O acordo preliminar para o Brexit entre a UE e o Reino Unido anunciado pela Primeira Ministra británica Theresa May puxo de actualidade um tema que levava no ar desde a celebraçom do referendum sobre a saída da UE. A vitória do sim no plebiscito contrastava com o nom maioritário nos territórios irlandeses baixo soberania britânica e abria um futuro cheio de incertezas.

O backstop e as suas consecuências

Dalgumha maneira as negociaçons anunciavam-se negativas para os interesses ingleses na ilha fosse qual fosse o resultado. Com o frágil equilíbrio existente logo do Good Friday Agreement (Acordo da Sexta-feira Santa), Londres e Bruxelas nom estavam interessadas numha fronteira com controlos físicos na ilha polo que procuravam umha backstop, umha espécie de rede de segurança pola qual UE e Reino Unido se comprometeriam, mesmo nom chegando a acordo entre elas, a que as fronteiras na Irlanda ficariam à margem. Na prática, esta backstop que se vem de confirmar no pré-acordo, significa que a Irlanda do Norte ficará na uniom alfandegária e no mercado comum europeu enquanto permanece baixo soberania britânica.

Imaginam produtos com origem na Irlanda Repúblicana ou no resto da UE a entrarem livremente na Irlanda do Norte, enquanto produtos fabricados em Inglaterra tenhem que passar duros controlos?, diferentes etiquetagens para produtos fabricados em Belfast ou Manchester?, Irlanda do Norte submetendo-se antes a decissons com calado económico tomadas em tribunais europeus que nom em britânicos? A reacçom do unionismo nom se fixo esperar e as acusaçons hacia May de «ter vendido a Irlanda do Norte» arreciárom nos últimos dias.

E a gente que opina?

Num inquérito publicado pelo Belfast Telegraph o passado 13 de Novembro, constatava-se como um 61% das pessoas inqueridas no Norte pensavam que nom se deveria fazer o Brexit se isto implicava umha “fronteira dura” na Irlanda, percentagem que subia até 83% na República. Na mesma consulta pedia-se a opiniom sobre se o Brexit fazia mais possível a unidade na ilha ao que as pessoas participantes no Norte responderam com um sim num 62% dos casos (na República baixava até um 35%).

Estes dados indicam umha tendência para o aumento da oposiçom à saída da UE com respeito aos do referendum de 2.016 (quando os resultados foram dum 55,78% polo nom). A posiçom oficial dos partidos unionistas respaldando o governo de Londres a favor do Brexit contrasta mesmo com a opiniom de boa parte das suas bases. A medida que as consequências se vam fazendo evidentes em perda de emprego e nível de vida, antigos votantes unionistas do sim vam mudando de ideia: num artigo publicado em The Guardian cita-se a opiniom dumha anónima empresária unionista votante a favor do Brexit «Falamos da perda de recursos e empregos, para sempre. Nom é possível que eu vote a favor disso. Eu reconheço-o entre amigas, mas publicamente finjo que nom mudei de ideia».

A economia, sempre a economia

Entre a crise económica mundial e a incerteza actual polo Brexit a situaçom económica nos territórios irlandeses sob soberania britânica dista de ser a melhor. O paro subiu até cifras recorde e em 2.018 foi a economia que menos cresceu no Reino Unido. O 2.019 nom promete melhorias pois segundo o UK Economic Outlook (UKEO) voltará a ser em 2.019 o território que menos cresça.

Assim as coisas o economista alemám Kurt Hubner vem elaborando diferentes modelos desde 2.015 («Modeling Irih Unification») sugerindo a ideia de que umha unificaçom da ilha seria a única maneira de evitar as graves consequências económicas que teria o Brexit para este território. Segundo o autor, se bem a saída do Reino Unido suporia umha forte caída da inversom pública procedente de Londres esta veria-se compensada com creces por umha melhora na produtividade e nos ingressos como consequência da unificaçom e permanência na UE.

Nom é de estranhar pois que no mundo empresarial e dos negócios exista malestar polo posicionamento do DUP (partido mais representativo do unionismo) em aberta oposiçom ao backstop, e exerceram pressons em Londres e Bruxelas para evitar umha “fronteira dura” em Irlanda. Existem fortes temores entre a burguesia às possíveis más consecuências que o Brexit poderia ter para a economia e o aumento de violência vencelhada a negócios de contrabando.

O futuro

O anúncio de pré-acordo leva a que médios tam pouco suspeitosos de apoiar a causa irlandesa como The Guardian se questionem se realmente é umha fantasia umha Irlanda unida. E é que no ambiente está muito presente a ideia de que a unificaçom é algo inevitável, apesar dos medos que podam existir nos sectores unionistas.

Desde posiçons nacionalistas som várias as vozes optimistas. O escritor e activista Osgur Breatnach afirma «pode-se concordar ou nom [com a unificaçom], mas vai acontecer». Para o ex-militante do IRA Tommy McKearney «a possibilidade já nom é um sonho impossível» mas considera que é algo a longo prazo «20-30 anos». Outro ex do IRA, o escritor e actual diretor de publicidade do Sinn Féin, Danny Morrison, afirma que «em termos sócio-económicos fai sentido. Está a emerger umha maioria que apoiará umha mudança radical» sinalando a possibilidade mais que plausível de que sectores unionistas do mundo dos negócios optem polo pragmatismo e apostem por umha opçom que lhes permita continuar na UE.

Seja como for, o Brexit já provocou um forte debate ao Norte e Sul da ilha que conseguiu mudar ideias e mentalidades preconcebidas.