Quando no ano 1939 os fascistas ganhavam a guerra, apenas a ganhavam militarmente, porque ainda lhes restava muito para vencer a batalha ideológica. As consciências ainda estavam por conquistar e para isso o governo franquista botou mao da repressom, no entanto quatro décadas de terror nom forom suficientes para convencer às galegas da sua espanholidade. A populaçom galega apenas via o Estado franquista como umha estrutura alheia e dotada dum aparato burocrático que só lhes roubava parte dos seus recursos a través do cobro de impostos. E mesmo nos anos setenta, nos últimos anos da ditadura, o grosso da populaçom galega seguia a ser galegofalante e, excetuado alguns setores urbanos, nom se identificava com o discurso identitário que chegava à Terra através dos médios.
Mas com a chegada da democracia burguesa, o Estado caiu na conta que a televisom, o lazer hedonista, o crédito ao consumo e o paquete turístico era mais eficiente que a repressom, reservando esta última apenas para umha minoria combativa. A cenoura é mais convincente que a vara. E assim, disfarçado de espetáculo e lazer, foi como a manipulação mediática começou a fazer o seu trabalho através do desporto, e nomeadamente através do futebol masculino.
O Mundial de Futebol 2018
É indiscutível que o futebol é um assunto político. É tam óbvio que mesmo nom deveria ser necessário dizê-lo. O mero feito de os médios recordarem continuamente que nom devemos misturar desporto e política é a prova de que já som indissociáveis.
Em plena disputa do Campeonato do Mundo de Futebol, que este ano se celebra em Rússia, e quando a seleçom espanhola já está classificada para os oitavos de final, numerosas bandeiras do Reino de Espanha adornam as ruas de muitas vilas galegas. Feito este que seria inimaginável décadas atrás. Umha inesgotável campanha mediática, que teve o seu punto álgido no Verao do ano 2010 e que com cada cita internacional se intensifica, está a dar os seus frutos. O que a ditadura nom conseguiu está a fazê-lo o espetáculo do futebol.
Milheiros de jovens aparvalhados apontam-se sem complexos à febre da seleçom espanhola de jeito acrítico e irreflexivo. Nom deixa de ser umha forma mais de evadir-se da pauperizaçom, da vida quotidiana e das frustraçons pessoais, e sentirem-se ganhadoras por umha vez. Mas este apoio à seleçom espanhola nom seria um posicionamento político, é simplesmente o “normal”, e só se estaria a politizar o desporto se alguém mostra rejeitamento cara a seleçom espanhola e os seus símbolos.
Os médios conseguirom criar um consenso unânime arredor da seleçom através dum discurso que reivindica fraudulentamente o coletivo frente ao individual, mas sempre restringido aos seus milionários protagonistas. Este feito é especialmente chamativo em umha época onde o coletivo é sistematicamente marginalizado polo Poder. Os médios aludem ao coletivo para convencer-nos da nossa espanholidade: “Juntas podemos fazer cousas grandes”, “Juntas somos imbatíveis” e mesmo o berro “A por ellos” leva implícito a existência de um “Nós” espanhol.
Assim é como pouco a pouco se vam eliminando os nossos símbolos e som substituídos polos de Espanha. O independentismo galego deve opor-se e trabalhar para a construçom de umha identidade nacional galega inassimilável à espanhola.