Quando em 1920 o dramaturgo checo Karel Capek estreou a obra R.U.R. (Robots Universals Rossum) disque lhes quijo chamar labori, do latím labora, trabalho a aqueles rudimentares robôs. Mas o seu irmao Josef sugeriu-lhe roboti, de robota que significa literalmente trabalho ou labor e figuradamente, trabalho duro em checo e em moitas línguas eslavas. Tradicionalmente, robota era o período de trabalho que um servo devia outorgar ao seu senhor, geralmente seis meses do ano.
Em 1848 proibiu-se a servidom em Boémia polo que quando Capek escreveu R.U.R, o uso do termo robota já se espalhara a vários tipos de trabalho, mas o significado obsoleto servidom seguiria reconhecendo-se.
A tecnologizaçom da sociedade criou um novo contexto onde as cadeias da escravatura som transparentes e tam engaiolantes que somos os próprios escravos quem pagamos por elas pois já nom há que remar amarrados ao duro banco dumha galera turquesa. Agora competimos por ser telescravos, levamos as argolas nas maos no canto de nos nocelhos. Pois é já mais doado viver sem DNI do que sem telemóvel. Nele temos o cordom umbilical que nos promete a salvaçom do isolamento. O gram deus buscador que o vê todo e que nos abre a porta de todo desde o nascimento à morte. É umha pequena máquina que nos permite aceder a todas as demais. É a pedra filosofal, o santo graal do Capitalismo Aassassino. Mais omnipresente que os deuses antigos. Um trebelho fetiche que promete a satisfaçom dos desejos mais inconscientes. O mesmo nome de móvel no canto de movível despe um animismo ancestral. Como se o móvel tivesse vida própria. É a nossa cadeia de ouro. A síndrome de dependência do móvel é terrível e supom um peso enorme nas economias familiares assim como um lucro exponencial para as empresas de telefonia. As nossas vidas giram dum jeito abraiante em torno a ele porque sabemos que sem ele estamos esquecidos dum mundo, que já é hoje mais virtual que real.
É paradoxal que a telescravatura conviva coa pobreza energética e a tecnodependencia. Fam-nos crer no mito da independência e no auto-emprego para nos substituir polas submissas máquinas e arrastrarmo-nos a remar em galeras virtuais. A tecnologia aparva e isola. Agora a inteligência sonhada está nos smart (smart tv, smart phone, smart watch…) tecnologia avançada que osma a nossa intimidade sem necessidade dum drone. Já nom precisamos intimidade pois o sucesso consiste em amostrar ao lem umha imagem emanada do tecnodivino como um eflúvio digital. Queda em picado de Black Mirror ou a distopia real. Já nom precisamos ser inteligentes, para isso está o sistema operativo, só funcionar, como dizía Baudrillard em n’A transparencia do mal.
Que longe ficam aqueles primeiros autómatas humanoides medievais como o autómata de lavado de maos ou aquele cavaleiro mecânico de Leonardo da Vinci.
Aquela cena do filme Sleeper, O dorminhom, essa genial sátira futurista de Woody Alhen, em que o robot-empregado doméstico (que em realidade é um humano que suplanta umha máquina) desfruta do orgasmatrom, evidência o caminho do prazer mais grotesco, o prazer passivo e eficiente, o hedonismo submisso do processo de infantilizaçom desta civilizaçom tecnológica. Ou incluso a asexualidade numha ditadura onde as pessoas som frígidas, nom tenhem desejos polo que precisam as máquinas para ter orgasmos e funcionar bem no sexual.
Hoje o orgasmatróm é um massajeador da cabeça mais a Real Dolh já fabrica bonecos sexuais realistas, bonecos com pene biónico para nos poder relacionar com um outro passivo. Poderíamos considerá-lo um onanismo assistido. Nunca tantas pessoas houvo no planeta, nunca tanta capacidade de comunicaçom tivemos e porém, nunca tam necessitados do outro, dum outro que eslui mesmo na presença!
Quando Allam Poe descreve a Johm A.B.C Smith, aquele herói de guerra com um corpo composto de múltiplas próteses nom podia sequer imaginar os insetos cíbor de DARPA capazes de transmitir informaçom a través de sensores implantados. A maioria parte das pessoas tecnológicas nom precisamos nem de implantes. Funcionamos melhor que os insetos transmitindo informaçom e por cima ainda o pagamos. Curiosamente nom triunfárom os robôs humanoides senom os humanos robotoides. A invasom das máquinas, coa destruiçom massiva de emprego sem contrapartida social, foi encoberta polo xorne nom-humano das mesmas. Amolaria mais que essas portagens fáceis onde funcionamos de balde para a concessionária dona do território fossem androides. Certo que há cíbors que melhoram as nossas vidas como os marca-passos ou os implantes cocleares que lhes permitem ouvir às pessoas xordas. Mas acho que o maquinismo trouxo mais prejuízos que bondades. Entre estas situo esse manifesto cyborg de Donna Haraway que tivo o afouto de lhe plantar cara ao feminismo essencialista rejeitando os limites rígidos e propondo unir coaligaçons políticas em planos de afinidades mais que de identidades.
Mália que o ciberfeminismo desenvolve software livre para a socializaçom do conhecimento e do trabalho colaborativo, a informática da dominaçom rege hoje o mundo. Coa diferença respeito ao Medievo de que antes éramos escravos forçados da terra e agora somos escravos entregados dos amos cibernéticos. E posto que a mensagem é o meio, como bem aponta Jerry Mander: o processo de imagens editadas que se movem rapidamente através dum cerebro humano passivo é mui diferente da recolecçom ativa de informaçom, tanto de livros ou jornais como de passeios na natureza. Como resultado, as pessoas podem voltar-se mais passivas, menos capazes de lidar cos matizes e a complexidade, menos capazes de ler ou criar. A gente pode-se virar mais parva e ter menos entendimento dos eventos do mundo mesmo num ambiente de muita disponibilidade de informaçom.
A aceleraçom da vida e também da informaçom fai que o nosso sistema nervoso esteja também, penso eu ao borde do colapso. Ainda que a cibernética seja a ciência que estuda os fluxos de energia parece que é cega ao esgotamento das energias fossilistas e a falha de alternativas para manter este mundo orgiástico de demanda energética.
Mas nada há que temer quando o sistema colapse enquanto o mundo mediático nos fabrique as expectativas e faga funcionar ajeitadamente o nosso sistema operativo nessa ilusom de presente perpétuo, condicionamento reforçado pola psicologia consumista da auto-ajuda.
O mau vai ser se todos os cans que matam a soidade nas cidades mudam em ciborg-cans como aquele abraiante cam polícia de Fahrenheit que se dava a caçar, em direto e desde a tv-interactiva, a qualquer um que o Poder sinalava como delinquente. Quem sabe que fariam entóm os animalistas cibernéticos!