Por Jorge Paços /
Foi há quase um ano quando o sindicalismo nacionalista representado pola CIG apresentava denúncia penal nos julgados de Verim contra Estado e Junta por ‘prevaricaçom e delito contra os trabalhadores’ por mortes nas obras do AVE. Dez meses depois, um novo falecimento no sul da Galiza, desta volta em Laça, ratifica os diagnósticos mais críticos. A sobre-exploraçom nas obras da alta velocidade soma-se à desfeita ambiental, elementos nocivos que fixérom do AVE um dos cavalos de batalha do independentismo neste século que andamos.
A central nacionalista apontava que existia ‘um desleixo absoluto’ na hora de tratar as condiçons laborais que aturavam os trabalhadores das obras do AVE, permanentemente condicionadas pola exigência de prazos. Com efeito, a pobre dialéctica de a ver quem executa a obra com maior rapidez é umha das mais clássicas do parlamentinho galego, onde os partidos da direita espanhola confluem com a oposiçom institucional na defesa dumha ‘infraestrutura básica para a Galiza’. O próprio Tribunal de Contas da UE tem manifestado há meses que o Reino de Espanha tem incumprido reiteradamente os prazos previstos e aumentado o orçamento inicialmente previsto, mesmo sem conseguir nalguns casos viabilizar os tramos de alta velocidade prometidos. Em qualquer caso, em debate sobre os tempos de execuçom oculta permanentemente o debate de fundo sobre a necessidade de tal modelo ferroviário. As vozes críticas sobre o AVE, baseadas em argumentaçons ambientais e razons de classe, fôrom e som condenadas ao silenciamento e ao ostracismo.
No entanto, a desfeita consuma-se, e neste caso com ‘danos colaterais’ que som falecimentos de pessoas. Ante a passividade da Inspecçom de Trabalho e Segurança Social como da Subdelegaçom do Governo em Ourense, a CIG decidiu-se a denunciar tanto a Conselharia de Economia, Emprego e Indústria, quanto o Ministério de Emprego.
Pingueira de feridos e mortos
Quem reparar nas cifras com certa distáncia e frialdade, reparará no intolerável da situaçom : umha morte em 2013 em Vilar de Bairro, umha outra em 2014 em Vilarinho de Conso, um novo falecimento em 2017 em Laça. A isto soma-se o passamento dum trabalhador em Junho em Pedralva (Galiza oriental), e há apenas quatro dias, a do condutor dum camiom que envorcou. Também devemos levar em conta umha longa lista de intoxicaçons por incêndio, mutilaçons ou caídas. Por trás destes dados, a CIG vê ‘jornadas de trabalho maratonianas’ com ‘autêntico desleixo’ polas condiçons de segurança.
Risco de morte, presença de veleno
As mortes de obreiros nom som a única ameaça que esta grande infraestrutura colonial traz ao sul da Galiza. Há três anos, o ambientalismo organizado em Adega demonstrou cientificamente que os regos que nutrem o Támega à altura de Laça apresentavam índices altíssimos de arsénico e chumbo, entre outros metais pesados. Os poluintes provinham dos sedimentos arrastados desde as obras, logo depositados na bácia do rio. As cantidades multiplicavam 750 vezes os valores permitidos. A entidade ambientalista, longe de pedir a paralisaçom da enorme infraestrutura, limitava-se a pedir a ADIF ‘o controlo dos vertidos e o saneamento das zonas danadas’, mantendo-se na clássica ambiguidade da oposiçom tolerada.
Críticas de fundo
No entanto, e apesar do monopólio mediático e das toneladas de propaganda, existem na Galiza dos últimos tempos emendas à totalidade ao modelo ferroviário em vigor, que feriu de morte o comboio de proximidade e condenou à desertizaçom numerosas bisbarras da nossa Terra. Colectivos independentistas como a Agrupaçom de Montanha Augas Limpas e antidesarrolhistas como o Grupo de Agitaçom Social tenhem editado materiais e lançado campanhas contra este projecto faraónico.