O 28 de Janeiro é o cabodano de Manoel Antonio, o conhecido poeta de Rianjo. Umha figura poliédrica que sempre estivo rodeada dumha aura de mistério acrescentada pola sua prematura morte. Em vida só publicou o livro de poemas De catro a catro, polo que a maior parte da sua obra ficou à espera de que alguém a resgatasse. Mas como é bem sabido, toda a obra foi sequestrada polo mercenário Domingo Garcia-Sabell quem em 1956, acompanhado de Borobó, do médico Maximino Rodrigues, e do primo do escritor, Roxerius, achegou-se até a casa da mae do rianjeiro, onde o próprio escritor falecera, para apropriar-se de todo o material que o defunto deixara escrito. Garcia-Sabell peneira a obra de Manoel Antonio e saca à luz, já no ano 1972, apenas aqueles escritos que se ajustavam ao perfil que o galeguismo cultural, o pinheirismo, estava a criar do poeta.

A manipulaçom da História

Nas situaçons de dependência é habitual sofrer a manipulaçom da História, e na Galiza sabemo-lo bem. Como exemplo mais manifesto temos as traduçons feitas polos historiadores espanhóis dos termos medievais Gallaecia Regnum ou Jalikia como Reino de León. A falta de instituiçons próprias ou, em caso de have-las, dirigidas por personagens a soldo de poderes alheios, provoca que o Poder poda criar um relato que sirva como justificaçom ideológica das relaçons de poder atuais.

Domingo García-Sabell, formava parte desse galeguismo bem entendido, que coa morte do ditador mudaria para posiçons autonomistas, e que nom duvidava em lamber as botas do espanholismo para prosperar individualmente. O seu dever era canalizar o nacionalismo mais incómodo cara a um culturalismo inofensivo e assimilável por Espanha. E como dize Axeitos, autor da última biografia do poeta, a ideologia de Manoel Antonio era a do nacionalismo independentista, do arredismo, umha figura de açom: “Eu coido que o primeiro que cumpre fazer, é fazer algo ainda que seja um disparate; que por grande que este seja nunca será maior que o de estar sem fazer nada, como até agora” escrevia em Outubro de 1924 em umha carta a Ramom Vilar Ponte e a toda a Irmandade Nacionalista Galega. (Pode ler-se a carta completa no livro Epistolário, 3º volume da Obra Completa elaborada por X.L. Axeitos em 2015). O temperamento revolucionário e insurgente do moço de Rianjo, levouno também a querer luitar contra os alemás na Gram Guerra, cousa que nom consegue fazer porquanto é detido na fronteira quando estava caminho da França para alistar-se no exército francês.

O labor de Garcia-Sabell foi bem pagado por Espanha, pois em 1977 já foi eleito senador por designaçom Real e foi também nomeado Presidente da Real Academia Galega durante 18 anos ao mesmo tempo que era designado Delegado do Governo de Espanha na Galiza. Cargo que ocupou durante 15 anos.

Silenciado o seu perfil político, mas nom só

O motivo deste artigo era trazer à tona um breve relato escrito por Manoel Antonio que estivo oculto até o ano 2012 por encontrar-se entre o material sequestrado. Titula-se Novela Vulgar e trata sobre a homossexualidade nos inícios do século passado, um tema que a critério do académico, era demasiado vulgar para liga-lo ao poeta marinheiro.

Novela vulgar

1- Ia a noite abondo mediada e a Lua no cume do céu. Chegava Ramom da romagem do Sam Cristóbal. E nom cantava, nom aturujava. Já se via, sombra intensa na sombra, a nogueira vizinha da casa paterna. Entrou sem despertar um chio; subiu, e já sentado no xergom do folhato, entrementes se despia foi-se-lhe decorando de ledicias e lembrança das derradeiras horas.

2- Quiso, coma noutros intres de cavilaçom e relembro, botar mao da cárrega que abafava o seu espírito, e, nom era de crer! topou-no certamente aliviado. E impava, impava forte coma si em troques do espírito fosse o corpo que se ceivasse dum peso que nom regesse.

3- Que nom lhe fazia caso o Manoel, por que era um mal rapaz e nunca gostara del. Que já levava tempo degoando que el, Ramom, lhe dissesse aquelas cousas. Que já deixara de ir às fiadas de Trasilva por que sabia que ele, Ramom, nom ia… E moitas cousas mais.

4- Pola manhá despertaram-no, mas nom foi a voz querendosa da mae, nem o agarimante chamado da irmá. Foi a voz alcoólica do italiano companheiro de conventillo: “Vea amigo que s´hase tarde y s´ayega la hora de marchar a la usina!”

5- E que passou ao despertar?

A detonaçom comoveu o conventillo. E polas escadeiras baixava descomposto aquele italiano de voz alcoólica: Oh, Dios Santo! El gayego! Se há metido uma bala!

Todo o dia a cidade convulsa passeou o troféu multiforme da sua vida pola avenida, sem reparar-se nas fenestras entornadas dum quinto piso.

E Ramom já nom despertou mais.

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O conventillo ao que se fai referencia no relato era um tipo de vivenda urbana coletiva que era habitual a princípios do século XX em Argentina e noutros países de América do Sul. Habituavam ser vivendas mui modestas e ter más condiçons sanitárias polo que eram utilizadas polas classes mais baixas. Eram utilizados principalmente por homens que chegavam da emigraçom europeia, nomeadamente, galegos, italianos, franceses,…

Este breve relato amossa como a homossexualidade no rural galego era um tema proibido, onde os homossexuais buscavam na emigraçom o anonimato que pudesse liberta-los, ainda que fosse parcialmente. A alienaçom à que se viam sometidos na Galiza mais tradicional apenas lhes deixava duas saídas: a emigraçom ou o suicídio, algo do que Ramom nom conseguiu escapar.