Por Iago Santás /

César Freiria é viguês, músico autodidacta e, segundo ele mesmo confessa, namorado desde sempre dos instrumentos musicais. Membro de bandas diversas, do tradicional ao punk, permanentemente apegado ao popular e a rentes do público, hojé é Ce Orquestra Pantasma, conhecido por milhares de crianças da Galiza.

Boas! Conta-nos, se queres para começar, em que andas metido nesta tempada?

Boas, pois com a orquestra pantasma, por umha banda, sigo com as clássicas actuaçons de verao: festas, festivais, verbenas, romarias e demais actos festeiros…e pola outra, preparando o que vai ser o seguinte trabalho em formato livro-disco dedicado aos mais pequenos.

Falando de começar, como fôrom os teus começos nisto da música. Atendendo aos temas que tocas no formato “mais de adulto” é provável que o punk tivesse algo a ver.

Como se chega a querer ser “home orquestra”? Qual é a primeira toma de contacto? E a formaçom?

Na minha formaçom como pessoa assim como musical, o punk si que estivo mui presente. Graças aos meus irmaos maiores, na minha casa entrava muita música dos clássicos grupos do punk dos anos 80 quando eu tinha pouco mais de 10 anos. Todas aquelas letras figérom na minha cabecinha umha pequena revoluçom, havia muitas cousas que nom entendia até que fum crescendo, ajudárom-me a fazer grandes reflexons e ver caminhos além dos estabelecidos socialmente. Mas mais alô do punk, a minha historia musical foi-se enchendo de mais experiências: a música tradicional estivo bem presente já desde cativo, pois na minha família havia longa tradiçom de músicos gaiteiros e cantareiras.

A faceta de homem orquestra foi a suma de todas as experiências musicais vividas até o momento de decidir pegar um bombo e pô-lo às costas. Houvo dous motivos que figérom que eu chegasse quase sem querer a esta formaçom. Por um lado eu criei-me numha casa labrega onde havia ferramenta de todo tipo e à que se nos permitia já desde cativos aceder e polo tanto, a destreza manual assim como o processo criativo foi algo que me acompanhou desde neno. Por outro lado, tivem um mestre de música tradicional que sempre vinha com instrumentos novos que sempre nos deixava tocar e que foram feitos por ele mesmo, o mestre chamava-se Moxenas.

As primeiras aproximaçons à faceta de homem orquestra fôrom quando inventei um instrumento para fazer percussom com os pés, “O Bate-pés”, ao mesmo tempo figem umha Kalimba baixo para acompanhar com umha mao, no entanto com a outra tocava a harmónica com o velho e esquecido sistema de acompanhamento. Logo, quando com 30 anos marchei para Compostela estudar magistério musical, foi quando decidim acoplar um bombo às costas, naquele momento comecei com umha guitarra para o acompanhamento harmónico e depois foi co acordeom.

Vinculado às crianças, ao apego, a passar tempo junt@s editas O fio do querer. Podes contar algo para quem nom conheça esse trabalho?

Fios do querer é um trabalho que nom ia ser trabalho discográfico. Todo começou quando a minha sogra lhe estava a cantar ao meu filho a cançom de “cinco lobitos”, pensei nesse momento…ou eu nom conheço, ou é que no cancioneiro popular infantil galego nom temos muitas cantigas para jogar com os mais pequeninhos, para adormecer e arrolar bem sabemos que há, mas para jogar? E assim foi como a cada jogo que ia fazendo com o pequecho saia umha cantiga. Logo foi quando acordamos fazer a cooperativa Miudinho e que nela estivessem também os Fios do querer, que nom é mais que um feixe de cantigas para cantar, bailar e jogar com as nenas e nenos de colo e algo mais.

Seguindo com o trabalho, qual é o espaço no que mais trabalhas, o vinculado a crianças ou com um público já mais maior?

A dia de hoje o público mais miudo é no que está centrado gram parte do meu trabalho com a Orquestra Pantasma assim como na cooperativa. Foi umha evoluçom pessoal. Embora já desde os começos alá polo 2008 vim fazendo espectáculos e música para os nenos, foi o nascimento do primeiro filho o que fijo mudar muitas cousas. As noites começárom a pesar coma lousas e os interesses pessoais estavam centrados na criança, e como nom podia ser doutra maneira, detrás do interesse pessoal véu o profissional.

