Terra de Montes é umha comarca histórica do nosso País. Embora rachada polas delimitaçons provinciais e municipais espanholas impostas desde o século XIX, a bisbarra inclui as paróquias do extinto concelho de Cerdedo e de Forcarei (província de Ponte Vedra), e de Beariz (província de Ourense), para além doutras freguesias lindeiras de concelhos como Cotobade, a Lama, Campo Lameiro, a Estrada ou Lalim. Esse esfarelamento progressivo da comarca tivo o seu último episódio na absorçom do concelho de Cerdedo por parte de Cotobade (alegada “fusom” gestada de maneira escurantista polo caciquismo local em benefício dos seus interesses) mas apesar desta trajetória a identidade comarcal desta terra continua viva.
A comarca apresenta semelhanças com outras do interior: decadência demográfica, crise dos setores económicos tradicionais sem alternativas que permitam reter a populaçom e domínio sócio-político da direita caciquil desde 1936. Terreno abonado para que o território seja alvo de interesses económicos alheios com projetos destrutivos e cujos hipotéticos benefícios económicos para as comunidades locais som mais que questionáveis, quando nom totalmente inexistentes.
Um exemplo disto temo-lo na construçom de obras públicas como o AVE, cujo passo por Cerdedo é reclamado constantemente polo presidente da Cámara viguesa, o bufom localista Abel Caballero, na sua cruzada por levar esse comboio até a cidade olívica de forma direta desde Ourense, cruzada na que está bem acompanhado pola imprensa galego-espanhola, por organizaçons sindicais como UGT e também polo apoio seguidista e acrítico de todas as forças políticas com representaçom institucional. E isto apesar de que o tal comboio de alta velocidade vem sendo questionado pola sua agressividade sobre o território, a sua contribuiçom à desvertebraçom da Galiza, o seu caráter centralista, por nom solucionar e até piorar as necessidades reais de transporte das classes populares e mesmo polo duvidoso da sua viabilidade económica, questionada inclusive por instituiçons da UE e entidades como a Asociación de Geógrafos Españoles.
Pois bem, o AVE por Cerdedo, proposta que felizmente ainda nom é definitiva nem segura, suporia a construçom de viadutos, grandes trincheiras que separariam aldeias dos seus montes e túneis que suporiam a criaçom de descomunais entulheiras. A todo isto somariam-se os danos aos recursos hídricos, ao património histórico e à paisagem.
Outro perigo a pairar sobre a comarca é, como noutros pontos do País, o da mineraçom. Apesar de que nom há notícias do projeto desde há algum tempo, a abertura de umha mina de tantalita nas freguesias de Presqueiras e Xirarga segue a ser umha possibilidade à espera de que a empresa interessada, Solid Mines (filial espanhola da canadiana Solid Resources), decida retomar os seus planos, sem estar ainda claro se a mina seria a céu aberto ou nom. Ao mais puro estilo colonial e com o apoio entusiasta das instituiçons autonómicas, este prezado recurso seria extraído da nosso País para ser exportado e destinado a satisfazer as demandas da indústria tecnológica sediada noutros países.
Um novo parque eólico
Mas o mais destacável, por ser umha realidade desde há duas décadas, é a invasom eólica que Terra de Montes sofre e que parece avançar na mesma medida em que recua a populaçom e se vazia o território. No que parece umha desafortunada maneira de marcar os limites tradicionais de umha comarca negada, os parques eólicos fôrom ocupando desde finais da década de 90 montes como o do Seixo (destacável pola sua impressionante riqueza em património material e imaterial) ou a Serra do Candám. A desfeita foi grande, o desenho colonial evidente e os benefícios para as comunidades que os suportam desconhecidos, deixando à parte as contrapartidas conseguidas pola cacicagem.
O novo pulo que está a receber a construçom de parques eólicos está a reativar outros projetos latentes desde há anos num território propício por causa da sua orografia. E entre estes o do Montouto, no limite entre os concelhos de Cerdedo-Cotobade, a Estrada e Campo Lameiro, é o que nestes momentos se encontra mais perto da sua culminaçom, após os passos dados pola empresa Enel Green Power nos últimos meses da mao das novas facilidades dadas pola Junta da Galiza para impulsionar o saqueio da nossa Terra mediante a conhecida como “lei de depredaçom da Galiza”.
