Por Santiago Quiroga /

O Festival Intercéltico An Oriant é o maior espetáculo internacional de música celta que se celebra na cidade do mesmo nome, na Bretanha. A próxima ediçom, número 49, realizará-se de 2 a 11 de agosto e será dedicada ao nosso pais. Galiza já fora a primeira naçom a se beneficiar desta nomeaçom no ano de 1994 e será-o novamente para o ano 2019 neste evento, no qual a cultura, a música e as tradiçons dos diferentes países de origem celta se encontram.

O autocolante do festival foi revelado em uma conferência de imprensa do diretor Lisardo Lombardia, no Palácio de Congressos de An Oriant com estas palavras, referindo-se a Galiza: “A outra Bretanha, no final do caminho, a alegria e o calor dos celtas do sul”.

Autocolantes da vindoura ediçom do festival (2019)

Delegaçom galega pede participaçom de músicas/os galegas/os

A delegaçom galega do Festival intercéltico de An Oriant abre um período de 2 meses, de 1 de setembro a 31 de outubro, para receber propostas artísticas. A chamada aberta (ver aqui) reflete os requisitos de acesso para cada uma das diferentes modalidades de participaçom: grupos de baile tradicional, bandas de gaitas e grupos de folk.

Proibiçom das gaitas marciais e da percussom de alta tensom

Deve notar-se que nas bandas de gaitas apenas som aceites os instrumentos tradicionais, portanto nom seram admitidas as denominadas gaitas marciais, nem a precussom de alta tensom. Esta decisom foi objeto de crítica pública por parte da banda de gaitas Lume de Biqueira, localizada em Madrid, por “discriminar uma realidade musical galega, deixando fora de todas as opçons aos centos de crianças que tanto na Galiza territorial como na Galiza exterior usam este tipo de instrumentos”.

As gaitas marciais, de inspiraçom escocesa, foram introduzidas na década de 80 por Xosé Lois Foxo, contratado pola Deputaçom de Ourense para dirigir a sua escola de gaitas. O “invento” ou “experimento” que levou a cabo, tal como ele próprio expressara, com a cumplicidade da elite política do PP, constituía segundo o Coletivo em Defensa da Gaita (CDG): “uma ameaça à implementaçom do modelo cultural escocês, suplantando as nossas próprias e autóctones características e a nossa identidade como país e cultura”. Segundo o CDG: “este fenómeno está a destruir e a aldraxar a nossa tradiçom musical, implantando-se progressivamente um estilo musical alheo (com a utilizaçom de elementos incomuns e inexistentes na nossa tradiçom, copiados de bandas escocesas) e a posterior substituiçom do modelo tradicional galego polo escocês neste tipo de agrupaçons pseudo-galegas”.

Gaita marcial ou escocesa
Gaita galega

Para além do coletivo indicado, outros referentes da música tradicional galega, como Susana Seivane, tenhem criticado o uso das gaitas marciais. No seguinte vídeo, Susana intervém como jurado no concurso Vai de Gaita, qualificando o instrumento escocês de “cancro da música galega”.

Peneirando o machismo da nossa tradiçom

No que diz respeito aos grupos de baile tradicional, incorpora-se a exigência de que as parelhas sejam mistas, contribuindo para a reproduçom do heteropatriarcado com os tradicionais roles de género que atribuem um papel protagonista ao homem, ao ser quem pode sacar o punto, e uma posiçom submissa da mulher, ao ter que seguir, num segundo plano, os movimentos do homem. Esta norma também impossibilita tornar visível uma situaçom comum no baile popular, ao pé do torreiro, como é a dança entre duas pessoas do mesmo género construindo uma representaçom heteronormativa que nom se corresponde cos tempos.

Andar cos tempos é precisamente uma iniciativa de Carme Campo e Chus Caramés, professoras de baile galego na Gentalha do Pichel, que tenta revisar o nosso baile e música tradicional desde uma perspetiva de género. Carme Campo, numa entrevista recente, reflete sobre a genealogia do baile galego, assinalando as influências burguesas e romantistas que folclorizaram o baile galego no final do S. XIX, inscrevendo à mulher num papel de “anjo do lar, recatada e discreta”. Representaçom que encontrou continuidade na Secçom Feminina, durante o Franquismo, e que influiu notavelmente nos grupos de baile criados na década de oitenta.

Estas duas professoras assinalam também que existem documentos históricos visuais como a gravaçom “nuestras fiestas de allá”, de José Gil que testemunham uma forma de bailar muito diferente à representada polos grandes grupos de baile. Carme Campo, indica na citada entrevista: “eram grupos cativos, às vezes, mesmo parelhas soltas, e os homens e mulheres levavam os braços colocados iguais”.

Baile galego: Bem de interesse cultural

A iniciativa de declarar o baile galego “Bem de Interesse Cultural”, redigida por Quique Peón no seguinte texto, publicado no DOG, abriu de novo o debate já que, segundo as promotoras de Andar cos tempos: “o texto é melhorável e deve colocar o foco de atençom na dança como um elemento vivo do nosso património cultural imaterial e nom procurar reproduzir uma foto fixa do passado, portanto, precisa de uma revisom completa, em geral, e em canto ao género em concreto, para andar cos tempos e suprimir referências a papéis estereotipados que nom tem sentido pretender conservar”.