Por David Rodríguez /

Quase poderia dizer-se que o mítico ‘neno dos Peares’, ressaibo fraguista que ainda perdurava na construçom narrativa da personagem Núñez Feijoo, estava de volta.

Trás umhas semanas deixando-se querer polos meios madrilenos, o Presidente da Junta fazia público -na teoria para todos os galegos e galegas (mas em castelám)- que renunciava à carreira por dirigir o PP espanhol. O seu coraçom estava no país. Ou isso glossou no dia seguinte La Voz de Galicia, sempre pronta a desenhar o quadro discursivo que melhor engraxar a maquinária do PP.

Mas nem Feijóo foi nunca um Balbino, um neno de aldeia, nem o seu gesto se deveu a um andaço repentino de patriotismo galego. De feito, se algumha cousa mostra o feijoísmo dentro da história recente da direita galega é que esta, cada vez, precisa menos de se apresentar a si mesma como galega.

Se Manuel Fraga, quem na realidade sempre foi um nacionalista espanhol, soubo criar o seu pequeno feudo no país a base de retórica galeguista, sabedor de que aquela base social no remoto noroeste prévio às grandes autoestradas ainda precisava de certos filtros culturais para se relacionar com o Estado, Feijóo é já um produto da viragem aznariana cara o rearme do espanholismo e a concentraçom económica, mediática e política em Madrid,

Essa Espanha post-voda do Escorial, tam podre como recentralizada, é a Espanha da que Feijóo gosta e, dum jeito paradoxal (todo o paradoxal que é, em si mesmo, o comportamento histórico da burguesia galega, se é que esta existe hoje em dia), essa mesma hipertrófia de Madrid foi, também a que deixou o líder de províncias -com maiorias absolutas, si, mas de províncias- fora da competiçom por liderar o PP e, portanto, de ter a possibilidade de converter-se em Presidente de ‘la nación’, como gostam agora de remachar com pathos na Corte, a imitaçom dos generalotes de república bananeira nos que se dá umha relaçom inversamente proporcional entre o número de medalhas, condecoraçons e filigranas que lozem no peito e o poder real que possuem.

Fijóo começou a sua carreira como perfeito político-funcionário a assumir diversos altos cargos minsteriais para rematar liderando o PpdeG trás o falecimento do eterno delfim de Fraga, Xosé Cuíña. A distáncia que mediava entre o perfil de Cuíña e o de Feijóo caracterizou-se, no seu momento, com a distáncia que pode mediar entre umha pessoa toucada com boina e outra com ‘birrete’. O nosso homem nom acodiu ao país, como Fraga, para fundar e manter domenhada umha CCAA com rango de nacionalidade, senom para gerir um departamento à francesa, no que o trabalho de aculturaçom e desmantelamento estava já muito avançado.

O tecnocrata Núñez Feijóo sorteou os começos da crise financeira mundial recorrendo, como já levavam tempo fazendo os neocons norteamericanos, às guerras culturais. A promoçom de Galicia Bilingüe através dos meios privados que o aznarato subvencionava (desde a Gürtel sabemos que havia mais algo que limpa subvençom a estes meios) introduziu na questom da língua galega umha nova narraçom orwelliana na que os supremacistas viravam vítimas. E mentres esse quadro esquizoide ocupava manchetes na imprensa bem mantida com quartos públicos, Núñez Feijóo adicava-se a aplicar aqui, como bom homem de negro que é, a devaluaçom interna à que obrigava Bruxelas. A essa tarefa adicou a sua segunda legislatura depois de umha nova maioria absoluta o puger no lançador para substituir Mariano Rajoy.

Alberto Núñez Feijóo, o protótipo de político neoliberal pragmático e utilitarista, o liberal secularizado para quem a doutrina social da Igreja ou as rosmadas do papa Francisco devem soar a chinês, tinha todas as possibilidades para dar o relevo a aquele outro funcionário de Ponte Vedra que acadara a façanha de caminhar mália estar morto.

Pobre iluso.

Pobre iluso. Visto com a óptica de Madrid, Feijóo, no longo prazo, si tinha algumha cousa de Balbino, de ser um ninguém. No moedor de carne madrileno, difícil de controlar com as únicas ferramentas dos meios regionais, sempre respeitosos das hierarquias que imperam entre províncias e centro, as fotografias pouco presentáveis com um conhecido narco devolviam o nosso homem ao lugar que lhe correspondia: Sam Caetano.

Velaó o fado autoprocurado dos mandarins galegos entusiasmados com deitar por terra a tímida descentralizaçom que supujo o Estado das autonomias: cavarem eles mesmos a posiçom subalterna à que sempre fôrom destinados desde a capital do reino.