Por Iolanda Teixeiro/

O mais comum quando falamos de decrescimento entre pessoas que começam a encaminhar nesta alternativa ao paradigma capitalista é umha atitude de rejeitamento irracional cara a umha palavra que, desde a sociedade do crescimento ilimitado, vê-se como um jeito de culto a tánatos. Tenho observado que sucede o mesmo quando um praticante de tai chi se inicia na filosofia taoista.

Nom é algo casual, ao fim as filosofias originadas numhas sociedades ainda respeitosas coa mae natura tinham um pensamento comum no que tem ao equilíbrio da vida, do que hoje carecemos, ainda que fosse por simples sobrevivência. A mitologia celta coa sua concepçom trinitária do mundo como a taoísta sobardava sabiamente essa polaridade opositora na que a sociedade do lucro se autoimola. Também no mundo medieval abundavam os tratados alquímicos e a iconografia da coincidentia oppositione. Mas o mundo capitalista crebou essa noçom de equilíbrio co único afám de gerar mais-valia para o lucro dumha elite numha compulsiva orgia de Gigantomaquia tanatocrática. Psicanalistas haverá que poderám afundar na pulsom de morte freudiana. Entrementes a sociedade tecnológica, co seu processo de maduraçom acelerada da neneza e o processo de infantilizaçom da maturidade, seguirá a nos vender um hedonismo consumista bem afastado do que as escolas gregas da Antigüidade enxergavam. Hedonismo tam semelhante a um estoicismo de escravatura que fai tremer ao avistar a disjuntiva entre Decrescimento ou Barbárie.

No antigo mito de Teseo no Tártaro, este e Pirítoo sentam ali na Cadeira do Esquecimento de onde nom se podiam erguer sem se auto-mutilar. O tema mítico dos gémeos unidos pola coluna em que está pousada a deusa da Morte-em-Vida que arreda os solstícios e ajunta a organizaçom da vida comunitária em torno a eles é o símbolo antigo comum a todas as culturas agrarias. O assassinato mútuo dos irmaos gémeos lembra-nos a eterna rivalidade polo amor da Deusa Branca entre o rei sagrado e o seu sucessor que se vam matando alternativamente um a outro. Nom é outro que o deus Jano das duas cabeças do mês de Janeiro, do novo começo.

Mas coa apariçom do mito do progresso e a sua concepçom linear da história -que ao arredarmo-nos da natureza e dos seus ciclos crebou a concepçom circular da vida-, perdemos a medida humana e a consciência da inter-dependència que foi substituída polo conceito moderno de independência. A indústria apropriou-se de todos aqueles eidos das nossas vidas que antes resolvia a comunidade. Todos salvo o mundo dos cuidados e do mantimento da vida que ficou nas sombras do Mercado acornelhado no marginado mundo feminino, esse do que as mulheres empoderadas na burguesia fogem para cumprir coa paridade desse feminismo da igualdade. Co mito tecnológico e as sociedades burocráticas figemo-nos novos Prometeus felizes das cadeias que nos imponhem os deuses laicos do panteom do mercado global. Mas roubar-lhe o lume aos deuses durou o tempo que delongou o sonho das Luzes, umha ilustraçom elitista que descansava manu militari no colonialismo da escravatura mais atroz. Porque foi Prometeu quem forjou as suas próprias cadeias ao querer-se apropriar para si mesmo da energia do planeta.

Falar de decrescimento nom é só, que também, falar de práticas alternativas auto-geridas nas comunidades de base, nom é só falar de soberania alimentar, de relocalizaçom da produçom, de cooperaçom e redistribuiçom, de resiliência e ajuda mútua. Falar de decrescimento é construirmo-nos um espelho onde nos volver mirar colectivamente. Um caminho polo que transitar com um pensamento compartilhado que nos oriente nas encruzilhadas da transformaçom pessoal e colectiva cara a umha sociedade que vai decrescer por força no esgotamento das energias fósseis. É falar de filosofia política, dumha muda de consciência colectiva. E há muitas rémoras contra esta muda. Nom só na mocidade senom também nas pessoas idosas, essas que ainda tenhem um pé num passado que mistura num imaginário a pós-guerra, o fascismo e o mundo pré-tecnológico.

No I Congresso para o Decrescimento, em Ferrol, o mesmo que nas avondosas palestras da sua apresentaçom desde o Eu-Návia até o Berço passando por Porto e a Galiza, o denominador comum avondava no próprio conceito de decrescimento como polaridade oposta ao crescimento em todos os eidos. A fé cega no progresso e os seus mitos tecnológicos redentores, e umha atitude colonizada polos ditados do deus Mercado também no que tem aos prazeres da vida.

A consciência dos limites que a disponibilidade de energía nos impom é algo que ninguém parece querer aceitar como bons crentes na religiom do consumo e a pedagoxia do positivismo da auto-ajuda e o mau-será. Todas as ideologias do arco da velha da política representativa desde a direita até a esquerda escudem a palavra decrescimento. Perante o tótem do Mercado, também do eleitoral, esse é o tabu. Desde os conservadores mais ferozes ate os comunistas mais radicais fogem deste paradigma como alma que leva o dianho. Os mais ousados dam-se ao novo ilhó da economia circular onde o verniz ecológico demodé é hoje novo nicho de mercado.

