Por Jorge Paços /

A sucessom de notícias negativas relacionadas com a grande infraestrutura de transporte que cruza a nossa Terra marca este ano que andamos. Há poucos dias, o novo ministro de fomento esclarecia que o novo plano de eliminaçom de portagens ‘nom atingia a AP-9’, pois a sua concessom ainda demora um lustro em vencer. E no passado fim de semana, soubemos pola mídia empresarial que a presença, mais bem testemunhal, de capital ‘galego’ na AP9, era engolida por Globalvia, controlada por fundos de pensons anglo-holandeses.

A navalhada contra a nossa Terra sintetiza como poucas a história recente da despossessom da Galiza : construída contra a vontade popular e imposta ‘manu militari’ pola democracia (com encarceramentos de independentistas incluídos), conformada como um dos agentes mais importantes para a desestruturaçom e desequilíbrio do território (com a abertura dumha fenda económica e demográfica entre oeste e leste), favorecida polos sucessivos governos da direita espanhola (com até três renovaçons da sua concessom, a última delas do governo Aznar) ; e finalmente, ‘resgatada’ dos seus problemas económicos polos recursos das classes populares, que pagam das portagens mais caras do Reino de Espanha. Os enormes benefícios que o deslocamento forçado de trabalhadores e trabalhadoras produz cada dia revertem em conglomerados capitalistas foráneos.

A AP9 é o emblema da imposiçom do interesse privado sobre o bem comum através da força e da armadilha ; um interesse privado, aliás, estrangeiro, que desconhecia e desconhece a idiosincrasia territorial do povo que ocupa, e nom hesita em impor um modelo de transporte que mesmo o ambientalismo mais morno qualifica de ‘catastrófico’.

Os feitos

Na passada sexta conhecíamos que o gigante Globalvia mercava o 56’6 % das acçons de Itínere. O conglomerado empresarial está dominado polos fundos de pensons USS, OP Trust e PGGM, sediados respectivamente no Canadá, a Holanda e o Reino Unido. Com esta transacçom, ficam em maos foráneas, e baixo o controlo de capital remoto, a própria AP9, e também as autovias AG-57 (Puxeiros-Vale Minhor), AG-55 (A Corunha-Carvalho) e AP-53 (Compostela-Doçom). De todas estas infraestruturas, a AP9 é a ‘jóia da coroa’, pois supom um dos negócios rodoviários mais lucrativos de todo o Estado espanhol. Apenas no último ano, e segundo dados da mídia do regime, Audasa ingressou umha média de 385000 euros diários em conceito de portagens ; a empresa somou-se aliás ao carro da automatizaçom para banir postos de trabalho e substituir pessoal de cobro nas cabinas por máquinas, o que deveu em 200000 euros de poupança. E ainda, na mais pura lógica capitalista de ignorar todo bem colectivo, Audasa decidiu respostar a tímida correcçom do Estado sobre os seus preços abussivos : a empresa apresentou um recurso-contencioso administrativo pola decisom ministerial de rebaixar as portagens entre Rande e A Barcala.

Espanha e o negócio do betom

Exprimir até o limite os recursos e zugar até o último gramo de riqueza é um típico comportamento colonial que Espanha vem aplicando na Galiza : rios, montes, vento, vales, vias de transporte ; e apoiar o crescimento económico em projectos curtopracistas alimentados de betom é umha típica linha de acçom da direita hispana.

Colectivos ambientalistas favoráveis ao sistema, caso de Greenpeace, tenhem chamado a atençom sobre este feito : o espanhol e o Estado de toda a Uniom Europeia com mais kilómetros de vias de alta capacidade (autoestradas e autovias) ; duplica estados de maior populaçom, como o Reino Unido, e mesmo triplica o de países como a Alemanha. Se computarmos todo o mundo, apenas é superado polos EUA e a China, os dous países bandeira do capitalismo mais gigantista e depredador.

É um segredo público que a hipertrófia de infraestruturas rodoviárias espanhola nom responde a necessidade social nenhuma. Um recente documento incluído no rascunho do Plano de Infraestruturas do governo reconhecia que ‘a planificaçom das autovias e autoestradas nom levou em conta a procura’. Na mesma direcçom se exprimia o Tribunal de Contas da UE, que acusava Espanha de nom respeitar os prazos de execuçom das obras, sobredimensionar os gastos e ignorar o volume de circulaçom real.

Quiçá quem melhor sintetizasse a lógica que existe por baixo do negócio das concessons fosse a associaçom Attac, um colectivo moderado que pretende ‘vigilar’ os excessos do capitalismo :

Quando a contabilidade europeia, a consequência dos compromissos de Maastrich, virou exigente com o controlo da dívida pública, a necessidade de continuarmos a botar lenha a esta locomotora gerou toda umha variedade de sistemas concessionais, participaçons público-privadas e todo tipo de mecanismos para assegurar que o dinheiro público seguisse fluindo às grandes construtoras sem computar ao défice nacional. A realidade é que, sequestrando o controlo orçamentário graças a estes novos sistemas de financiamento nom se fijo mais do que hipotecar o futuro. (…) Hoje sabemos que o sistema concessional acaba incrementando os custes finais das infraestruturas de transporte num 20 %”

O que poucos dim

O feito de umha infraestrutura capital para a quotidianeidade de centos de milhares de galegas e galegos estiver baixo controlo directo de Espanha revela a nulidade do sistema autonómico para se ocupar dos resortes mais elementais da nossa vida colectiva. Exigências do nacionalismo institucional e da esquerda moderada, caso do BNG e das Mareas, apontam precisamente na direcçom de pôr para já a AP9 baixo controlo da Junta. Nestes momentos, a totalidade do parlamentinho galego aguarda pola resposta de Pedro Sánchez a este particular.

E embora esteja também enriba da mesa a proposta mais audaz de nacionalizar a infraestrutura, em nenhum ámbito da institucionalidade nem da mídia de grande tiragem se aponta a questom essencial : até que momento vai ser sostível um modelo de transporte apoiado no carro particular, ambientalmente desastroso, fraccionador da Galiza em duas metades, e dependente dumha produçom fossilista que dá os seus últimos estertores.