Em plena Ribeira Sacra, um novo espaço a prol dumha vida alternativa, enraizada no rural e baseada em valores alternativos. Nasceu de maos de Xácia Paris, que chegou à Galiza quase por acaso, com a intençom de iniciar um projeto de auto-suficiência. Nom conhecía nada da nossa terra, mas com o tempo foi descobrindo a cultura, as paisagens, a língua, e depois de uns anos decidiu ficar no nosso país tras desenvolver fortes ligaçons de carácter pessoal (amizades) e espiritual (com a terra mesma). Há um tempo pujo em andamento o projeto “Sete outeiros”, “um espaço no meio da natureza orientado especialmente para pessoas cuir e trans (LGBTQIA+) e para eventos com interesse cultural para Galiza”, tal e como se pode ler no seu web: www.seteouteiros.gal, em galego e em inglês.

Como nasce o projeto “Sete outeiros”?
Quando decidim ficar soubem que queria continuar tendo voluntárias e visitantes. Antes sempre tínhamos, mas só de quando em vez, e agora, como umha pessoa vivendo sozinha no meio do monte e da natureza, queria um pouco de companhia e ajuda. Ao mesmo tempo, estivem saindo do armário, umha mulher em transiçom de género. Assim estava bastante claro que queria ter gente mais afim, mais aberta. Decidim que polo primeiro ano só queria ter visitantes LGBTQ+, para sentirme segura. Mas, ao pouco, enquanto vim o bem que lhe vinha a esta gente ter espaço próprio na natureza decidim constituir Sete Outeiros como projeto concreto.

Porque escolheche a Ribeira Sacra para fazer este retiro?
O projeto surgiu num jeito mais orgânico. Umha casa dentro dum val esquecido da Ribeira Sacra era e é o meu fogar. Nom escolhim o lugar para o projecto mas, a verdade é que o val escolheu o projeto. A terra decidiu. Tem um encanto enorme, umha beleza incrível e planta alguma cousa nos coraçons de todas as pessoas que passam aqui.

Que tipo de atividades organizades?

Depende da duraçom da visita há muitas cousas que podemos organizar. De lazer há muita caminhada, jogos de mesa, muitos livros na biblioteca comum. Também a gente pode aprender a trabalhar na horta, fazer carpinteria ou outras cousas da vida rural, dependendo da estaçom do ano.

Também é um lugar ajeitado para actividades solitárias: escrever, pintar, estudar, reflexom, meditaçom. Depende do grupo de pessoas que estiverem, ás vezes podemos ter actividades criativas em coletivo, algo que eu queria fazer ainda mais.

Quais som os atrancos mais frequentes com os que se adoita atopar umha
pessoa em transiçom de género?

Uff…. Abrimos um tema enorme (risas)…

É que a nossa sociedade nom está construída para pessoas trans. Em outras culturas tradicionais sim que há espaços de dignidade e respeito e amor para as suas pessoas trans mas, na nossa, aínda estamos luitando para o mínimo de ‘tolerância’, um alvo nom mui alto. Um mínimo dos mínimos. Além do mais a situaçom está pior para pessoas ‘em transiçom.’ Cada vez mais, no mundo trans, entendemos transiçom como um caminho sem destino final — um processo de vida, umha series de opçons e decisons.

Assim mesmo, para sobreviver em paz na nossa sociedade mais ampla, ou estamos entendidas por homem ou mulher, e a maioria de nós (mas nom todes) teríamos umha clara preferência. Nos primeiros passos de transiçom, frequentemente, nom chegamos a estar identificada na maneira em que estamos cómodes mas aínda assím a gente percebe que também nom estamos cómodes na outra categoria. Diriam, incorretamente, que há algo errado, e está bem difícil viver assim, debaixo destas olhadas, no lusco-fusco dos géneros. É bem difícil sair à rua cada dia e fazer fronte à sociedade. Assim, ter um retiro, afastado da sociedade, num lugar onde podes estar rodeada por natureza e gente que te entendem, pois isso é um puro paraíso.

Quem pode fazer uso do retiro “Sete outeiros”?

Está aberto a  todas as pessoas LGBTQ+ na sua definiçom mais aberta. Mas também tem um interesse especial para o coletivo trans, um coletivo bastante marginalizado que nom costume ver muitas opçons de vida fora da segurança e comunidade das cidades. Também queremos proporcionar recursos para pessoas jovens ou sem dinheiro ou de situaçons marginalizadas, pessoas que nunca esperariam tal oportunidade, puiderem vir.