José Manuel Lopes Gomes /

Semana ilustrativa e rica em sinais sobre a conjuntura política que encetamos, para quem souber lê-los. Em pleno processo de rearme do espanholismo, que reorganiza as suas frentes extremista e moderada, várias notícias anunciam política de terra queimada para qualquer organizaçom galega que quiger manter o pulso no desafio contra o Estado.

Se a nomeaçom de José Borrell como Ministro dos Assuntos Exteriores puido analisar-se como umha chiscadela particular do PSOE ao unionismo na Catalunha, acalando assim as vozes acusatórias dos sectores mais ultra, a configuraçom do conjunto do governo nega que estivermos ante qualquer medida pontual. O papel de Grande Marlaska no Ministério de Interior levou muitas pessoas a recordar a jeira de ilegalizaçons de forças políticas e sociais bascas ; menos se levou em conta, porém, que Grande Marlaska foi um perseguidor do independentismo galego, enviando a prisom preventiva e em regime de dispersom os militantes José Manuel Sanches e Santiago Vigo em 2007 ; trata-se do mesmo juiz titular da AN que, há mais dumha década, acusava quatro activistas de NÓS-UP de queimar umha foto do monarca espanhol numha concentraçom de Causa Galiza em Vigo ; o tipo de delito de ‘injúrias à coroa’ foi desautorizado polos tribunais europeus em sentença recente, desautorizando por enéssima vez a suposta democracia espanhola no palco internacional. Como lembra em redes sociais o colectivo Galiza em rede, o juiz de origem basca permitiu-se o gesto de desprezo, contrariando a própria constituiçom que diz defender, de definir o galego como ‘dialecto’ num auto enviado aos imputados.

Solidariedade punida em Compostela.

Precisamente, ficará em maos do novo Ministro de Interior o desenho dum novo rascunho da conhecida como ‘lei mordaça’, que provocara amplo rechaço popular nas bases sociais da esquerda. Segundo todos os indícios, nom cabe esperar mudanças substanciais ; e ainda que as houver, nom afectarám o independentismo galego, que baixo governos de mui distinto signo, padece umha política de excepcionalidade, especialmente veiculada através da fórmula das sançons administrativas. Considerando apenas como válidas as declaraçons de agentes policiais (com o seu recurso habitual à mentira) e sem mediaçom de tribunais, tal modalidade permite carregar com importantes somas económicas militantes que realizam actos reivindicativos de rua.

Na prática, esta aplicaçom da lei por motivos estritamente ideológicos condena a concentraçom de pequenos grupos de pessoas a espalhar o ideário independentista na rua ; a mostra mais recente é a imposiçom dumha multa a três activistas de Ceivar por desdobrarem umha faixa a prol das presas e presos em Compostela, com o pretexto de ‘levarem o rosto tapado’. Terám que pagar umha multa de 600 euros por cabeça.

Extrema direita à solta

A novidade mais salientável dos últimos meses, produzida no ronsel do processo emancipador catalám, é a extensom do bunker franquista além dos aparelhos do Estado, onde sobreviviu e se reproduziu durante corenta anos. A extrema direita volta à rua, com grupos organizados na Catalunha, e com umha actividade inaudita na Galiza na hora de censurar propaganda arredista da rua.

É neste contexto que temos que analisar a denúncia apresentada no julgado de Betanços contra dezanove militantes do BNG por parte da Fundaçom Francisco Franco. A entidade ultra, mantida com recursos públicos, acusa os nacionalistas de ‘violaçom de morada’, ‘delito contra o honor’, ‘danos’, e ‘delito de ódio’ (tipo penal que persegue o protesto político motivado por ideias de esquerdas e independentistas). A causa da denúncia é a acçom realizada polo BNG no verao passado, em exigência do retorno do Paço de Meirás ao povo galego.

Prosperar ou nom esta iniciativa repressiva, é umha mostra mui clarificadora dumha nova atitude da extrema direita espanhola, em beligeráncia crescente, e decidida a recuperar as ruas e monopolizar o espaço público.