Por Paccky Carty, Saoradh Nuacht (traduçom do galizalivre) /
Nos tempos do brexit, a regressom direitista da Europa e o recurte de liberdades, o republicanismo irlandês reconfigura-se e move ficha. Traduzimos um dos discursos de apresentaçom de Saoradh, nova organizaçom que irrompe no cenário político da ilha.
Gostaria de dar as boas-vindas a todos aqui hoje para este local sagrado, neste centéssimo segundo aniversário da insurrecçom da Páscoa de 1916 e início da Revoluçom Inacabada da Irlanda.
Aproveito esta oportunidade para enviar saudações fraternas aos nossos companheiros encarcerados em prisões britânicas e neo-coloniais em toda a Irlanda.
Estendo saudações fraternas e solidárias a todos os povos oprimidos de todo o mundo que luitam para afirmarem a sua soberania, assegurarem a sua libertaçom nacional e enfrentar os males do imperialismo e da exploraçom capitalista. Nós estendemos saudações fraternas aos nossos amigos e companheiros em todo o mundo, particularmente na Escócia, Austrália e EUA, embora vocês estejam longe de casa, sua contribuiçom para a luita pela liberdade irlandesa é profundamente sentida e calorosamente bem-vinda.
Hoje nossos pensamentos e condolências vam para o povo palestino, para quem ontem em Gaza foram abatidos polas forças da ocupaçom sionista israelense. No último relatório, havia 16 camaradas palestinos assassinados e mais de 1500 feridos. O povo palestino marchou às dezenas de milhares para marcar o terrível aniversário do Dia da Terra, em 30 de março de 1976, quando 9 palestinos foram assassinados protestando contra os planos opressivos do entom governador da Galiléia. Devemos observar atentamente os eventos que decorrem na Palestina, nestes momentos em que o povo palestino planeja continuar com os seus protestos até o aniversário da Nakba em 15 de maio, quando 750 mil palestinos foram expulsos da Palestina e do Estado colonial ilegal de Israel criado 70 anos atrás. Em nome de todos reunidos aqui hoje, em nome de Saoradh e do amplo Movimento Republicano, eu estendo a nossa solidariedade ao povo palestino enquanto eles protestam pelo direito de retornar. Eu digo aos nossos camaradas palestinos que sua luita nunca está longe de nossos pensamentos e de nossos corações e nós estendemos eterna solidariedade a vocês em sua luita contínua polo restabelecimento de umha pátria palestina, do rio para o mar.
Belfast é o berço do republicanismo irlandês. Wolfe Tone, em Belfast’s Cavehill, definiu umha visom de umha Irlanda onde todas as nossas pessoas, independentemente de religiom ou credo, controlariam juntas os seus próprios destinos. As palavras de Tom naquele dia ainda ecoam em nós, ele prometeu; “Nunca desistir de nossos esforços até subvertermos a autoridade da Inglaterra sobre do nosso país e afirmarmos nossa independência”. Belfast nunca estivo ausente quando chegou a hora de luitar e se sacrificar. Quando o estadinho sectário foi formado após da partiçom, Belfast sofreu o impacto do violento imperialismo britânico. Quando o povo se levantou de seus joelhos no final dos anos 60 e início dos anos 70, foi a Brigada de Belfast do Exército Republicano Irlandês que liderou a ofensiva que esmagou o estadinho sectário orangista e envolveu com as forças do imperialismo britânico enviadas para defendê-lo. Belfast hoje continua sendo um exemplo da luita contínua pola libertaçom nacional irlandesa.
O povo de Belfast pagou um alto preço pola sua firme resistência. Este cemitério aqui hoje, com seus monumentos e estandartes, é um testemunho desse sacrifício, mas talvez um sinal mais revelador da inimizade continuada da Grã-Bretanha em relaçom ao povo republicano de Belfast seja a guerra econômica que continua a travar, particularmente contra o coraçom republicano em Belfast Norte e Oeste de Belfast.
Há vinte anos, o Acordo de Belfast incluía uma seçom do movimento de libertaçom nacional na administraçom do governo britânico na Irlanda. Ele ressuscitou a instituiçom britânica de Stormont e retardou a luita pola liberdade irlandesa por décadas. Sob a propaganda de um chamado “processo de paz”, este divisor de águas foi vendido aos republicanos irlandeses, particularmente ao sitiado povo republicano de Belfast. O imperialismo britânico e seus representantes recém-cooptados na Irlanda prometeram ‘dividendos de paz’ às comunidades que foram a espinha dorsal da luita por mais de 30 anos. As pessoas foram informadas de que veriam o fim da discriminaçom, o aumento do bem-estar econômico e umha parcela igual das fortunas que essa chamada nova dispensaçom trazeria.
No canto disso, o coraçom republicano de Belfast viu cortes drásticos na assistência social e nos serviços públicos, a pressom para se privatizar o serviço de saúde, o fim das moradias públicas, o fechamento de fábricas, grupos comunitários fantasmas, nepotismo, fraude e corrupçom.
