A gente prefere o comunismo
O Levada Center publicava recentemente os resultados dum inquérito realizado a finais do ano 2018 entre a populaçom russa. À pergunta “arrepende-se do colapso da Uniom Soviética?” o 66 % das pessoas entrevistadas respostava que sim. Quando eram preguntadas “que é do que mais se arrepende do colapso da Uniom Soviética?” a maioria das entrevistadas, até um 52 %, afirmava que era a destruiçom do sistema económico. Ante a questom “pensa que o colapso da URSS era inevitável ou poderia ter-se evitado?” O 60 % respondeu que se poderia ter evitado fronte a um 27 % que afirmava que era inevitável.
É dizer, duas de cada três pessoas preferiria viver numha sociedade comunista e o que mais botam em falta dela é o sistema económico socialista. Som as cifras mais altas da última década. Incremento que pode dever-se à recente reforma das pensons que aumenta a idade de jubilaçom, que é retrasada até os 66 anos para os homens e até os 60 anos para as mulheres.
Vitimas da propaganda
Como é possível que a populaçom russa lamente o fim dum sistema que, segundo nos contavam, era um inferno, e que apenas originou miséria e repressom? A única explicaçom é que a realidade nom fosse a que nos contaram, e que fossemos vítimas dum engano. Logo de tragarmos décadas de propaganda anticomunista através da televisom, dos jornais, da rádio, do cinema, da literatura e do sistema educativo, custa crer-se os resultados do inquérito porque bate contra a visom da história que nos venderam. Muita gente negará-se ainda a crer a realidade, porque como dizia Mark Twain, é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas.
Mas a realidade é que apenas uns meses antes da desintegraçom da URSS, o 17 de Março de 1991, celebrou-se um referendo sobre o novo Tratado da Uniom que, votado por um 80 % do censo, dou como resultado um 76,4 % a favor de conservar a Uniom Soviética e o sistema socialista. Pouco despois, o dia 25 de Dezembro desse mesmo ano, Gorbatchov anunciava, contra a vontade do povo soviético, a desintegraçom da URSS. A URSS nom fracassou, foi atraiçoada por umhas elites que venderom o projeto socialista.
A realidade foi que o dia 10 de Novembro de 1989, ao dia seguinte da caída do muro de Berlim, celebrou-se umha multitudinária manifestaçom em contra da caída do muro e a favor de conservar o socialismo. Este foi um acontecimento silenciado e banido da História, pois representava umha fissura do relato ocidental.
A realidade era que a maior parte das cidadás da DDR que migravam para a zona capitalista desejava regressar ao país socialista apenas passados uns meses, pois a de Alemanha Ocidental era “umha sociedade na que só conta a produtividade e onde se prospera a base de empurrons”.
Os logros da Uniom Soviética
Desde a Revoluçom de Outubro até a desintegraçom da Uniom Soviética passarom 74 anos e nestes três quartos de século, som muitos os logros que o socialismo conseguiu, logros que muitas potencias ocidentais ainda hoje nom alcançarom.
Foi o primeiro país da humanidade em eliminar a fome graças à coletivizaçom da Terra. Foi também, graças ao ministro soviético Viktor Zhdanov, quem conseguiu erradicar a varíola, umha enfermidade que matava milhons de pessoas cada ano.
Foi o primeiro país em alfabetizar a toda a sua populaçom. Isto foi fruto do primeiro sistema educativo inteiramente público e gratuito que, além de conseguir as maiores taxas de alfabetizaçom da história nas 15 repúblicas soviéticas, oferecia de jeito gratuito a alimentaçom das crianças nos colégios, e deste jeito permitia umha verdadeira conciliaçom familiar e laboral.
Coa aprovaçom da Constituiçom Soviética de 1936, estabeleciam-se umha serie de direitos que ainda hoje som inimagináveis nas sociedades capitalistas. Com ela nascia a primeira Seguridade Social da história, um sistema de pensons universal que estabelecia a idade de jubilaçom aos 60 anos para os homens e aos 55 para as mulheres, e que podia reduzir-se até os 50 anos para as profissons mais duras, e onde era suficiente trabalhar 20 anos para cobrar a pensom completa. Umha jornada laboral de 7 horas que podia reduzir-se até as 5 horas em funçom das características do trabalho. Baixa por enfermidade sem reduçom no salário. Um mês de férias pagadas. Baixa de maternidade desde o início do embaraço até que a criança fazia um ano.
