Por David Rodríguez /
O novo governo de Pedro Sánchez semelha mais novo do que é. Indentificam-no com estrelas emergentes do que Nancy Fraser alcumou como neoliberalismo progressista, tipo o presidente do Canadá, Justim Trudeau; mas, marketing à parte, o espírito segue a ser o de todos os governos socioliberais das últimas décadas: fincapé nalgumhas reivindicaçons culturais e ortodoxia no económico.
Se calhar, o de Sánchez é um governo ainda mais baleiro do que o eram, polo menos no plano cultural, os governos de Zapatero. Hoje, as batalhas culturais ascendérom um chanço em quanto ao seu nível de banalidade. Maxim Huerta é o home do momento. No que toca à economia política, a de Sánchez é, de jeito cada vez mais desvergonhado, um assunto de “Europa”. Se Solbes levava as rédeas do governo de ZP, hoje a ministra de economia é alguém directamente importada de Bruxelas, umha tecnocrata, umha mulher de negro: Nadia Calviño. Muito melhor, devérom pensar, que enviar cartas ameaçantes desde o BCE —coma figera Trichet com Zapatero— e que impor às bravas aos Mario Monti de turno, é metê-los previamente no gabinete.
Estes dous aspectos, a banalidade cultural e a domesticaçom económica, fam de Sánchez um candidato ideal para que os poderes do Estado espanhol tratem de recompor o regime do 78. Só precisa encaixar a Catalunha.
Ante a rigidez e o estreito margem de manobra para implementar políticas económicas nom neoliberais devido aos dogmas que imperam na zona euro, a esquerda institucional que ainda pretende dedicar-se a algo mais que ao simbólico, costuma esgrimir a política fiscal como meio de redistribuir renda. Assim o fai, por exemplo, Íñigo Errejón, quando numha entrevista recente sinalava que o seu partido devia suster e acompanhar ao governo Sánchez procurando que este poda levar a cabo algumhas reformas fiscais que lhe permitam aplicar políticas redistributivas. Nom digo que nom se poda fazer algumha reforma fiscal menor, mas vai ser como deitar umha pinga no mar. Reformas de calado, que afectem à fiscalidade do capital internacional dependem, como sinala Marko Milanovic, dumha vontade política inexistente devido à dificuldade que entranha na globalizaçom pretender pôr portas ao campo.
Esta complicaçom à hora de implementar políticas fiscais progressistas, unida à ausência dum Banco Central com capacidade de intervençom económica no mesmo sentido, som as duas grandes explicaçons disso que se chama a crise da social-democracia.
No primeiro aspecto, semelha que pouco há que fazer de momento. Se bem a guerra económica entre Trump e China e os desacordos entre Merkel e o próprio Trump, indicam que as contradiçons geradas pola globalizaçom podem ser resoltas a base de proteccionismo e choque explícito de potencias. No que toca ao segundo aspecto, a recorrida reforma do euro nom consegue franquear as reticências alemás a mudar um sistema monetário que os beneficia (lebensraum onde nom se europeizam as perdas e moeda mais débil do que corresponderia ao seu poderio económico, ideal para fomentar as suas exportaçons). A chegada de Sánchez celebra-se como a possibilidade de que se reforce a posiçom de Macron na sua pugna com Merkel, mas alguns cronistas que seguem o assunto tampouco se mostram especialmente optimistas no que tem a ver com a reforma do euro.
Entrementes, a ausência no estado espanhol dumha oposiçom que politize a questom da economia política na Eurozona fai que Sánchez se poda sentir, neste momento, como se fosse um remador num kaiak: se finca a pá na direita (velaí os nomeamentos de Borrel e Marlaska), avança e deixa atrás a Ciudadanos; se finca a pá na esquerda (velaí a decisom sobre o barco de imigrantes rejeitado em Itália), também avança e deixa atrás a Podemos.
Cabe augurar, logo, que o novo governo de Sánchez há empregar a escassíssima margem de manobra de que disponha em matéria económica para fazer políticas eleitoralistas de curto percorrido, há acenar muito no plano simbólico e há aguardar, se se mantém no governo após umhas eventuais eleiçons, a que a próxima crise da zona euro tarde o máximo possível. Nom é pouco. Se lhe sai bem a cousa, a esquerda à sua esquerda, para a que todo este marco geral semelha que nom existe, pode ficar para servir o café.