As mortes da guerra foram substituídas por mortes por suicídio. Nom só o Acordo de Belfast fixou o domínio britânico na Irlanda como também acelerou a opressom e exploraçom de classe do povo da classe trabalhadora dos seis condados ocupados. Pola própria admissom da Grã-Bretanha, de 650 distritos eleitorais, West Belfast ocupa o primeiro lugar em termos de pobreza e privaçom social. Além disso, as próprias estatísticas da UE colocam o Norte e West Belfast, no topo da mesa quanto a pobreza e a privaçom social. A ‘Campanha para Acabar com a Pobreza Infantil’ diz que vinte por cento das crianças em West Belfast estám a viver na pobreza – o número mais alto nos seis condados. A pesquisa mostrou que Colin Glen, Falls e Whiterock foram identificados como as áreas mais atingidas no oeste da cidade. Os números estám em contraste com outras áreas, como South Antrim e North Down, onde os níveis de pobreza infantil som arredor de metade do que em West Belfast. Essas estatísticas contundentes ilustram claramente o chamado ‘processo de paz’ é, na verdade, um processo de pobreza. Por mais de 30 anos, as fortalezas do nacionalismo constitucional em Derry e Belfast têm sido as fortalezas da pobreza e da injustiça social. A aristocracia eletiva do Sinn Fein e do SDLP tem presidido estas condições deliberadas nas áreas republicanas da classe trabalhadora, ao mesmo tempo que se tornaram inquietantes proprietários de terras e exploradores burgueses. Tudo isso em conjunto com a implementaçom de curtes selvagens de austeridade britânica, garantindo que os cidadãos comuns da classe trabalhadora tenham mergulhado em umha vida de pobreza ou condições de vida precárias.
Mahatma Gandhi disse certa vez: “a pobreza é a pior forma de violência” e considerando os níveis de pobreza cidadãos irlandeses som forçados a suportar sob o imperialismo britânico violento, nem é de surpreender que os cidadãos irlandeses continuem a confrontar o imperialismo britânico com a luita armada. Enquanto a Grã-Bretanha compartimenta e divide a Irlanda de forma nom democrática e impõe o violento imperialismo britânico, nem deve surpreender haja umha resposta violenta. A primeira pergunta da mídia britânica, a primeira pergunta feita por aqueles consumidos do sistema britânico é a seguinte : ‘Saoradh vai-se opor à violência ?’ A nossa resposta é :’Saoradh oporá-se ao violento imperialismo britânico até o nosso último alento.’
Aqueles que apoiam o imperialismo britânico violento, aqueles que apoiam o processo de pauperizaçom, nom têm posiçom moral para criticarem um povo oprimido, lutando pola emancipaçom social e pola libertaçom nacional.
Há anos que os republicanos irlandeses dizem que Stormont foi um fracasso.Nem tinha poder verdadeiro e o seu objetivo era perpetuar o domínio britânico na Irlanda, condicionando umha geraçom a aceitar a partiçom. Quando Stormont entrou em colapso no ano passado, após o escândalo de corrupçom da RHI, fomos justificados na nossa análise.
Apesar do entusiasmo do Sinn Fein com as dimensons do seu voto na eleiçom subsequente, este nom forneceu nada, o poder real é e sempre esteve em Whitehal, e agora o DUP e os Tories governam diretamente de Westminster. Nem se deixem enganar polos votos, nem se deixem enganar pola conversa sobre as pesquisas de mudar a fronteira e os referendos, os irlandeses nom têm democracia desde as eleições gerais de 1918. O imperialismo britânico desde aquela data governou a Irlanda em umha base alternada de força militar ou coerçom.
A única mosca na sopa é a tempestade iminente que é o Brexit. O Brexit deu início ao maior período de instabilidade política e incerteza que a Grã-Bretanha testemunhou desde a segunda guerra mundial. O Brexit tem o potencial de romper o estado britânico e, como tal, oferece aos republicanos irlandeses a oportunidade de realizarmos o nosso primeiro grande objetivo : o fim da ocupaçom britânica e a reunificaçom da naçom irlandesa.
Um crescente nacionalismo inglês de direita está mostrando-se destrutivo, o anseio polos dias do Império em poucos anos desestabilizou o Estado britânico bem para além do que imaginávamos possível. Parece prestes a fender a complexa estrutura de ocupaçom intricada existente desde 1998 ; junto com a infra-estrutura inevitável de umha imensa fronteira iminente, isto irá conduzir ao povo irlandês à partiçom do nosso país, e demonstrará claramente a contínua usurpaçom da soberania irlandesa pola Grã-Bretanha. E como a história nos ensina, inevitavelmente atiça o fogo da resistência contra o domínio britânico na Irlanda.