Foi o primeiro país em dispor dum sistema sanitário gratuito e universal, graças ao qual se aumentou a esperança de vida da populaçom soviética desde os 39 anos que havia em 1917 até os 70 anos quatro décadas mais tarde. A qualidade do sistema de saúde fica patente também no incremento da estatura média, na reduçom num 90 % da mortalidade infantil ou por conseguir realizar os primeiros transplantes de órgaos com sucesso.
A URSS também foi umha potencia a nível científico e tecnológico, e contra a falácia que habitua a fazer-se às militantes comunistas sobre o uso das novas tecnologias, o primeiro telemóvel foi inventado polo engenheiro soviético Leonid Kupriyanovich no ano 1958 e o primeiro satélite artificial foi o Sputnik, posto em órbita em 1951. Iuri Gagarim foi o primeiro homem em viajar ao espaço exterior e Valentina Tereshkova a primeira mulher, em 1961 e 1963 respetivamente.
Desmentindo o tópico, o sistema econômico soviético conseguiu o maior crescimento económico da história da humanidade, e mesmo um inimigo do socialismo como foi Winston Churchill chegou a dizer de Stalin que “ele tomou a Rússia com arados e transformou-a em um país com a bomba atômica”, em referencia ao extraordinário progresso da URSS durante o seu governo.
A cultura na Uniom Soviética floresceu especialmente, pois era o país onde mais jornais se leiam, onde mais livros de vendiam –e mais baratos–, o país onde mais concertos se celebravam, e onde mais teatros, salas de cinema e bibliotecas havia.
Também significou umha liberaçom para a mulher: legalizou-se o aborto em 1922 e foi um dos primeiros países onde a mulher tinha direito a voto, e ser votada. Legalizou o divorcio em 1917, nada mais triunfar a Revoluçom. Permitiu a emancipaçom laboral da mulher e milhons de mulheres soviéticas acediam ao trabalho assalariado em profissons de todo tipo (médicas, operárias industriais, engenheiras, mestras,…) e com o mesmo salário que os homens, garantido constitucionalmente. No ano 1919 criava-se o Zhenotdel, um organismo criado por Alexandra Kollontai e Inessa Armand que tinha como tarefa a de educar às mulheres em toda a Uniom Soviética arredor dos seus novos direitos políticos, económicos e laborais. Para exemplificar a situaçom dos direitos da mulher na URSS pode-se contrapor aos que havia noutros lugares do mundo: por um lado temos a Valentina Tereshkova, que como já se descreveu, tornou-se a primeira mulher em ir ao espaço em 1963 com o apoio de todo o país, enquanto no mundo livre, quatro anos depois, em 1967, a atleta Katherine Switzer, tinha que luitar contra umha feroz oposiçom para ser a primeira mulher a correr umha maratona.
Por último, e por nom estender mais a listagem, compre nom esquecer que foi graças ao Exército Vermelho que se logrou ganhar a II Guerra Mundial e rematar com o nazismo. Apenas na batalha de Stalingrado matárom mais soldados nazis que em todas as batalhas do frente ocidental. Foi a URSS e nom os EUA o vencedor da Guerra.
Um fantasma que nom desaparece
O espectro do comunismo segue a rondar a Europa e o mundo como ficou demostrado na Índia, onde o partido comunista mobilizou mais de 150 milhons de pessoas com motivo das greves gerais que estám a decorrer no país asiático. O Capital e o fascismo sabem que o socialismo nom morreu e nom deixarom de atacá-lo em todo este tempo. Como simples anedota, a tumba de Karl Marx, em Londres, foi atacada esta mesma semana.
E é atacado porque o comunismo é o que quere a gente. Também aquela que renega expressamente del. Porque a gente que protagoniza os protestos contra a reforma das pensons e as mobilizaçons contra a reforma laboral, as greves pola melhora do sistema de saúde e da educaçom, os protestos contra os projetos que destroem a Terra ou as manifestaçons que reclamam os direitos da mulher, toda esta gente, ainda sem sabê-lo, está a demandar mais comunismo, pois é precisamente isso o que persegue o comunismo.
Sem obviar os erros da experiência soviética, esta foi apenas um primeiro intento de criar umha sociedade justa e igualitária. Fica como exemplo, para as futuras revoluçons e experiências socialistas que, de certo, surgirám. Polo mesmo motivo é tam importante a revoluçom cubana, que ainda resiste contra vento e maré, pois é umha ilha de ilusom, umha esperança para pequenas naçons como a nossa.