Por Jorge Paços /

Vários concelhos das Rias Baixas comunicam que as suas infraestruturas nom dam sostido o volume de turistas que inçam as vilas nestes dias de Verao ; organismos em defesa do património denunciam que visitantes fam campismo em castros protegidos ; e a fórmula da concentraçom de multidons em favor do negócio sem escrúpulos pode pôr mesmo em risco a segurança das pessoas. Neste ano, umha moça morria na praia das Catedrais polo desprendimento causado polo excesso de pressom humana sobre o território. E nesta semana, as autoridades ainda se arrebolam responsabilidades polo acidente que puido rematar em drama no Marisquinho viguês. O turismo de massas amossa já a olhos de todos as suas cruas consequências.

A pequena vila de Sam Genjo, de 17000 habitantes, acolhe nos meses estivais 140000 pessoas, segundo reconhece, entre o orgulho e a preocupaçom, o seu alcalde. Viveiro, na Marinha, passa de 16000 vizinhos e vizinhas a 80000 pessoas durante a semana que acolhe o macro-festival Resurrection Fest. A Ilha de Arousa, um reduzido espaço com um delicado equilíbrio ecológico, multiplica por três a sua populaçom nestas datas ; o turismo gregário acode já em massa trás a promoçom mediática do que a imprensa qualifica da ‘Formentera galega’.

Nom cumpre ser nenhum especialista nem gestor do território para alviscar o dano ambiental e o incipiente colapso infraestrutural que suponhem tais deslocamentos massivos, um fenómeno aguilhoado pola indústria do lazer capitalista, que nom hesita em pôr em venda, como umha mercadoria mais, qualquer anaco do nosso país. Nom se importa o que a nossa Terra dea acolhido, sempre que isto produzir dinheiro.

Além dos sectores directamente beneficiados polo lucro rápido do turismo, a populaçom está a enfrentar empregos precários, suba constante de preços de produtos básicos, dificuldades para circular por um território antano tranquilo e habitável, e umha incómoda sensaçom de estrangeiria. Como umha rápida vista de olhos às redes sociais pode confirmar, multiplicam-se os casos de turistas espanhóis que mostram desconsideraçom ou directo desprezo pola língua de nosso ; as agressos idiomáticas proliferam, e os casos de auto-repressom linguística -passo ao espanhol por ‘deferência’ ao turista- som inumeráveis. Também começa a proliferar um modelo de macro-evento desenhado para atrazer visitantes que rejeita abertamente qualquer presença da cultura galega : face a moda de vender celtismo ou enxebrismo -com o histórico festival de Ortigueira como exemplo emblemático-, a Galiza inça-se de eventos que viram as costas à nossa realidade nacional (como o já citado Resurrection Fest ou o afamado ‘Rock no Caminho).

Das críticas ‘extremistas’ à preocupaçom do sistema

A crítica ao turismo massivo e colonial tem já na Galiza umha certa tradiçom. Desde que se iniciou o fenómeno, e em posiçons totalmente solitárias, organizaçons como NÓS-UP ou a AMI lançaram análises e campanhas a denunciar o processo de despossessom e precarizaçom que a invasom turistificadora supunha ; mesmo na passada semana, o colectivo independentista e comunista Galiza em Rede, atualizava a diagnose num estudo publicado no seu blogue.

Mas o que noutrora eram críticas isoladas e extemporáneas de ‘sectores radicais’ passa a ser agora preocupaçom comumente assumida ; mesmo os próprios gestores do sistema -numha representaçom particular do que é globalmente o capitalismo- reconhecem que o sonho pode virar pesadelo. A comissom de Transporte e Turismo do Parlamento Europeu, segundo soubemos nos últimos dias, tem lançado um projecto de pesquisa coordenado por várias universidades sobre o impacto do excesso de turismo nas cidades europeias. Tal preocupaçom patenteara-se já há dous anos no caso de Veneza, quando vozeiros da Uniom Europeia reconhecera que a chamada ‘cidade mais bonita do mundo’ poderia ficar literalmente destruída pola invasom de visitantes.

Turismo, lazer, massificaçom

O modelo turístico existente nom se pode deslindar dumha filosofia sucida que considera que a biosfera pode absorver sem graves trances o desclocamento anual de 1300 milhons de pessoas com o único propósito do lazer monetarizado ; e tal modelo tampouco se pode desvincular da aposta polo lazer de massas em forma de macro-eventos, umha das principais ofertas de tantos governos municipais. Do ponto de nom retorno que se tem alcançado dá prova também a preocupaçom de intelectuais obedientes sempre prestes à defesa do sistema, que nestes meses alçam as vozes com pesar. Um dos exemplos emblemáticos é o de Xosé Luis Barreiro, que aponta o modelo de lazer reinante como umha das razons do recente sucesso em Vigo : ‘para essa juventude seguir interpretando a sua diversom e a sua felicidade de forma tam refinada e delicada, modificamos leis, primamos o seu ruído sobre o nosso descanso, entregamos-lhe os espaços mais emblemáticos das cidades (…) É preciso seguir medindo a felicidade e o sucesso dos festejos através da massificaçom, a balbúrdia, o lixo acumulado, o colapso urbano e as horas intempestivas ?’

Resulta curiosa a crítica a um modelo que tem como principais valedores aos partidos do regime que este colunista -e tantos outros- louvam dia si e dia também desde as suas poltronas mediáticas. Mas em qualquer caso, análises como estas ponhem de relevo que a grande promessa de ‘riqueza para todos’ da turistificaçom capitalista vai desintegrando-se num panorama de massificaçom, incomodidade e colapso do espaço público.