As galegas e galegos fizerom um gasto médio na lotaria do sorteio extraordinário do dia 22 de Dezembro de 66,26 euros por pessoa, o que implica um gasto total na Galiza de quase 180 milhons de euros. E no conjunto do Estado arrecadaram-se 3.146 milhons de euros.
Umha ferramenta ideológica
O capitalismo impregna as nossas mentes desde que somos crianças e chega até o último recanto do nosso jeito de entender a vida, e em consequência, também define as nossas “necessidades” e quais devem ser os nossos objetivos vitais. E um deles, em muitas ocasions situado em primeiro lugar, é ter sucesso econômico, é dizer, ser milionário, e deste jeito poder imitar os modelos de comportamento que a tevê nos amossa, com os jogadores de futebol e os artistas de moda à cabeça.
Mas para chegar a sê-lo, há quem pode especular no mercado imobiliário, na bolsa de valores, ou com outro tipo de operaçons financeiras, mas a maioria da populaçom nom tem acesso a este tipo de intervençons e apenas tem a sua força de trabalho para conseguir dinheiro. Contudo, a gente ambiciona enriquecer-se rapidamente polo que recorre em última instáncia aos jogos de azar.
O azar como ultimo recursoNa longa listagem de jogos de azar, entre os que nos últimos tempos cobraram força as casas de apostas desportivas, destaca o conhecido como Gordo de Natal. É tal o seu sucesso, que o vídeo comercial que nos anuncia o evento é um dos mais aguardados todos os Natais. A própria televisom pública emite na íntegra o sorteio em direto, o qual tem umha duraçom de várias horas. E o posterior seguimento das pessoas premiadas em todos os canais de TV durante os dias seguintes é obsceno. Narram como era a sua vida antes de serem ricos e como agora poderám cumprir parte dos seus sonhos. Mas os meios ponhem o foco em casos especialmente dramáticos: o imigrante ilegal que vivia na rua, a família que vai ser despejada da sua morada, a pessoa com problemas de mobilidade que assim pode mercar-se umha cadeira de rodas ou a pessoa idosa que pode contratar a pessoal sanitário para que lhe ajude com o tratamento das suas doenças no dia a dia. Mostrando estes casos, quem nom pode estar a favor da Lotaria de Natal.
Mas os casos, reais, arriba descritos som episódios que nom sucederiam em umha sociedade justa. É dizer, o azar faz o trabalho que deveria fazer o Estado de bem-estar: serviços sociais dignos, habitaçom acessível, sanidade universal, etc. Por outro lado, com esta propaganda, o sistema faz-nos crer que a próxima vez poderemos ser nós quem poderá deixar a merda de trabalho que temos. Mais umha manifestaçom do sonho americano: agora és pobre mas podes chegar a rico.
Umha ferramenta ao serviço do sistema
Para que as pessoas premiadas co Gordo este ano possam receber o seu dinheiro, foi necessários previamente extrair-lhe ao resto da populaçom do Estado, como dizíamos mais arriba, a estratosférica cifra de 3.146 milhons de euros. É dizer, o resto da populaçom é voluntariamente um pouco mais pobre, em concreto, 66 euros mais pobre cada umha de nós. Além disto, umha parte importante do arrecadado vai para as arcas do Estado, polo que constitui umha fonte de ingressos regressiva, já que é aportada maioritariamente polas classes mais baixas. Em definitiva, o processo é o oposto ao promulgado tradicionalmente pola esquerda, onde através do pago de impostos, taxas e tributos, se transferiria riqueza desde as classes mais favorecidas cara as classes baixas.
Os jogos de azar, e nomeadamente a Lotaria de Natal, som outro mecanismo mais para aumentar as desigualdades entre a classe trabalhadora em favor de umha minoria privilegiada. Outro jeito mais de concentrar a riqueza e outro ressorte mais que reforça a ideologia da classe dominante.