Por Joám Jesus Gonçales (adaptaçom do Galizalivre)/

Em Janeiro de 1923, um Joám Jesus Gonçales de 27 anos escreve este artigo para o jornal El Progreso. Nove anos antes de fundar a primeira organizaçom marxista e independentista na história da Galiza, a USG, e treze antes de que o fascismo espanhol o fusilasse. Nele, o cuntiense valoriza como socialista e sindicalista galego o nascimento do independentismo catalám e o aumento da tensom no regime da I Restauraçom borbónica. Apenas cinco anos depois de que as Irmandades se proclamassem nacionalistas mas autonomistas, o canteiro de Sebil já está a falar de rachar o Estado espanhol e independizar os povos que submete como único progresso comum possível. A actualidade e claridade do texto na presente tensom entre Catalunha e Espanha desta II Restauraçom Borbónica abraia. Lembremos, por isso, que em Setembro daquele ano se produz o golpe que há erguer a ditadura de Primo de Rivera lustro e meio. No fondal destas palavras pode também que encontremos o eco de James Connolly justificando o apoio dos socialistas irlandeses ao independentismo na década anterior.

Estamos diante da possibilidade dumha guerra civil entre Espanha e o nacionalismo ibérico. A primeira regiom que se atreve a provocar a Espanha é Catalunha pola boca dum ex-ministro que colaborou coa Espanha oficial durante vários anos.

Os acontecimentos que se sucedérom eram já de aguardar, estavam previstos desde o mesmo momento em que começárom as primeiras manifestaçons regionalistas. Nom nos devemos abraiar agora do que aconteça entre a Espanha centralista e a Catalunha nacionalista, já que virá a ser umha lógica e razoável sequela do que todos já presentimos.

A atitude que hoje apresenta Catalunha frente a Espanha é tam razoável como a que amanhá há adquirir a Galiza, outro dia Bascónia e outro outra regiom da Península Ibérica que tiver umha personalidade histórico-geográfica definida e clara.

Isto tem de acontecer. A unidade nacional espanhola nom pode ter substantividade real; apenas pudo ter existência enquanto o furor imperialista de Castela tivo asas e as pudo estender sobre o solar ibérico. Hoje já nom as tem e, por tanto, esse imperialismo político e administrativo que tivo -como a língua espanhola- origem na regiom central da Ibéria nom pode subsistir por mais tempo.

Os povos submissos, as regions esquecidas e até oprimidas sentem a necessidade de reconstruir o seu passado e de reaparecer na esfera da vida cívica com umha personalidade reja que nom nasce ao calor e ao abeiro de nengumha bastardia.

Ao regionalismo de ontem cumpriu-lhe trocar-se em nacionalismo de hoje, porque assim o quigérom os poderes da Espanha indivisa que, embebedados numha funçom de oligarquias e cacicatos, nom quigérom escuitar as vozes de socorro que pediam os povos ibéricos afogados, à margem da lei, polos seus tiranos e os seus opressores.

E que nom haja dúvidas. Havemo-nos regenerar, havemos adquirir a nossa personalidade e reivindicaremos os nossos direitos usurpados por um regime faccioso, anti-jurídico e anti-legal. Séndomos nacionalistas todos, sendo todos intransigentes em reclamarmos o que nos roubárom, como intransigentes fôrom os que nada nos dérom porque todo foi pouco para eles.

Era tempo de que os povos humilhados adoptassem esta atitude enérgica e baril. Ia sendo hora de que acordássemos e olhando o baldom do nosso passado tentássemos trabalhar no bem da nossa própria pátria.

Nacionalistas sim que temos que ser, mas partidários daqueles menos teóricos e mais práticos em todos os diferentes aspectos e ordens da vida. Para que estar a passar o tempo em discussons vougas sobre se cumpre sermos mais nacionalistas ou espanholistas quando se precisa acudir a umha frente onde se necessitam forças mui poderosas para vencer?

Nós nom odiamos nengum povo nem pretendemos aldrajá-lo; detestamos, execramos e amaldiçoamos o negro centralismo espanhol porque ele foi a causa de todos os nossos males. Foi ele quem nos inçou de misérias e de humilhaçons. Estamos a carom dos que luitam polo ressurgimento dos povos ibéricos e com eles havemos luitar em todas a ocasions seja qual for a nossa situaçom. É um dever que temos como galegos e como homens dumha geraçom nova.

Nom queremos pertencer a um exército de homens râncios em ideias e saudasistas em costumes falsos. Queremos ser dos que nobremente vaiam à conquista dos mais legítimos direitos que puderem pertencer à pátria em que nascérom.

Estamos ao pé dos nossos nacionalistas para luitar com eles, para emprestar-lhes a nossa colaboraçom para além de irmos ao engrandecimento da Galiza empregando todos os meios ao nosso alcance. E, como já deixamos dito, o nosso labor há ser sempre galeguista seja qual for o sector que ocupemos nos curtos dias que tenhamos de vida.

Reconhecemos esta necessidade de luitar por nós mesmos e em bem dos nossos, porque chegamos a saber o muito dano que nos figérom e que ainda nos seguem a fazer. Nada nos importa a disgregaçom de Espanha pois nela há-se-nos dar glória e esplendor. É, precisamente, no seio dessa disgregaçom onde se encontra o nosso ressurgir. O ressurgir dos povos ibéricos.