Quando nos achegamos à emblemática data do 17 de Dezembro, escolhida por parte do movimento galego nos seus primórdios como jornada de afirmaçom nacional, voltamos a aqueles feitos, nunca suficientemente dimensionados. Fazemo-lo resgatando um interessante fragmento escrito polo nosso exílio em 1966, publicado em ‘Ruedo Ibérico’ com o intuito de espalhar as razons históricas da nossa luita.

“1480. ‘Nos considerando el desorden social e para gobernar e mantener nuestros pueblos en quietud…’, diz a cédula real conferindo poderes a Don Fernando de Acuña como vice-rei da Galiza. Ao seu carom Garci Chinchilla, 300 lanças e um poderoso exército de ‘estrangeiros’, ‘que todas estas eran a la jineta y castellanas’. Fam a sua entrada em Santiago. Algumha crónica diz que o povo lhes opujo resistência. O arcebispo Fonseca e os cavaleiros tivérom-nos por bons, ‘unos más que otros.’ ‘Saquemos buen partido y obedezcamos al rey’, diz o Arcebispo Alonso de Fonseca. O Marechal Sueiro Gomes; o Conde de Caminha Pedro de Souto Maior, Conde deAltamira; Lope de Moscoso; Diego de Andrade; todos grandes do Reino, apoiam Acuña. Acediano de Cornoces traz as leis sancionadas em Madrigal. Ldo. Tordehumos e Álvaro de Gijo venhem como generais da Hermandad.

‘Designáronse para los cargos de oficios de diputados, tesoreros y recaudadores a los extranjeros’, e de pouco valeu aos procuradores das cidades alçarem-se ao rei a reclamarem gente do país para esses cargos, e tratando de libertar o povo, abafado de tributos até o limite, de ter que pagar a Hermandad, porque frente esta cessava todo foro. Istoera a lei.

Ora, ‘el malhechor recibía los Sacramentos…’ e procurava-se que ‘muriera lo más pronto que pueda para que pase seguramente su ánima’. O que roubava de quinhentos a mil maravedis curtavam-lhe o pé. A pena capital aplicava-se asaetando o reu. Alfonso de Aragom, irmao do mesmo rei Fernando o Católico, dirigia na Galiza a aplicaçom desta‘justiça’.

A nobreza da Galiza vai-se submetendo, ainda que para maior segurança dos Reis Católicos a maior parte é obrigada a residir na Corte, aonde levarám, porém, as suas rendas. Primeiro havia um convite cortês, ‘Nos consideramos…’, que logo trocava num ‘…so pena de muerte’ se alguém apresentava resistência para se transladar a Castela. O plano dos Reis Católicos, ou da equipa de interesses que representavam, era, para rematar com a personalidade da Galiza, todo o científico que na altura puidesse imaginar-se.

Apenas o marechalPardo de Cela, ainda representante do feudalismo, toma consciênciada trampa na que está a cair a Galiza inteira, e tratando de torcero destino desafia o poder dos Reis Católicos. Estes dam-lhe a orde,como a todos os nobres dos que duvidam, de se apresentar na Corte, primeiro cortesmente, logo exigem-lho para dar conta dos seus actos. O marechal nom resposta. Três anos resiste na fortaleza da Frouseira as tropas do mercenário Luis Mudarra, antigo guerreiro francês. Outros dous senhores, Pedro Bolanho e Pedro Miranda, ajudam o marechal. O povo começa a distingui-los como ‘os três Pedros da Galiza’. Acuña e o de Chinchilla formam causa ao rebelde e condenam-no a garrote vil e à confiscaçom de todos os seus bens. Aof im umha traiçom dos criados do marechal, comprados por Mudarra, abre as portas da Frouseira a este. O marechal e o seu filho de vinte anos, encadeados, som conduzidos para Mondonhedo no meio de grandes precauçons. A dona do marechal consegue o indulto em Valhadolid, mas alguém a entretém quando está a chegar às portas de Mondonhedo, justamente na ‘Ponte do Passatempo’, de onde vem o nome. E alguém que sabe que traz o indulto. Som cregos. Forças obscuras que tomaram o poder temporal da Igreja, disfarçadas com o espírito religioso do homem, aparecem no transcurso da história com abafante pontualidade quando se trata de destruir a Galiza.

Pareceria que a evoluçom do solar galego, respeitando a sua característica diferencial, tinha reservado algumha cousa importante no progresso do homem, e ao ser conhecido isto pola reacçom através dumha espécie mágica de sabedoria adianta-se a utilizar todas as suas forças retardatárias para impedi-lo. Alguns feitos históricos, quer do passado, quer do presente, pareceriam estar denunciando isto.”

Extrazido de ‘Galicia hoy’, Ruedo Ibérico, Argentina, 1966.