O outro lado da moeda do Brexit é a Uniom Europeia. O estado neocolonial do sul perdeu qualquer soberania que possa ter para o superestado europeu. Sob o modelo neoliberal capitalista imposto da UE, tem havido umha imolaçom na indústria nacional e serviços públicos, água, gás, pesca, as nossas reservas emergentes de petróleo e gás, os irlandeses pagam até polo nariz enquanto multinacionais estrangeiras ganham umha fortuna, com pouco ou nenhum imposto pago ao povo irlandês. Um sistema de saúde de dous níveis trata os cidadãos irlandeses com base em sua riqueza e nom em respeito da sua saúde. A Apple, o Facebook e as empresas super-ricas pontocom devem às pessoas bilhões, mas a elite política de Gombeen diverte-se com a corrupçom quando as crianças dormem nas ruas. A UE usurpa a soberania irlandesa com tanta virulência quanto a Grã-Bretanha.
As lições da Grécia som claras, para a independência real, a Irlanda como umha república de 32 condados, teria que romper com a UE. A propriedade da Irlanda deve ser para o povo da Irlanda, nom para Londres e nom para Bruxelas. A próxima batalha na república das bananeiras é a batalha pela habitaçom pública. O diktat neoliberal coloca a moradia à mercê do mercado, dos bancos, dos fundos depredadores, dos especuladores e dos arrendatários de aluguer. Todos rezam para os cidadãos irlandeses serem obrigados a ficar de mãos dadas para a mais básica das necessidades humanas, o acobilho. Umha casa é um direito humano, um estado deve fornecer moradia pública ampla e adequada para todos.
Um representante do governo do povo da Irlanda, trabalhando para o povo da Irlanda, nom deixaria nosso povo engatinhando, enquanto ex-soldados e mercenários britânicos roubam as suas casas para obterem fundos e ganhos para abutres. A Apollo House foi a primeira luita simbólica e Saoradh trabalhou na crise dos sem-teto em Dublin desde o início, mas o pior ainda está por vir. Em toda a Irlanda estamos enfrentando uma guerra de classes, ambos os estados estám impondo pobreza e privaçom e mantendo-a com violência do Estado ; devemos ter umha clara análise de classe e resposta estratégica a esta crise humanitária.
Como um partido jovem, ainda nem há dous anos, estamos ocupados debatendo, discutindo e desenvolvendo a nossa ideologia socialista. Com o tempo, produziremos nossos principais documentos de política ideológica e, a partir dessa política, formaremos a estratégia que definirá o tom do ativismo republicano polo menos na vindoura década. Nom podo vincar demais a importância desse processo e a importância de todos e cada um de vocês estarem envolvidos na formaçom e apropriaçom desse processo.
Nem podemos daqui a vinte anos nos encontrar no beco sem saída do passado, enfrentando as mesmas situações que nos levaram aonde estamos hoje. É de vital importância, portanto, que todas as nossas ações, o nosso ativismo e nossas campanhas sejam sustentados por essa ideologia, que alimentem umha estratégia abrangente projetada para alcançar objetivos realistas de curto e longo prazo. Este é um processo de base, ao ser liderado polas bases, é penosamente vagaroso.
Nem pode haver retorno aos ditames do armário de cozinha de cima para baixo. Como estamos intensamente comprometidos neste processo, nom temos posições ou documentos sobre políticas em alguns assuntos que enfrentam a sociedade irlandesa. Nós nom debatemos e formamos políticas sobre questões como o aborto ou umha possível pesquisa verbo da fronteira. Nem temos políticas sobre muitas outras questões, devemos primeiro adotar a nossa ideologia central e, a partir dessa ideologia, o fluxo futuro de políticas e estratégias de Saoradh, democraticamente, surgirám da filiaçom partidária.
A tentativa de organizar um Partido Socialista Republicano na Irlanda nem foi fácil, nunca esperávamos que fosse. Saoradh foi forjada na opressom. Desde a nossa criaçom, temos enfrentado incursões constantes, detenções e um incessante assédio do Estado, tanto a norte como a sul. No entanto, apesar do dano que podem causar-nos, estamos aqui hoje unidos, mais determinados e com umha crescente e vibrante base ativista que se arregaça as mangas com afouteza, e com a determinaçom de ver a Revoluçom Inacabada chegar a umha conclusom bem-sucedida. Esse berro brua mais forte do que nunca. Os camaradas partem daqui hoje e avançam a luita pola liberdade, avançam nas ruas, avançam no local de trabalho, avançam nos campos, constroem Saoradh para a vitória.
Nas palavras imortais de Bobby Sands; “Todos, republicanos ou nom, têm seu papel particular a desempenhar. Nenhumha parte é muito grande ou muito pequena; ninguém é velho ou jovem demais para fazerem algumha coisa ”
Beir Bua
Tiocfaidh Ar La
Go raibh míle maith agaibh
*Discurso pronunciado em Belfast no passado mês de maio.