Enel Green Power (do grupo italiano Enel, proprietário de Endesa) prevê erguer neste monte um parque eólico denominado Pico Touriñán que incluiria até 10 aerogeradores que proprocionariam umha potência de 24MW. A instalaçom industrial contaria, aliás, com mais de 4 km de viais de acesso e as correspondentes rede soterrada de conexom e subestaçom transformadora. Do lado do Concelho de Cerdedo-Cotobade o parque eólico afeta o monte comunal da paróquia de Quireza, cuja Comunidade de Montes já aceitou no seu momento o projeto em troca de um pagamento anual e sempre que nom conleve a expropriaçom forçosa do monte. Da parte da Estrada as propriedades atingidas som privadas, nom comunitárias.
Questionamento e oposiçom
Numha comarca avelhentada, despovoada e controlada polo caciquismo do Partido Popular que cumpre desde há décadas a funçom de assegurar umha morte sem sobressaltos e, no caso que nos ocupa, de exercer de facilitador dos negócios de empresas estrangeiras, a oposiçom a todos estes projetos foi até o momento minoritária. A meritória voz de associaçons como a desaparecida Verbo Xido ou de coletivos como Capitám Gosende foi quase o único veículo de expressom de rejeitamento a uns planos que contam com o apoio do poder local e de umha parte destacável da populaçom, que espera a obtençom de algum benefício e parece dar por impossíveis outras vias para dar nova vida ao monte e ao rural numha terra em que as pensons e os postos de trabalho temporários ofertados polos concelhos se encontram entre as fontes de ingressos mais importantes.
Voltando ao caso do parque Pico Touriñán o rejeitamento está a vir principalmente da Associaçom Rapa das Bestas, organizadora do conhecido evento que tem lugar na paróquia de Sabucedo, freguesia pertencente ao concelho da Estrada mas historicamente parte de Terra de Montes. Para além da apresentaçom de sucessivos recursos e alegaçons ante a administraçom, o último um recurso de alçada à Conselharia de Economia e Indústria após a resoluçom de 26 de julho da Direçom Geral de Energia e Minas, que autoriza a construçom do parque eólico, a associaçom busca a soma de apoios para, no mínimo, conseguir evitar os danos mais grandes que o parque trazeria para a Rapa das Bestas como evento e para as próprias bestas do monte, cavalos de raça autóctone que nos últimos anos estám a viver dificuldades pola escasseza de pastos.
No manifesto feito público nos útimos dias, a associaçom apela à necessidade de proteger o património vegetal, animal, etnológico e arqueológico, denunciando factos como o alto risco de incêndios que suponhem estas instalaçons (sem irmos mais longe, este verao umha avaria num moinho eólico do parque do Monte do Seixo provocou um lume), a possível destruiçom de mananciais, a saturaçom de parques eólicos na zona ou o impacto negativo para as greias de cavalos nos montes e para o próprio evento da Rapa das Bestas como elemento de dinamizaçom sócio-económica.
Umha outra associaçom que fijo público o seu rejeitamento ao parque foi o Coletivo Portalém, que num comunicado se perguntava que benefícios reais deixaram à vizinhança até o de agora os parques instalados na comarca e defendia a procura de alternativas económicas que aproveitem os recursos próprios e um modelo de produçom de energia baseado em projetos comunitários, sob o controlo vizinhal, pensados para satisfazer principalmente as necessidades locais e respeitosos com o território.
Suceda o que suceder finalmente com todos estes projetos, a situaçom de Terra de Montes exemplifica sem dissimulos as consequências de séculos de submetimento a desenhos e planos alheios, da carência de soberania e da submissom aos desígnios do capitalismo colonial. Umha Galiza autocentrada e equilibrada ou umha série de cidades conectadas com Madrid e rodeadas de um grande ermo ocupado por minas, eucaliptais e instalaçons para a produçom energética; eis os dous caminhos possíveis do nosso futuro.