Mas sem consciência dos limites prometeicos, sem capacidade de olhar além das nossas vidas pequenas, individuais e euro-céntricas nom seremos quem de nos organizar num processo racional e colectivo fronte ao colapso. A simples constataçom de que a nossa soberania alimentar está em maos das multinacionais e depende da disponibilidade de petróleo para ser transportada onda nós desde as antípodes do globo deveria de nos fazer mudar nas políticas de recuperaçom urgente da nossa soberania alimentar e territorial, se nom por justiça social cara as sociedades escravas obrigadas a abastecer as nossas despensas esvaziando as suas, quando menos por egoísmo ou instinto de sobrevivência.

De todos os R decrescentistas, reduzir é o primeiro, incluso desde o nosso egoísmo ocidental, porque como di Carlos Taibo no seu livro En defensa del decrecimiento, o consumo nom deixa espaço para a vida. Reduzir porque tem menos gasto energético que Reutilizar e muito menos que Reciclar. Disque Sócrates ía ao mercado para se assegurar do sem fim de bens dos que nom tinha necessidade. A sobriedade e a simplicidade voluntária é a melhor política rebelde e ecologista que podemos manter. Já Erich Fromm alertava que o culto ao ter minguava o ser. E Tuiavii de Tiavea, aquele chefe samoano afirmava que nós, os Papalagi éramos pobres a causa das nossas muitas cousas.

A leitura do livro Para uma história das necessidade de Ivám Illich fai-me cismar na necessidade dumha política decrescentista sobre as necessidades. A necessidade de criar grupos de deboura para definir comunitariamente as necessidades no trânsito para umha sociedade por força decrescentista. Organizar o reino da necessidade e o da liberdade, outra volta os dous reinos de Marx. Reinos que nos levarám a reconceptualizar cara a muda do sistema de valores na educaçom e a lembrar o valor de uso fronte ao império do valor de câmbio.

A necessidade de nos questionar a publicidade e o mundo da moda nos media, impregnados dessa ideologia que cultiva a insatisfaçom permanente e a obsolescência programada, o caldo do processo de socializaçom. Insatisfaçom que nos leva ao isolamento e à constante frustraçom, acajomada ao mundo da competitividade selvagem e da insolidariedade.

Reduzir por equidade. Reduzir por combater a obesidade mórbida energética e a anorexia e bulímia dum jeito de viver que já nom diferencia entre tránsito, auto-gerado, onde se fai uso do trabalho intensivo e transporte, motorizado, onde se fai uso do capital intensivo. Reduzir a motorizaçom, a nos rebelar contra a omnipotente indústria da circulaçom que nos embebeda co imaginário da velocidade num mundo onde as elevadas cifras de mortes em acidentes de tráfico som tam caladas como os suicídios. Reduzir a velocidade porque esta aumenta a distância e nos exprópria o território acelerando involuntariamente os nossos ritmos de vida. Visionários como Wenceslao Fernández Flórez em El hombre que compró um automóvil já se adiantárom na análise crítica do monopólio da indústria automobilística e as consequências sobre as nossas vidas. Reduzir dados de informaçom porque como adiantou Rad Bradbury em Fahrenheit 451, a temperatura à que os livros ardem, esses dados combustíveis, intranscenedentes para nos fazer crer que pensamos sem pensar, que nos movemos sem nos mover e que estamos ao dia quanto à informaçom. Mas nengum dado que nos permita atar cabos.

Reduzir por aforrar energia porque a mais energia mais controlo social e mais desigualdade. Porque temos necessidade de identificar politicamente, como dizía Ilhich, os limites de consumo energético, pois que o bem-estar depende da quantidade de escravos de base energética que cada pessoa tem ao seu dispor. Algo que nom se escuita jamais nas consignas de sindicatos nem partidos que se dim de esquerda. Como tampouco se escuita o de reduzir o tempo de trabalho remunerado para repartir o mesmo assim como a mais-valia. Sair da eleitoralista esquerda produtivista que se vende ao pacto polo crescimento como a direita mais monopolista. Reconceptualizar o conceito de trabalho, emprego e lazer. O trabalho como valor de uso ou como valor de câmbio.
Reduzir, em fim, o mercado global e relocalizar a vida, aquela vida de bairro ou de aldeia que tinha a paroquia como universo referencial. Essa que a estrada e o motor, em nome do progresso, véu deturpar.

Decrescimento ou tanatocracia, em fim. Ou imos na procura do ter-ter, do equilíbrio dinâmico entre eros e tânatos ou o ecofascismo nos sentará na cadeira do esquecimento do Tártaro de onde nom nos poderemos levantar sem nos auto-mutilar.
-Bom homem, onde está o caminho?
-Eu nom sei nada, eu nom quero saber nada.
Ah, desta casa!
Todos calavam. (Ferreiro:Prometeu encadeado)