Por Jorge Paços /

Habitualmente analisamos os processos soberanistas atendendo ao seu cerne, o quadro jurídico-político ; menos se repara em aspectos aparentemente laterais mas enormememente importantes, como a origem nacional da produçom da riqueza, e a possessom das grandes infraestruturas energéticas. O concelho de Barcelona, situado em posiçons ambíguas face a independência, acaba porém de dar um passo transcendental cara a soberania prescindindo do gigante Endesa.

Desde finais da semana passada, e cumprindo os prazos que a equipa de governo se marcara desde as origens, o concelho de Ada Colau rescindia o seu contrato com Endesa na procura declarada da poupança e, sobretodo, ‘dumha mudança de modelo’.

A privatizaçom do sistema eléctrico espanhol, auspiciada polo PP desde finais da década de 90, rematou num oligopólio protagonizado por Endesa, Iberdrola e Gas Natural, que nom derivou, como apregoavam os neoliberais, em nenhuma queda de preços ; antes disso, e como assinalou a alcaldesa de Barcelona, o modelo espanhol derivou nuns ‘lucros astronómicos’. A partir da crise das finanças começada em 2008, a pobreza energética extendeu-se de maneira imparável. Os preços abussivos incidem também nas administraçons locais, agravando os seus problemas financeiros ; com esta medida, o concelho de Barcelona poderá poupar 71000 euros ao ano.

Barcelona energia, a aposta

A perspectiva do concelho está posta num novo cenário, já iminente, de debalar das energias fôsseis e de crescente insegurança dos grandes oligopólios de energia. Barcelona energia é umha companhia distribuidora que canaliza a produçom local e limpa de placas fotovoltaicas e da planta de tratamento de resíduos do Besòs. A ideia do concelho é duplicar a geraçom de energias renováveis para alimentar Barcelona. Na segunda fase, a começar em Janeiro, o Concelho forneceria electricidade a clientes particulares e famílias.

Desafios ao oligopólio

Trás esta medida, o concelho de Barcelona gere a empresa pública de electricidade mais grande do Reino de Espanha, numha autêntica reversom da tendência privatizadora das últimas décadas.

Decisons como estas podem explicar a raivosa hostilidade do Ibex 35 a um processo soberanista ; Endesa é umha das empresas deste grupo selecto : foi desenhada polo industrialismo franquista em 1944 ; fundada na Galiza dos anos 40 (em Cubilhos do Sil, Berzo), pretendia achegar umha certa diversificaçom da produçom energética, muito dependente das centrais hidroeléctricas.

Desde a sua privatizaçom, chovêrom as acusaçons contra a companhia pola alça dos preços, a sua funçom de ‘retiro dourado’ para muitos membros da casta política, e a sua contribuiçom terrível aos gases do efeito estufa (é a primeira produtora de CO2 do Estado). Apesar do seu cacarejado ‘patriotismo espanhol’, o 70 % de Endesa está em maos da italiana Enel.

Alternativas galegas

No futuro imediato, qualquer plano soberanista e de transiçom sócio-económica, também na Galiza, terá que ter em mente a desvinculaçom das grandes companhias energéticas espanholas, pois elas som a armaçom produtiva na que assenta a assimilaçom da Galiza e a drenagem de recursos.

Planos de reapropriaçom da riqueza do povo estám sendo ensaiados polo movimento social, como já temos exposto neste portal ao falar de Nosa Enerxia-Sociedade Cooperativa Galega, um projecto cívico que oferece a possibilidade se desconectar das energias fôsseis através dum sistema de associaçom individual ou colectiva.