Por Gilberto López y Rivas (traduçom do galizalivre) /

Sem dúvida, vive-se um momento histórico do México contemporâneo, porque por primeira vez em muitas décadas se respeitou a vontade popular expressa na urnas; nom se impujo umha fraude de Estado, nem a queda do sistema, nem o cínico “haiga sido como haiga sido” de Felipe Calderón; esta é umha conquista transcendente do povo mexicano que, sem minguar nem subestimar, cumpre analisar desde o pensamento crítico e a luita dos povos originários na defesa dos territórios, a mae terra e a vida.

Esta transiçom nom se deve a umha súbita vocaçom democrática do regime priista, senom a três factores ligados que empecérom a imposiçom da tradicional fraude de Estado: 1) A extraordinária participaçom cidadá de mais do 60 por cento do padrom eleitoral. 2) A fenda na classe política dos principais partidos, o PRI e o PAN, que fôrom à eleiçom separados, e com conflitos internos em que afundárom durante a campanha. 3) O voto de castigo de milhons de eleitores que se pronunciárom por umha mudança.

Porém, destaca a capacidade do Estado para se reconstituir: o triunfo da massiva intervençom da cidadania virou-se aginha numha “vitória das instituiçons” e o “sistema democrático”. Atrás ficou a violência despregada ao longo do processo eleitora e mui logo fôrom esquecidos os 132 candidatos assassinados.

O reconhecimento do candidato oficialista a noite da eleiçom e a lisa seqüência de eventos que culmina com a mensagem de Enrique Peña Nieto e o discurso conciliador do candidato ganhador, fai pensar numha concertaçom a partir da que nom há haver castigo polos crimes de Estado e lesa humanidade do governo que cessa nem litígio penal sobre o visível saqueio do erário e a evidente cumplicidade dos três níveis de governo com o crime organizado.

Pola mesma, é significativo que no seu primeiro discurso como candidato ganhador López Obrador envie umha mensagem às corporaçons capitalistas para as acougar com que nom vai tomar medidas “radicais”, que se “ham respeitar os contratos”, “nom vai haver expropriaçons” e, nesse contexto, cumpre entender o seu lema preferido: “Polo bem de todos, primeiro os pobres”, sobre o que é preciso perguntar: Quem som “todos”?

Também se reiterou a ideia reitora-quase-única de toda a campanha de que a corrupçom é a matriz de todos os males do país, negando AMLO que esta seja inerente ao capitalismo, cuja pedra angular é a expropriaçom do trabalho da classe trabalhadora e a despossessom de territórios e recursos naturais estratégicos polas suas corporaçons. O presidente eleito nega que a lei do valor-exploraçom-plusvalia-luita de classes se poda aplicar para México e teima no factor da corrupçom. (https://www.facebook.com/morena.socialista /videos/632778547067850/.)

Esta peculiar perspectiva de López Obrador que corrige os “clássicos” do marxismo é mui importante para o rumo que siga a resistência dos povos originários frente ao processo de recolonizaçom dos territórios polas transnacionais capitalistas que se visibilizou no Concejo Indígena de Gobierno (CIG) e na sua vozeira, Marichuy, durante toda a campanha. Mineiras, corredor transístmico, refinarias, projectos de estradas, trens balas e umha lua de mel com o empresariado som maus sinais para os povos originários.

Pola sua banda, dirigentes de organizaçons indígenas de arredor de AMLO apresentárom um documento programático que, com fraseologia do zapatismo, mesmo com o emprego do “mandar obedecendo” propom, em suma e como principal proposta, um retorno ao indigenismo já superado desde o diálogo de San Andrés, agora sob a conduçom dumha burocracia indígena que conformaria umha nova secretaria de Estado.

Marichuy declarou que o realmente significativo há vir agora e que o transcendente é organizar-se se se deseja levar o país para umha mudança verdadeira; trata-se de resistir as corporaçons capitalistas e os governos que as protejam agindo desde onde se estiver, em bairros, colónias, cidades ou povos indígenas.

O limite da democracia representativa é que a participaçom cidadá se concentra num só dia, a partir do que os assuntos públicos resultam monopólio dumha classe de políticos profissionais que se desentende do eleitorado. O EZLN e a o CIG, pola contra, proponhem umha democracia de novo tipo, a democracia autonomista que se fundamenta numha construçom de poder e cidadania desde abaixo; como jeito de vida quotidiano, de controlo e de exercício de poder desde o dever ser, isto é, com base em termos éticos. Nom é um meio ou procedimento de reproduçom de estamentos burocráticos, mas um pacto social e político, um constituinte de todos os dias que opera unitariamente em todos os eidos e ordens da vida.

Por esta democracia, a luita há seguir, ombreiro com ombreiro cabo dos povos, em baixo e à esquerda.

*Publicado em “La Jornada”.