O galego é a língua veicular nos teus trabalhos. Fazendo umha observaçom directa e algo rigorosa, poderia dar o resultado que, ainda que a populaçom galegofalante mingua a ritmos que nos fam pensar numha longa agonia para o idioma, cada vez saem mais, e melhores, produçons, artistas que tenhem as crianças como centro de interesse. Achas que estamos no certo? É a cultura umha parcela de resistência?

É maravilhoso que cada vez haja mais espectáculos, artistas…que centrem os seus trabalhos na língua, é um jeito de que entre e que polo menos se escuite. Às vezes vou às escolas fazendo actuaçons de dinamizaçom da língua, há muitos nenos e nenas que me perguntam em que idioma estou a falar. Suponho que estes nenos nom tenhem contacto de nengum tipo coa língua galega, nem a família, nem meios de comunicaçom e entretimento…por isso, que haja cada vez mais propostas populares no que o galego esteja presente é positivo e valiosíssimo. Mas por outra banda nom sei se isto fica na memoria dos mais pequenos como simples cantigas, algo exótico que só serve para cantar. Há muita gente da zona de Vigo de onde som eu que me dim que é maravilhoso ver cantar os seus filhos em galego com os Fios do querer, bem…mas depois esses país nom lhe falam no dia a dia ao seu pequeno na língua.

Penso que todo este esforço e aposta por parte do eido cultural deveria ir acompanhado dum compromisso real de políticas que favoreçam e potenciem o uso do galego em todos os âmbitos.

Também trabalhas no mundo dos brinquedos, na elaboraçom de brinquedos, brinquedo tradicional (ou clássico) através dumha cooperativa. Podes-nos contar algo tanto da vossa parcela de trabalho como da escolha da figura cooperativa para desenvolvê-lo?

Desde há três anos houvo umha mudança no meu rumo profissional. Havia inquedanças dormidas que despertárom e assim foi como juntei o interesse polo mundo dos brinquedos tradicionais com a velha faceta profissional de carpinteiro. Criamos umha cooperativa entre um vizinho músico e carpinteiro e a minha parelha que também é pandereteira e psicóloga para criarmos Miudinho. A dia de hoje a cooperativa fai um remexido a partir de três pilares fundamentais: a infância, a natureza e o património cultural. Nela, alem de gerir todo o que tem a ver com Cé Orquestra, também temos espaços de jogos a partir de brinquedos tradicionais e materiais naturais nom estruturados; obradoiros de criaçom livre com materiais naturais e de criança; Fabricamos e vendemos joguetes; modificaçom e enriquecimento de pátios escolares; editorial; grupo de jogo na natureza.

A eleiçom de cooperativa como fórmula para levar adiante esta andaina foi o que mais se pareceu a toda a experiência que os três vínhamos desempenhando no movimento associativo assim como na nossa forma de entender as relaçons laborais: umha organizaçom horizontal e sem ânimo de lucro

Onde podemos verte neste verao?

Pois no que resta de verao, tanto a mim coa Cé orquestra assim como ao companheiro da cooperativa que é quem leva os espaços de jogo, andaremos por festas, festivais e demais argalhadas festeiras, deixo umha listagem a seguir.

31 de Agosto. Cé orquestra + Xogando Miudiño em Monte Alto.

2 Setembro. Cé orquestra em Tameiga na Festa do Monte.

5 Setembro. Cé orquestra em Milhadoiro com Brincadeiras Miudinhas

6 de Setembro. Cé orquestra em Bertamiráns com Brincadeiras Miudinhas.

7 de Setembro. Cé orquestra no Revoltalho, Valadares

15 de Setembro. Cé orquestra em Santabaia em Vilalba.

15 de Setembro. Xogando miudinho em Conxo.

16 de Setembro. Cé orquestra no Círculo de Porrinho.

22 de Setembro. Cé orquestra no Ensanche, Compostela.