Manuel Gago (adaptaçom ortográfica do Galizalivre)/
A finais do século XIV, um anónimo escritor bretóm, “quiçá um pai ou preceptor“, redigiu o Romam de Ponthus et de la Belle Sidoine, um livrinho ilustrado destinado à ensinança e entretimento dos filhos da nobreza bretá. Poderia ser um romanzinho mais de cavalarias, surgidas ao abeiro da rica tradiçom arturiana começada por Chrétiem de Troyes, mas para nós é algo mais.
A novela narra um conflito a escala global, no que o protagonista é Ponthus, o filho do Rei suevo de Galiza Thibour. Durante o século V ou VI, um enorme exército de 30.000 muçulmanos capitaneado por Broada, Sultám de Babilónia, desembarca na Corunha com o objectivo de conquistar o país. A desfeita é total. Thibour morre em combate, o reino cai; apenas Ponthus, o seu filho, consegue escapar em barco com treze leais. Chegarám ás costas da Bretanha, onde serám acolhidos polo lugar-tenente do rei, e ali Ponthus fará-se um homem de renome, ainda que passa por momentos de desdita. Atraiçoado por um membro do seu séquito galego, Gannelet, exila-se ao mágico bosque de Brocelianda, como já figeram antes os cavaleiros do ciclo arturiano e Merlím. Ali ganhará sona de gram cavaleiro justador.
No Romam de Ponthus et de la Belle Sidoine toda Europa vive assolada pola ameaça sarracena. Ponthus repele as invasons muçulmanas na Bretanha e na Inglaterra, e serve como cavaleiro de fortuna ao rei inglês face aos irlandeses. Todo ele é um modelo cavaleiresco, namorado de Sidoine, a filha do Rei da Bretanha, de quem numerosos subterfúgios, trampas, os inimigos a separam. O seu amor, pola contra, perdura contra todo. Ponthus recria as histórias de Ulisses, errante, fóra da sua terra, valendo-se com o seu engenho para safar das emboscadas; ao mesmo tempo é Lançarote, orfo de pai e mae e filho de rei estrangeiro que prospera graças à sua valía pessoal. Após matar o esposo de Sidoine, o Duque de Borgonha, e casar com ela, Ponthus consegue a velha arela de voltar para a Galiza e reconquistar o país. Depois, com o território pacificado, há tornar com Sidoine de peregrinagem a Compostela.
A novelinha, editada em galego como Ponthus e Sidoine, reis de Galiza e Bretaña por Paulo Nogueira, é um libro de gravados, no que cada aventura é insinuada com apenas um verso que acompanha a umha ilustraçom. Nom é difícil cavilar que era umha historia pensada para ser contada e imaginada nova cada vez, que se podia estender-se oralmente na direcçom que marcassem os caminhos da noite e o interesse dos nenos. Hoje, com as mudanças no ritual da leitura, devoramo-la em apenas vinte minutos. Mas som vinte minutos emocionados: falam-nos dumha Galiza imbricada no mundo atlántico do que nunca nos devemos ir, com umha identidade própria de reino independente, com cidades conhecidas a nível internacional, mergulhada nas lendas do ciclo arturiano, na fronteira coas civilizaçons africanas do sul. E está aí: nom é umha invençom de Murguia, da Geraçom Nós, ou um desideratum de celtistas exaltados. É umha chamada com cornamusa desde outra das fisterras através dos séculos. Umha leitura mui moderna.