até converter-se em epidemias.